Em 1955, já o bisavô e trisavó de Abbie Gill reconheciam o potencial dos vinhos portugueses. Tanto que importaram vários de vinhos de mesa e do Porto e organizaram uma prova na loja da família, a C.C. PATTISON & CO. Seis décadas depois, a londrina decidiu seguir-lhe as pisadas e abrir um wine bar, desta feita no centro de Lisboa. Um espaço dedicado aos vinhos naturais e de pouca intervenção. O Nata abriu a 13 de fevereiro nos Anjos.
Abbie Gill, 29 anos, deixou Londres há quatro anos para gerir as operações de uma start-up em Lisboa. Durante meses dividiu as semanas entre a capital portuguesa e a inglesa, até que percebeu que a sua vida fazia mais sentido em Portugal e não em Inglaterra. Há dois anos oficializou a mudança e desistiu o emprego para se dedicar, como freelancer, ao design de interiores. No entanto, o grande sonho era outro.
“A minha família sempre trabalhou na área da restauração. A minha tia tem uma pequena pastelaria em Londres e o meus bisavô e trisavô tinham uma garrafeira em Liverpool para a qual importam vinhos portugueses, desde a Segunda Guerra Mundial. A relação com Portugal foi algo com que cresci, por isso queria criar algo dentro do mesmo ramo”, conta à NiT.
A oportunidade surgiu ainda em 2023, quando encontrou um espaço amplo nos Anjos. Assim que viu a loja, percebeu que ali havia potencial para criar um bar onde os clientes pudessem ler um livro, conversar ou até dançar, acompanhados de bons vinhos. Desenhou todo o projeto e estava otimista que dentro de meses iria fazer a inauguração. Mas a estrutura centenária traiu-a e teve de fazer obras mais profundas na parte elétrica. Só em fevereiro é que viu tudo finalizado para acolher as referências que tinha escolhido ao longo dos últimos meses.

O nome do espaço surgiu naturalmente, assim que a proprietária ouviu a explicação do namorado brasileiro para a “nata da sociedade”. “Adorei a expressão e a forma como pode ser traduzida para o círculo de amigos com quem te rodeias. Queremos que o Nata seja ponto de encontro de amigos, de famílias, diferentes grupos”, adianta.
E como as boas conversas e encontros vivem bem acompanhadas de bom vinho, têm mais de 50 referências, 60 por cento são portuguesas — embora também tenham rótulos de Espanha, Hungria e Itália, que a própria Abbie selecionou para servir semanalmente a copo.
“Normalmente temos entre 10 e 12 rótulos à prova e colocamos os preços dos copos (que variam entre os 4,50€ e os 8€) nas garrafas e antes de servirmos os clientes oferecemos uma pequena prova para que possam estar seguros da escolha. Somos transparentes com a nossa seleção e preços. Essa era uma das características pelas quais queríamos ser conhecidos”, admite.
Quem entra no wine bar, com capacidade para 40 pessoas e decorado por Abbie para ser a extensão da sua sala de estar, pode ficar a sensação que está numa biblioteca particular. As prateleiras e balcões estão forrados a livros relacionados com vinhos. “Estudos mostram que os conceitos dos vinhos mudam consoante os produtores. Por isso queremos dar a conhecer a história de cada profissional de quem temos referências e temos obras sobre enologia, o mundo dos vinhos, castas, tudo”, refere.
Para já, têm uma pequena lista de acompanhamentos para os vinhos que ali servem. Há foccacias, azeitonas e picles. Em breve querem incluir queijos e charcutaria portuguesa.
