O grande terramoto de 1755 mudou a face da cidade de Lisboa. Ruas e praças foram completamente arrasadas, para na reconstrução ganharem novas formas, novos sítios e novos nomes. Quando três amigos decidiram implementar o seu bar de sonho na Praça das Flores, mergulharam na história para o batizar de Cotovia, o antigo nome do espaço no largo lisboeta. Com a ajuda dos vizinhos, que lá vivem há muitos anos, e de muita pesquisa, conseguiram chegar a documentos da Junta de Freguesia que comprovavam que a praça já teve o nome do pássaro.
Aberto desde 4 de setembro, pertence a um grupo de amigos composto por Manuel Sant’Ana, Tiago Costa e Miguel Oliveira. O projeto começou a ser pensado como uma brincadeira, há mais de 10 anos, numa altura em que os três se conheceram no Jardim das Amoreiras.
“Na altura em que falávamos sobre abrir um espaço éramos miúdos, por isso sempre achei que se pudesse acontecer ainda iria demorar. Mas este ano o Manel voltou de Inglaterra e eu da Austrália e percebemos que talvez fosse o momento”, conta à NiT Miguel Oliveira, um dos sócios.
Enquanto Miguel decidiu tirar um ano para trabalhar e viajar pela Austrália e regressou no início de 2024, Manuel Sant’Ana passou os últimos cinco anos em Warrington, Inglaterra. Foi por lá que enveredou pela área da restauração, no bar Bold Street House. Começou como bartender e depois esteve três anos a gerir o espaço. O terceiro sócio, Tiago Costa, ficou por Lisboa e abriu o restaurante Comer para Crer, nas Laranjeiras. Os anos que passaram concentrados noutros projetos não os demoveu da ideia de miúdos. Com o regresso a Portugal, Manel desafiou os amigos e um par de meses depois já estavam todos alinhados.
Ansiosos por completar o sonho, visitaram vários locais até encontrarem “o tal” na Praça das Flores. Os três meses seguintes foram passados a remodelar toda a estrutura. “Quisemos fazer tudo sozinhos, apenas com o apoio nas coisas estruturais, porque quando somos nós a pôr as mãos na massa é ainda mais especial. Arrancamos uma carpete da parede e deixámo-la com um ar muito rústico”, refere o proprietário.
A 4 de setembro abriram portas ao conceito que é “um cocktail bar com bebidas de autor e vinhos naturais”, todos de “pequenos produtores nacionais”. “Queríamos que tudo isso fosse servido num local acolhedor, moderno e descontraído.”
As bebidas criadas por Manuel Sant’Ana são cinco e receberam o nome de espécies de cotovias. “A lista é propositadamente curta. Também fazemos os restantes cocktails, mais clássicos, mas queremos que estes tenham destaque.”
No topo da carta encontra-se o Galerida (11,50€), uma mistura de gin, flor de sabugueiro, lavanda, manjericão, lima. Logo a seguir vemos os restantes pássaros: botha’s (11,50€), cape clapper (12€), scalter’s (12,50€) e dusky red (13€). O segundo mistura vodka e café, enquanto o terceiro é feito à base de tequila e damasco e os dois últimos levam rum e bourbon.
“Por mês há sempre um especial e estamos a preparar outros cocktails, mas esses já não terão o nome de cotovias”, refere Miguel Oliveira. “Desde que aqui estamos que percebemos que a vizinhança faz parte do ambiente deste largo e temos conversado muito com as pessoas mais idosas. Em homenagem a elas que também gosto de cá passar e provar um copo de vinho, vamos dar os seus nomes às bebidas”.
O cocktail de novembro chama-se apple bong (12€) e é uma mistura de mezcal, flor de sabugueiro, limão e cidra de maçã. Quem quiser provar algumas das referências de vinhos naturais, poderá escolher entre o Palmirinha Loureiro Verde (34€), o Safado Branco (42€), ou um Salta Muros Tinto (36€).
O Cotovia tem espaço para 36 clientes, espalhados pelos sofás e pelos bancos altos que servem o balcão. O bar está decorado para ser uma mistura de um industrial, com ar de fábrica, mas clean, com os tons brancos a ressaltarem por todo o lado.