Polícias, bombeiros, militares são todas profissões de nobre valor. Contudo, quando falamos de heróis, esquecemos muitas vezes uma classe que todos os dias dá o corpo ao manifesto para salvar vidas: os pasteleiros. Quem nunca foi resgatado de um pré-coma, às quatro da manhã, graças a um croissant com creme ou a uma merenda estaladiça, não sabe nada sobre a vida. E se há local em Lisboa sempre pronto para socorrer almas famintas de madrugada há mais de 45 anos, esse local é a Fábrica dos Bolos do Chile.
Quem desce as peculiares escadinhas desta meca dos snacks fora de horas depara-se com uma grade através da qual pode fazer e receber o pedido. A encomenda chega embrulhada num trivial e indiferenciado papel pardo, que dá uns ares de transação ilícita e adensa a experiência. Pode ir à confiança: ali todos os produtos são legítimos e “a qualidade é ótima”.
Quem o garante é Andreia Brito, filha do dono do estabelecimento e responsável pela gestão da empresa, que ajuda o pai a dar continuidade ao negócio de família. “Fazemos mesmo para que assim seja. Não utilizamos um óleo qualquer e a receita das bolas de Berlim amassadas à mão nunca mudou, desde o início. É por isso que têm uma forma, assim, meio-tosca”, acrescenta Andreia enquanto me desafia a experimentar uma das bolas de Berlim com creme acabadinhas de sair do forno.
Para um amante de bolos como eu, ouvir esta frase, é equivalente a pedir a um ciclista para não usar calçoes de licra. Como diriam os brasileiros “faz isso comigo não, pô…” Que sabor, que disparate de cremosidade, que afronta aos meus níveis de mau colesterol. Enfim. Um dia não são dias.
As bolas são uma tentação, mas dali também saem, todos os dias, pastéis de nata (também provei e gostei muito — óbvio) croissants, mil-folhas, queques, cornucópias e palmiers.
A Fábrica dos Bolos do Chile foi fundada em 1978 e o pasteleiro Paulo Silva, que ali chega diariamente às 18h00, trabalha na fábrica há quase 40 anos. Ele e os outros três ajudantes, tiveram uma paciência de Jó e tentaram ensinar-me a arte da confeitaria que aperfeiçoaram durante décadas.
Apesar da minha falta de habilidade para tentar enrolar um croissant ou dar uma tesourada numa bola para rechear com creme, fiquei a conhecer algumas das histórias que fazem deste um espaço mítico da noite lisboeta.
Entre estudantes universitários, taxistas e outros fregueses sui generis, as coisas nem sempre correm bem. Às vezes, há confusão, mas a equipa prefere registar, acima de tudo, as histórias engraçadas.
Além dos clientes regulares, estenderam também o serviço às plataformas de entrega, o que faz com que, aos sábados, cheguem a vender quase 1000 bolos à porta (a 95 cêntimos cada). Sem contar, claro, com as fornadas destinadas à revenda que às 5h30 da manhã são distribuídas pelas lojas e cafés da zona.
Além dos clássicos, também é possível encontrar pão com chouriço, merendas e o irresistível folhado de salsicha. Essas opções adicionais oferecem um toque de variedade ao menu, tornando a experiência ainda mais especial.
Se há um segredo para o sucesso, Andreia não o revela, mas acredita que é a tradição que faz a diferença. Por isso, da próxima vez que estiver perdido na madrugada, a deambular pelas ruas de Lisboa e sentir o chamamento de um irresistível bolo cremoso ou uma iguaria saborosa, não hesite em procurar a salvação — vai encontrá-la na Fábrica dos Bolos do Chile.
A seguir, carregue na galeria para ficar a conhecer melhor a Fábrica dos Bolos do Chile e o que lá fazem.