Alberto Sérgio Cardoso de Sousa, mais conhecido como o pirata, lambreta, pescador, capitão e Sérgio do Fôjo, foi uma figura icónica em Fão, no concelho de Esposende. Em 1974, construiu com as próprias mãos aquele que se tornaria um dos bares mais emblemáticos da região. Agora, decorridos 50 anos, a sua família assiste, com tristeza e sem poder fazer nada, à demolição do mítico Bar do Fôjo.
A destruição do estabelecimento começou na segunda-feira, 2 de setembro, após uma decisão da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Em abril, a APA anunciou a intenção de “proceder à demolição da construção situada na margem esquerda do rio Cávado, a cerca de 50 metros a jusante da ponte rodoviária de Fão”, devido a uma “ocupação abusiva de uma parcela do domínio público hídrico”.
O organismo considerou “urgente a demolição daquela construção ilegal e a reposição da situação anterior à ocupação sem título”. Após o falecimento de Sérgio do Fôjo, em março de 2019, o espaço fechou temporariamente e, devido à pandemia, nunca chegou a reabrir.
“O referido bar encontra-se encerrado há bastante tempo, em completo estado de abandono. Durante uma inspeção ao local, constatou-se a presença de diversos resíduos no seu interior, nomeadamente materiais contendo amianto (telhas de fibrocimento), além de construções com evidentes sinais de risco de derrocada, o que constitui um foco de insalubridade, prejudicando a saúde e segurança pública”, lê-se no edital da APA.
Em 2015, o proprietário já tinha recebido uma ordem semelhante, quando o bar ainda funcionava. Na altura, a comunidade local uniu-se para protestar, conseguindo adiar o processo. No entanto, desta vez, a demolição avançou, mesmo contra a vontade da família do fundador.
Os filhos de Sérgio, Mónica, Betânia e Sérgio Cardoso, observam, impotentes, o avanço das máquinas, que está a ser monitorizado pela GNR. A família revelou ao “Público” que pretende apresentar uma queixa-crime, uma vez que a demolição está a ocorrer sem que a defesa apresentada pelos herdeiros tenha sido devidamente apreciada.
Nas redes sociais, os familiares de Sérgio do Fôjo expressaram o seu descontentamento face à destruição do espaço. “Que autoridade tem Benjamin Pereira [presidente da Câmara Municipal de Esposende] para ordenar a uma empresa que, em seu nome e da Câmara Municipal, cometa o furto do denominado Bar do Fôjo, localizado na margem esquerda do rio Cávado, em Fão? Que provas foram apresentadas sobre a legalidade ou a ilegalidade do Fôjo? O arquiteto Benjamin Pereira também se tornou juiz? Roubou-nos. Furtou-nos as mós e as pedras à entrada do Fôjo, com que autoridade? Cortou-nos as árvores, a mando de quem?” criticam.
No final da publicação, recordam uma frase que o pai costumava dizer: “Passais o tempo a querer possuir a terra, mas é a terra que vos vai possuir”. Após a pandemia, Betânia afirmou que o presidente da Câmara lhe prometeu outro destino para o Fôjo. “Participei em algumas reuniões e informaram-me que iriam preparar uma maqueta para a construção de uma espécie de museu”, revelou ao “Público”. A filha estava disposta a ceder o espólio do pai, mas este ano ficou surpreendida ao descobrir no site da autarquia um edital que anunciava a demolição do bar para permitir a “construção de um passadiço”.