Durante o dia, no número 62 da rua Alexandre Braga, aparam-se barbas e fazem-se cortes de cabelo. Ao final do dia, as luzes suavizam e as tesouras dão lugar aos cocktails e aos encontros de amigos que gostam de jogar bilhar. Não é nenhuma confusão: é o novo bar da cidade, o Bigorna Social Club, que abriu a 16 de novembro.
Após uma viagem à Holanda, Nuno Silva, de 38 anos, regressou a Portugal com uma ideia: dar uma nova roupagem à barbearia clássica. “Trabalhei toda a minha vida em restauração e, antes de dar este passo, estava como rececionista numa loja de bicicletas, mas em 2012 senti necessidade de mudar de vida, fazer algo diferente, que dependesse apenas de mim e das minhas mãos”, conta o dono da Bigorna, aberta desde 2014, à NiT.
Voltou a estudar, desta vez com a vontade de tornar-se barbeiro e ter o seu próprio espaço. Encontrou o local ideal ao lado do Mercado do Bolhão onde inicialmente criou um pequeno bar de apoio para os clientes. O potencial começou a revelar-se e ultrapassada a pandemia, começou a desenhar o que poderia fazer “nos bastidores da barbearia”. “Queria expandir e criar algo diferente, mas também sabia que tinha de ser algo pensado e ponderado. Este ano foi a altura certa para avançar e criar um speakeasy, nas traseiras da barbearia onde podem provar cocktails de autor”, refere.
Nuno inspirou-se nos bares secretos que surgiram durante a década de 20, quando vigorava a Lei Seca nos EUA. Os speakeasy, como eram conhecidos, tentavam contornar a legislação instituída nos Estados Unidos entre 1920 e 1933, que proibia a produção, venda e transporte de bebidas alcoólicas. Frequentemente, eram espaços subterrâneos, ou nas traseiras de alguns serviços como lavandarias e sempre longe da vigilância das autoridades.
Para chegar ao Bigorna Social Club é necessário atravessar a barbearia e percorrer um longo corredor, onde, ao fundo, se avistam os néons, a mesa de bilhar e o bar. Ao final do dia, quando as tesouras são pousadas, é ali que clientes e amigos gostam de se juntar para provar um dos sete cocktails de autoria de Lia Igreja, que misturam “os clássicos com twist modernos”.
Na lista encontra propostas como o Black Spin (10€), pensando em homenagem ao bilhar. “Leva whisky e café e o copo é revestido em cera de abelha”, explica o dono. Outro dos destaques é o Pompadour (10€), um nome inspirado num corte de cabelo e que exibe notas de madeira, alperce e cera de abelha. Para os fãs de Negroni (10€), a reinterpretação do clássico é servido com uma original névoa.
Os vinhos naturais Nat Cool, da Niepoort, são outros dos protagonistas deste bar e surgiram “para descomplicar a ideia de que precisa de se entender do assunto para apreciar”. Há ainda cervejas artesanais da Musa e cidras. Em breve vão adicionar petiscos como conservas e azeitonas recheadas para ajudar “a digerir a bebida”.
Quando as luzes baixam, pelas 20 horas, é altura de pedir uma bebida e jogar bilhar. A mesa é uma das peças principais do bar que foi pensado com uma decoração industrial e um toque vintage conseguido pelos detalhes como os candeeiros e os bancos ou sofás. “Adoro o estilo da época pré-revolução e desenhamos o espaço à semelhança dos que havia na altura. Temos tijolos de fábrica pintados a preto, pormenores em ferro para um estilo muito industrial.”
Às sextas e sábados o ambiente fica mais animado com a presença de um DJ, que ocupa a cabine instalado num dos cantos da sala. O espaço tem capacidade para 30 clientes, espalhados pelos bancos que servem de apoio ao bar, sofás e outras zonas de estar.