Maria da Conceição da Costa António, empresária da noite mais conhecida por Kikas, é arguida num processo por suspeitas de crimes de lenocínio e branqueamento de capitais, avança o “Público”. A empresária é um das figuras mais conhecidas de Vale de Santarém, graças à casa de alterne La Siesta, da qual era mentora e proprietária por meio de uma sociedade unipessoal.
Criada há 17 anos, a unipessoal Maria da Conceição da Costa António Lda. é outra dos quatro arguidos no processo, segundo informação adiantada ao jornal por uma fonte do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). “Na sequência do cumprimento de vários mandados de busca não domiciliários”, no dia 19 de novembro do ano passado, foram constituídos quatro arguidos (duas empresas e duas pessoas). “O processo já foi remetido ao Ministério Público com relatório final, cabendo ao magistrado titular dos autos decidir se elabora acusações ou se arquiva o processo.”
Além de Kikas, que ainda era proprietária do bar La Siesta na altura (mas que, entretanto, anunciou a reforma), foram investigados João Pedro Paulos, o sócio da fundadora do bar de alterne, e as sociedades Palkensaio e Maria da Conceição da Costa António Unipessoal Lda.
O SEF apreendeu mais de 60 mil euros que acreditavam terem vindo de serviços de “exploração sexual”. “A atividade criminosa possibilitou, ao longo de dezenas de anos, que a arguida auferisse avultados lucros indevidos com a exploração sexual de mulheres estrangeiras, cuja atividade de cariz sexual indicia ocorrências de tráfico de pessoas”, aponta a entidade.
Igualmente conhecido como “bar da Kikas”, o La Siesta é um dos bares de alterne mais conhecidos da região de Santarém — e do País. Na verdade, já recebeu três distinções do Turismo de Portugal. Ainda em junho deste ano ganhou o prémio de PME Líder na categoria “Estabelecimentos de bebidas com espaço de dança”. Esta espécie de troféu é “um selo de reputação de empresas, para distinguir o mérito” de pequenos e médios negócios nacionais “com desempenhos superiores” aos habituais.
Além do prestígio, esta distinção acarreta vários outros benefícios, “como o acesso a produtos financeiros e a uma rede de serviços, a facilitação da relação com a banca e um certificado de qualidade para as empresas na sua relação com o mercado”. Ainda não foi anunciado se, após as acusações, o La Siesta vai perder estas distinções.
Segundo o “Público”, em 2022 a Maria da Conceição da Costa António Unipessoal Lda apresentou lucros que superavam os 800 mil euros, um valor recorde para a empresária. Em 2021, declarou um volume de negócios de cerca de 359 mil euros e, em 2020, de 231 mil. Pré-pandemia, registava valores de 596 mil, em 2019, e 447 mil, no ano anterior.
O adeus da Kikas
A 16 de agosto, Maria da Conceição da Costa António, de 64 anos, anunciou que se iria reforma, após mais de duas décadas à frente do Bar La Siesta, um espaço que oferece “diversão sem limites, sedução, muita fantasia, sensuais espetáculos de strip e despedidas de solteiro”, lê-se no site do estabelecimento. Porém, a saída da empresária não significa o fim do espaço de diversão noturna em Vale de Santarém: o bar foi vendido a empresários espanhóis, adiantou Kikas.
Kikas justificou a decisão com o “cansaço e por estar a ser cada vez mais difícil trabalhar na noite”, revelou, na altura, ao jornal local “O Mirante”. “Quero viver com a família”, sublinhou Maria da Conceição.
Inaugurado por volta de 2002, o La Siesta só fecha aos domingos — funcionando todos os outros dias, incluindo feriados como o dia de Natal e Passagem de Ano.
“Encerrei um capítulo longo onde criei, inovei, lutei muito, derrubei muitas barreiras e muitos preconceitos e ergui muitos conceitos inovadores na época que acredito que serão intemporais e perpetuar-se-ão nas memórias de quem as vivenciou pelo menos uma vez na vida. Criámos memórias em Portugal e no mundo, colocando o nome do La Siesta (A Kikas) nos mais altos níveis reputacionais. Essa reputação só se criou com muito rigor, inovação, bom atendimento ao cliente e sobretudo devido ao respeito mútuo que era uma obrigação intransigente nas normas da casa”, escreveu numa publicação do Facebook.
Aproveitou a ocasião para agradecer aos habitantes do Vale de Santarém, especialmente àqueles que vivem à volta do La Siesta, por toda a cooperação, compreensão e respeito ao longo dos anos.
“Encerro, assim, este ciclo, na certeza de que dei sempre o máximo de mim, o melhor que tinha e fui o mais longe que a vida me permitiu. Marquei vidas, ajudei o próximo, aprendi, ensinei, ri, chorei. Enfim, acima de tudo vivi. Vivi muito este projeto que tanta saudade me vai deixar. Um beijinho enorme da amiga, da parceira, da empresária, da tia, da mãe. Da singular Kikas”, conclui.
Carregue na galeria e veja algumas fotografias do bar da Kikas. Atenção: estas imagens não devem ser vistas no trabalho (nem na presença de menores).
