Tudo parecia calmo durante o dia. Os clientes dos bares mantinham-se à distância correta, não passavam para lá da linha adesiva que marcava o limite de aproximação ao balcão, cumpriam. À medida que a noite se aproximava e a bebida fluía, a operação desmoronou.
Ao fim da noite, já ninguém reparava na fita adesiva e pediam-se bebidas empoleirados ao balcão. Davam se abraços na casa de banho, gritava-se, cantava-se. No que toca à experiência científica, o resultado foi esclarecedor: reabrir os bares sob medidas de higiene restritas, devido à pandemia, é um erro.
O estudo teve lugar na Escócia, durante o verão, e foi publicado esta segunda-feira, 15 de fevereiro, no “Journal of Studies on Alcohol and Drugs”. Terminado o primeiro confinamento, as autoridades voltaram a autorizar a reabertura de bares em julho, sob regras estritas de convivência e segurança.
A esperança residia no cumprimento de uma série de comportamentos por parte dos clientes. E eles efetivamente cumpriram, exceto quando o álcool se juntava à equação.
Nos 29 espaços analisados pelos investigadores, observaram-se vários cenários de incumprimento, sobretudo por parte de clientes já sob o efeito do álcool.
As falhas foram muitas: de funcionários que baixavam as máscaras para se fazerem ouvir; a aglomerações em locais mais estreitos como as casas de banho ou corredores; à linha limite de afastamento do balcão, tantas vezes ignorada pelos clientes. “A maioria nem sequer dava conta que a fita adesiva estava lá”, revela o estudo.
A maioria delas acontecia precisamente durante a noite, quando grande parte dos clientes bebia álcool. O consumo — que segundo os peritos tende a influenciar a audição, visão e capacidade de avaliar os próprios comportamentos de quem bebe — deu origem a diversas situações de risco. Clientes saltavam de mesa em mesa, gritavam, cantavam, confraternizavam com estranhos, enfim, tudo o que veríamos num bar pré-pandemia.
“Duas mulheres de grupos diferentes cruzaram-se junto à casa de banho, gritaram, abraçaram-se e saltaram juntas. Depois entraram juntas e enfiaram-se num cubículo. Quando saíram, lavaram as mãos durante cerca de dois segundos, quando o recomendado são pelo menos 20 segundos”, descreve o estudo.
Não existem soluções ideais para evitar interações sociais em espaços que foram desenhados para promover isso mesmo: o contacto com amigos e com estranhos num ambiente descontraído. Há até registos de um surto de grandes dimensões em agosto, ligado a mais de 20 bares e restaurantes da cidade escocesa de Aberdeen.
“Neste momento, resta-nos perceber se as taxas de contágio são suficientemente baixas para tolerarmos este nível de risco e estarmos seguros de que se houver transmissão, seremos capazes de a rastrear e evitar que se torne um problema maior”, explica à “CNN” Niamg Fitzgerald, professora e autora do estudo, que avança outra solução: evitar que os donos do bares não tenham outra alternativa que não seja abrir.
“Creio que os governos devem pensar nos apoios dados a estes negócios, de forma a que não se sintam obrigados a abrir se perceberem que não poderão garantir uma operação em segurança.”