As máquinas estavam no local para dar continuidade aos trabalhos de demolição quando os operários receberam a inesperada notícia: a destruição do icónico bar do Fôjo, situado em Fão (Esposende), deveria ser interrompida de imediato. A ordem provinha do Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Braga, que acatou a providência cautelar apresentada pelos familiares do malogrado Sérgio Cardoso, o antigo proprietário, na passada quinta-feira, a 5 de setembro.
Sérgio Cardoso, também conhecido pelos apelidos de “pirata”, “lambreta”, “pescador”, “capitão” e como Sérgio do Fôjo, tornou-se uma figura emblemática em Fão, no concelho de Esposende. Em 1974, construiu com as próprias mãos aquele que se tornaria num dos bares mais conhecidos da região. Volvidos 50 anos e após a morte do proprietário em 2019, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) entrou com uma ação para a demolição do bar. O espaço estava encerrado desde a morte de Cardoso.
Em abril, a APA anunciou a sua decisão de “proceder à demolição da construção localizada na margem esquerda do rio Cávado, a cerca de 50 metros a jusante da ponte rodoviária de Fão”, alegando práticas de “ocupação abusiva de uma parcela do domínio público hídrico”. O organismo considerou “urgente a remoção daquela construção ilegal e a reposição da situação anterior à ocupação sem título”.
Os trabalhos de demolição tiveram início a 2 de setembro, com a intenção de eliminar o espaço. Contudo, a 9 de setembro, o TAF de Braga proibiu a Câmara de Esposende e a APA de procederem à destruição. O fundamento foram as “ilegalidades detetadas pelos herdeiros de Sérgio Cardoso”, que solicitaram uma providência cautelar, a qual foi imediatamente reconhecida.
Já em 2015, Sérgio Cardoso tinha recebido uma ordem semelhante, quando o bar ainda estava em funcionamento. Naquela altura, a comunidade local mobilizou-se, conseguindo adiar o processo.
Apesar de estar encerrado desde 2019, o desfecho previsto para o Fôjo era outro. Após a pandemia, Betânia Cardoso, uma das filhas do “pirata”, revelou que o presidente da Câmara lhe tinha prometido um novo destino para o bar. “Participei em várias reuniões e informaram-me que iriam criar uma maqueta para a construção de uma espécie de museu”, confidenciou ao “Público”. Contudo, este ano, Betânia ficou surpresa ao ver, no site da autarquia, um edital que anunciava a demolição do bar para permitir a “construção de um passadiço”.