A loja só abria às dez da manhã, mas alguns minutos antes, a fila já se começa a formar à porta do número 9 da Avenida João XXI, em Lisboa, naquele 5 de novembro de 2010. Foram mais de 40 as pessoas que se juntaram, na altura sem máscaras e sem grandes preocupações com a distância social, para serem as primeiras a entrar numa Padaria Portuguesa e provar aquele que viria a tornar-se o produto estrela da casa, o pão de Deus.
Foi no Areeiro que arrancou o império d’A Padaria Portuguesa há dez anos. Uma década depois, a marca tem 62 lojas na Grande Lisboa, incluindo uma na Margem Sul, em Almada. Renovou o espírito das antigas padarias e começou por criar uma moda na cidade com o menu de pequeno-almoço a preço económico.
Por 2,50€ tinha direito a um sumo de laranja natural, sandes num dos vários tipos de pão, e ainda a um café no final. Durante muitos anos, foi esse o preço do menu. Uma década depois está nos 2,99€, mas com uma oferta muito maior, em que é possível juntar ovos mexidos, e até o pão de Deus, simples ou misto, entra para as contas, o que durante muito tempo não foi possível.

O pão de Deus foi outro dos casos de sucesso da marca. Na altura custava 1€. Desde o primeiro dia no Areeiro que é o produto mais procurado n’A Padaria Portuguesa. Os 15 funcionários que estavam na loja na inauguração em 2010 perderam a conta às dezenas de sacos que encheram com o doce, a que muitos gostam de juntar fiambre e queijo.
Nem mesmo a partilha da receita por parte da marca este verão fez baixar a procura. Em 2020 apareceu outra novidade, com a possibilidade de o encomendar para casa através das plataformas de delivery Uber Eats e Glovo, tal como outros produtos da padaria.
Nos dois primeiros anos do projeto, A Padaria Portuguesa abriu dez lojas em Lisboa, sempre em bairros típicos da cidade. Esse foi o objetivo. Logo após a estreia no Areeiro, a marca abriu um espaço em Vila Franca de Xira, em dezembro de 2010. Acabou por fechar, mas serviu para testar produtos e melhorar toda a oferta.
As lojas de Campo de Ourique, Avenida Elias Garcia, Pascoal de Melo e Duque d’Ávila vieram logo a seguir e ainda se mantêm a funcionar passados estes anos. No espaço do Areeiro, pouca coisa mudou.
Em 2010 o balcão de atendimento era em “L” e a meio do espaço havia mesas altas para quem só queria beber um café (e pedir um pão de Deus, vá). O chão em azulejos de tons laranjas, creme e castanhos, a bicicleta à porta, os vários pães na vitrine virada para a rua e o avental laranja dos colaboradores que se viu no Areeiro, serviu de inspiração para as mais de 60 que dali se seguiram.

Há poucas padarias que não seguem este modelo criado há dez anos, e que sofreu pequenas adaptações durante este tempo. É o caso do espaço do Príncipe Real, a loja assinada por Joana Astolfi; e o LAB, na Avenida da República, que funciona como um laboratório para novas criações. Também a da Duque d’Ávila, que foi renovada há pouco tempo, apresenta algumas diferenças.
O projeto da Padaria Portuguesa arrancou com uma fábrica em Samora Correia, em 2010. Na primeira loja do Areeiro, tal como veio a acontecer nas restantes, foram instalados fornos, tudo para que parte dos produtos pudessem ser finalizados mesmo em frente dos clientes, como é o caso de alguns dos pães.
A expansão do negócio levou à abertura de uma nova fábrica em Loures, em 2012. Mas já desde 2017 que tudo está concentrado na fábrica de Marvila, com mais de 90 trabalhadores a estarem divididos entre as áreas de padaria, pastelaria e administração. São três mil metros quadrados onde tudo sai diariamente para as 62 lojas da marca.
Poucos diriam que aquela pequena loja do Areeiro se viria a tornar num dos maiores casos de sucesso na última década na cidade. A abertura de novas lojas pode ter diminuído nos últimos anos, mas a verdade é que A Padaria Portuguesa continua sempre a reinventar-se com novos produtos e opções que levam os clientes a procurar os vários espaços na cidade.
