O primeiro dia do ano para Anna Novytska começava quase sempre com uma fatia generosa de Napoleão. O bolo, muito comum em Kiev durante a quadra natalícia, ficava guardado no quarto da jovem com agora 28 anos, por falta de espaço no frigorífico.
Os primeiros momentos do dia 1 de janeiro eram passados a saborear, em segredo, o bolo que aprendeu a fazer com a avó. Quando abriu a MABU a 29 de novembro em Lisboa, o primeiro doce a entrar na vitrine foi também o Napoelão. Mas já lá vamos.
Anna Novytska veio a primeira vez a Portugal há seis anos porque queria ver o oceano pela primeira vez. “Na Ucrânia temos mar, mas não temos a imensidão do Atlântico e eu queria ter essa experiência. Escolhi um país seguro e com sol para fazer essa minha viagem a solo. Foi mágico”, conta a ucraniana à NiT.
Nunca pensou que no mês que passou a conhecer o nosso País se fosse apaixonar. Conheceu o agora namorado e quando teve de regressar a casa, ele foi com ela para conhecer a família, a cultura e a cidade onde Anna vivia. Durante o tempo que lá passaram perceberam que não queriam viver separados — e a marketeer mudou-se definitivamente para Lisboa.
Assim que aterrou na capital, percebeu que tinha espaço para começar de novo e fazer algo diferente. Conheceu a palavra calma, o sol e o calor e ficou, mais uma vez, rendida à cidade que a acolheu. “Na Ucrânia não sabia parar. Parecia que tinha sempre de estar a fazer alguma coisa, de um lado para o outro. Aqui não. Aqui percebi que as palavras calma e tranquilidade podiam fazer parte da rotina e que até podia fazer que adorava, como bolos”, revela.
Por altura do Natal as famílias ucranianas juntam-se para cozinhar para seis dias de festa, três no Natal e três na passagem de ano. O primeiro é passado à mesa a comer bolos, o segundo saladas e o terceiro pratos quentes. A função de Anna era ajudar a avó com os doces, nomeadamente a fazer um napoleão, uma sobremesa com massa folhada intercalada com creme de pasteleiro.
“Era um dos meus momentos favoritos. Aliás, como tínhamos o frigorífico sempre tão cheio, o bolo ficava no meu quarto e assim que acordava na passagem de ano tinha um ritual próprio que passava por saborear o doce estaladiço”, partilha.
Em Lisboa voltou a preparar doces ucranianos, primeiro para o namorado ficar a conhecer, depois os amigos. Mas quando se apercebeu tinha várias encomendas de amigos de amigos e de conhecidos para bolos de aniversário e casamento, decidiu investir numa formação de pastelaria em escolas ucranianas — e quando chegou a pandemia nunca mais parou. O negócio disparou e este ano deu o passo seguinte: abrir uma boutique para vender bolos mais pequenos, receber encomendas e clientes que querem conhecer o processo de confeção.
A MABU, que tem as duas iniciais dos animais de Anna — a gata Maia e o cão Buba —, foi pensado para ser “um paraíso dos doces”. O espaço de metros quadrados foi decorado em tons de rosa, branco e um toque de azul para que todos se sintam num “espaço criativo e doce”. A vitrine está sempre completa com as sobremesas que a ucraniana quer dar a conhecer aos lisboetas. Há sempre mini napoleões, bolo de mel (que é também tradicional na Ucrânia) e o Kyiv Cake, feito com base de merengue, pedaços de avelãs e recheado com butter cream. À lista de tradições juntou ainda uma pavlova com frutos vermelhos por cima e uns moussecakes. As sobremesas são pensadas para take-away e têm um preço único de 5€.
Os bolos maiores, sejam para aniversários ou casamentos têm de ser pedidos por encomenda. Anna gosta de reunir com os clientes para perceber as inspirações que tipo de recheio gostam. Este género de produtos é vendido por 30€ por quilograma, sendo que cada um tem sempre por volta de 2 quilogramas e serve um média de 13 pessoas.
