O dia da inauguração não foi escolhido ao acaso. A 11 de novembro de 2011 nascia a Pensão Amor, um marco moderno da noite no Cais do Sodré. Dez anos depois, os proprietários voltam a iluminar o bairro lisboeta. Chama-se Museu Erótico de Lisboa e troca as obras de arte pelos sentimentos e sensações. Elas lá estão também, obviamente, a começar pelas pequenas peças de gesso expostas à entrada. É aí que começa a experiência.
“É a concretização do MEL, uma brincadeira a puxar o museu para os sentimentos”, explica Joana Gomes, da MainSide, a empresa por trás do projeto. Feitas pelo artesão João Cruz Malheiro, são vendidas aos visitantes por 2,5€ e podem ter dois fins: pode levá-las para casa para colocar na estante; ou pode (e deve) esmagá-las no local e ler a mensagem inscrita no interior.
Cada peça tem um tema relacionado com o amor, da busca, à motivação, ao desejo. “Funciona como o início da noite, revela-nos o que nos reserva a noite, o que virá aí, antes de entrarmos no espaço primordial.”
Joana Gomes acrescenta: “As obras de arte foram pintadas nas paredes pelo artista plástico Diogo Muñoz e inspiradas nas fotografias arriscadas de Jeff Koons e Cicciolina. Os murais remetem para algo mais pop, é mais 90’s do que a Pensão Amor. Aqui vamos buscar mais o erotismo do Cais do Sodré nessa época, antes da rua Rosa, mas uma memória mais recente”.
Na verdade, o nome Museu Erótico de Lisboa era para ser uma espécie de anexo à Pensão Amor, um projeto que iria ser um museu interativo com alojamento. “Nunca chegou a acontecer, mas ficámos com o nome em stand-by”, explica.

O momento de tirar a ideia da gaveta chegou quando a empresa reabilitou o edifício e o antigo espaço do Sabotage, hoje casa do MEL. Entre propostas, fez sentido fazer regressar o tal Museu Erótico. Ficou feito o batismo.
Mais difícil foi categorizar o MEL. “Temos que o fazer, até mesmo nas redes sociais, mas é muito difícil”, tenta responder. “Somos um bar, óbvio, mas somos muito mais do que isso.”
Tem cocktails, pode dançar-se, é um bar claro. Mas também tem comida, embora estejam vedados os talheres. Toda a carta assenta na finger food, um pedido expresso dos proprietários ao chef David Joudar.
“O menu tinha que ser comido com as mãos, até porque tudo o que é feito com as mãos incentiva o tato e torna as coisas muito mais sensuais. Tem tudo a ver com o espaço”, diz Joana. Nem todas serão assim tão fáceis de comer sem se sujar um pouco — e vai daí, talvez seja esse o objetivo.
Pode optar entre nove petiscos, de ostras com espuma de yuzu e quitaba (4€) a choco frito com chocolate e malagueta (7,5€) ou a um bacalhau na brasa com pil pil e pimentos assados (10,5€). Nos doces há três opções: leite creme de foie gras e yuzu (5,5€), corneto de maracujá e chocolate branco (4,5€) ou fondant de chocolate com malagueta e flor de sal (4€).
O espaço com perto de 200 metros quadrados tem um pé direito duplo e pendurado na enorme abóbada estão cadeiras suspensas. Sem palco, será este o local privilegiado para os espetáculos que o MEL irá receber de forma espontânea, sem agenda. Serão sempre gratuitos, até para surpreender quem lá vai.
“Pode ser uma pessoa a fazer uma dança, alguém a cantar, a ler. Não os queremos anunciar. Queremos manter essa curiosidade.”
No piso superior há ainda um recanto escondido, uma sala privada para grupos com um máximo de 16 pessoas. Mas não se preocupe: tem uma janela para não perder um segundo de cada um dos espetáculos.
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