Encontrar medronho no menu de um bar em Lisboa pode ser uma tarefa complicada. Apesar de ser uma bebida nacional, poucos são os espaços que o trabalham. Porém, a história é outra no novo bar da Avenida da Liberdade. Tanto é assim que a cafetaria do Cinema São Jorge passou a ser CaféCinema São Jorge – A Medronharia desde o final de maio. O destilado é usado para os vários cocktails, em alguns pratos e até no álcool-gel com que os clientes podem desinfetar as mãos.
“O primeiro produto que sai da destila do medronho não pode ser consumido. Tem uma percentagem de álcool muito elevado. É transformado e aqui usamos como desinfetante”, explica à NiT Filipe Nabais, 44 anos, o responsável pelo espaço.
Não muito longe dali, na Rua de São José, do outro lado da Avenida, abriu há seis anos a Taberna Anti Dantas. O CaféCinema São Jorge – A Medronharia surge depois de ter concorrido a um concurso público, que nunca pensou ganhar.
“Tinha acabado de reabrir a Taberna [Anti Dantas] quando apareceu este concurso. Quando concorri o que queria aqui fazer era um café de cinema a sério, algo que celebrasse o cinema e este espaço, essa foi a premissa.”
O conceito de um bar dedicado ao medronho foi sendo apurado ao longo dos meses, mas a base nunca se perdeu — nem a história que ali quis preservar. “Antes de sermos A Medronharia queríamos ser o Café Cinema São Jorge. É dos últimos cinemas a sobreviverem na Avenida e conta uma história de resistência, também com toda a programação de festivais alternativos. Tudo isso serviu de motivação para este projeto.”
O concurso público era relativo aos dois espaços de restauração do São Jorge, o quiosque no piso térreo e o bar no piso superior. Depois de subir a escadaria, encontra a área dedicada aos medronhos.
“Era importante ter um projeto sui generis que celebrasse o São Jorge durante todo o ano e não apenas durante os festivais. O público merecia também uma residência, algo dentro desta linha.”
É da região sul que chega a grande maioria das 34 referências de medronho que ali podem ser provadas. Além dos cocktails, é possível fazer uma degustação deste destilado e conhecer as diferenças entre as zonas onde é produzido. “É uma autêntica viagem por alambiques e destilarias do País.” Nada de shots, mas sim lágrima, uma medida mais pequena para os degustar de uma só vez ou em pequenos goles.
Trabalham com duas associações do sul, na zona de Monchique e também do sudoeste do Alentejo, mas há medronho que chega de outras zonas do País. “ Aqui queremos ser a ligação entre o medronho e Lisboa, entre o produtor e a Medronharia.”
Os responsáveis criaram ainda uma marca própria a que chamaram de Fogo.
Rui Barata é o responsável pelas criações de bar, sempre com o medronho enquanto produto estrela. Há cocktails que fazem referência ao cinema, como é o caso de “Os Sapatos Vermelhos”, o filme com que o São Jorge foi inaugurado em 1950. Há ainda criações com beterraba e pêra rocha, tudo sabores bem diferentes.
Além da carta de bebidas, alguns dos pratos têm medronho na preparação. Aqui, o menu foi pensado por Nuno Bacalhau. O espaço abre logo de manhã com opções de brunch. Mais para almoço e para petiscar tem, por exemplo, a abóbora no forno com requeijão e compota de medronho; ou o Jardim do Cinema, a sobremesa que junta uma panna cotta com uma gelatina de medronho.
Há um elemento no menu que é comum à Taberna Anti Dantas, neste sem medronho. Falamos de um pastel de bacalhau servido na massa do pastel de nata.
Com os vários festivais que ali vão acontecer ao longo do ano, há sempre a ideia de criar opções específicas no menu e ir adaptando a oferta. “Não queríamos abrir mais um bar. Queríamos devolver o café ao cinema e ter um projeto que o dignificasse e traz algum punk rock até á cidade.”
O CaféCinema São Jorge – A Medronharia. tem 20 lugares na varanda, que está virada para a Avenida da Liberdade. Existem mais 43 cadeiras no interior.
Carregue na galeria para conhecer melhor o novo bar lisboeta O CaféCinema São Jorge – A Medronharia.
