Cerveja que mantém o sabor e características durante 48 horas, como se tivesse acabado de sair do barril para o copo. Contudo, é servida numa garrafa e pode ser bebida em todo o lado — em casa, na praia ou num convívio com amigos — tão viva e fresca como uma imperial. Parece um sonho, mas é uma realidade em muitos países de Leste e do Báltico.
Carlos Sampaio e Evgeny Shevchenko foram audaciosos e decidiram implementar o conceito em três lojas em Portugal. Embora seja um projeto embrionário, como lhe chamam, está a ser um sucesso. Abriam o primeiro espaço Fino Grande na capital, mais precisamente em Entrecampos a 18 de maio, e outros dois em Guimarães, a 19 e 20 do mesmo mês — em todos “há litros de cerveja para levar ou pedir para entregar em casa”.
Quantas vezes já pediu uma imperial e acabou por deixá-la “morrer” porque estava na conversa? No Fino Grande isso não acontece devido à tecnologia foamless filling. Trata-se de uma técnica que permite que a cerveja continue “viva” durante algumas horas após ter sido servida.
Mas, afinal, como funciona? Criada em 2012 nos Estados Unidos, esta tecnologia mantém as mangueiras das bebidas a uma temperatura muito baixa, o que preserva as propriedades da cerveja durante mais tempo. No Fino Grande, optaram por acrescentar ainda as fast filling taps, torneiras que permitem controlar a pressão com que a bebida é servida.
Para potenciar ainda mais este processo, foi criada uma sala refrigerada, onde os barris são armazenados a baixas temperaturas e ligados às torneiras posteriormente. Desta forma, as propriedades da cerveja mantêm-se consistentes e a bebida fica pronta a ser servida com uma qualidade superior. Além disso, as garrafas de plástico PET têm algumas características especiais, que permitem que a cerveja se mantenha fresca durante mais tempo.
O vimaranense de 39 anos aliou-se a Evgeny Shevchenko, amigo de longa data da mulher e decidiram “fazer algo inédito por cá”. Embora seja um conceito inovador em Portugal, para o ucraniano de 58 era algo banal. “Na Ucrânia este tipo de lojas, as chamadas beer shops, são muito comuns. Normalmente compram a cerveja favorita e vão para os parques bebê-la com os amigos. Quando lá fui a primeira vez fiquei fascinado com o facto da cerveja se manter realmente inalterada durante várias horas”, explica Carlos Sampaio à NiT.
Nessa altura, porém, o interesse não passava de mera curiosidade. “Nunca pensei que fosse abrir uma loja do género”, adianta o jurista. Como sempre quis saber mais sobre este conceito, quando Shevchenko, com mais de 30 anos de experiência na indústria da cerveja, se mudou para Portugal após a invasão russa à Ucrânia (em fevereiro de 2022), convidou Carlos para fazer parte de um projeto inovador.
“Quando se mudou para cá, decidiu usar todo o conhecimento que tinha na área e desafiou-me para me juntar a ele. A única coisa que lhe disse é que tinha de ser algo surpreendente”, recorda.
Após várias viagens a Kyiv, onde encontraram os fornecedores e materiais necessários, lançaram o Fino Grande. O conceito, comum nos países Bálticos e de Leste, consiste na venda em modo take-away de cerveja à pressão, servida em garrafas de um litro, enchidas em apenas 30 segundos. “Para garantir a qualidade da cerveja, as salas com os barris precisam ser mantidas a uma temperatura adequada, para garantir que as propriedades não se alteram”, explica.
O melhor nisto tudo é que os sócios garantem que “a cerveja não morre” e mantém-se durante 48 horas, se permanecer na garrafa devidamente fechada. “A tecnologia das máquinas que utilizamos permite um encaixe de uma embalagem PET certificada para receber bebidas e tem um cor âmbar que permite a proteção dos raios solares. Além da garrafa, também a pressão com que sai da torneira permite manter a imperial durante horas como se tivesse sido servida segundos antes. Para chegar a este resultado fizemos centenas de testes. Durante meses andei a deixar cerveja em todo o lado, nas casas dos meus pais e de amigos, para irem testando”, refere.
Atualmente têm 12 a 13 cervejas à venda nas lojas. Desde as opções portuguesas, como a Sagres, ou a Super Bock, até às mais conhecidas internacionalmente como a Guiness ou a Chimay. “Vamos mudando as referências para que os clientes possam experimentar coisas diferentes. Hoje tenho uma Leffe, amanhã posso ter uma Erdinger”, explica Carlos Sampaio.
Os preços variam consoante a cerveja escolhida. Por exemplo, uma garrafa de um litro de Guinness à pressão custa 10€ e um copo de 50 centilitros custa 5,50€. “Conseguimos ter preços muito competitivos quando comparados aos dos restantes bares das zonas onde temos as lojas. Isto é bom para nós e para o cliente. As nossas cervejas, além de serem mais práticas, são também mais económicas”, refere.
Em breve irão disponibilizar também snacks em formato take-away para que os portugueses possam fazer tal e qual os ucranianos e recolher a bebida e a comida para levarem para um convívio com os amigos. “Em Kyiv existem muito espaços abertos, jardins e esplanadas. E aquilo que fazem é passar numa beer shop e levarem a cerveja e os petiscos para um desses locais. É esse hábito que queremos replicar por cá”, admite Carlos Sampaio.
Além da compra na loja para levar para qualquer lado, também pode fazer um pedido para entrega em casa. O serviço está disponível na Glovo e acresce uma taxa de 2,99€.