Há um conhecido ditado popular, relacionado com casamento, que poderia ser mudado para: pastel de nata provado, pastel de natal abençoado — pelo Papa Francisco. Pelo menos, foi isso que aconteceu à pastelaria Aloma quando em 2017, o Sumo Pontífice provou os seus pastéis de nata. O veredito foi o melhor possível: ficou encantado e, semanas depois, a pastelaria recebeu uma carta escrita pelo Papa a abençoar a Aloma, a equipa e, claro, os pastéis de nata que adoçaram a sua passagem por Fátima.
Se ainda é o efeito da benção, ou não, ninguém sabe, mas os doces da Aloma foram pelo segundo ano consecutivo (e pela quinta vez no concurso) considerados como os melhores de Lisboa, na competição O Melhor Pastel de Nata 2025. A final, que incluía participantes de vários espaços da Grande Lisboa, aconteceu na tarde desta segunda-feira, 6 de outubro, no Congresso de Cozinheiros, nos Jardins do Marquês de Pombal, em Oeiras. Em segundo ligar ficou O Pãozinho das Marias (Ericeira) e a Confeitaria Glória (Amadora).
A primeira vitória da Aloma no concurso aconteceu em 2012 e a proeza repetiu-se em 2013, 2015 e também no ano passado. “É uma honra enorme. É saber que a garantia do que estamos a fazer está a ser bem-feito, consecutivamente”, disse João Castanheira, proprietário da pastelaria, sobre a distinção.
João garante que a receita não mudou desde que a pastelaria abriu, há 80 anos, e é esse o segredo do sucesso. “O pastel é o mesmo, os produtos são os mesmos. Apostámos em matéria primeira de grande qualidade e isso faz a diferença. Além disso, fazemos bem várias vezes, para garantir que é bem-feito. O prémio é também da equipa e dos clientes”, refere.

A Aloma está aberta desde janeiro de 1943 e enverga o título de Loja com História. Inaugurada pela altura da Segunda Guerra Mundial, funcionava como uma pequena pastelaria com todos os doces típicos na montra. O nome, confessa João Castanheira, surgiu de uma “coincidência”.
Em frente ao local onde a pastelaria foi instalada existia o Cinema Europa, onde passavam filmes estrangeiros. Em exibição na altura estava “Aloma of the South Seas”, no qual a personagem principal, uma mulher esbelta, surge de fato de banho numa das cenas. “Os donos adoraram a senhora e decidiram usar o nome.”
A receita que conquistou o título de Melhor Pastel de Nata de Portugal é a mesma há oito decadas. “Usamos a mesma base do início da pastelaria e apenas vamos ajustando os ingredientes porque a farinha que existe agora, não é a mesma de antigamente”, justifica.
De resto, estas natas mantêm-se “pouco doces, com um folhado crocante e um creme com uma consistência excelente, que não escorre”. E para chegar “ao ponto” passam por um processo que leva mais de duas horas. “É muito trabalhoso, porque abrimos a massa toda à mão, é feito tudo pelos pasteleiros, sem máquinas. Se uma fornada corre mal, vai tudo para o lixo e recomeça-se.”
E sobre as fornadas que correm mal, João Castanheira é categórico: “ainda acontecem”. “Mas quando acontece vai tudo para o lixo. Produzimos milhares de pastéis de nata por dia e nunca sabemos quem os vai comer. Para nós é obrigatório que sejam todos de extrema qualidade”, diz.
Há clientes viciados nos bolos da Aloma
O prémio conseguido esta segunda-feira tem sido também comentado pelos clientes. Os mais velhos, que visitam a pastelaria diariamente, foram os primeiros a parabenizar a equipa, porque sentem que o prémio também é deles. “Temos pessoas com mais idade que me contam que já vinham à Aloma com as mães. As gerações que por aqui passam são muitas e é muito bonito que continuem a confiar em nós e nos nossos produtos”, diz.
Alguns deles são tão fanáticos pelos bolos da confeitaria que quando vão de férias têm de os levar. João Castanheira recorda-se da situação de uma cliente que todos os dias passa pela loja para comer uma bola de Berlim. Ora, quando foi de férias para uma cidade onde não existia a Aloma, decidiu fazer uma encomenda de 30 bolos para congelar. “Todos os dias descongelar uma bola para comer ao pequeno-almoço”, conta.
Com o Papa Francisco não foi preciso congelar. Na sua visita a Fátima, por altura do centenário das aparições, em 2017, João Castanheira entrou numa verdadeira odisseias de contactos e de viagens para conseguir entregar ao clérigo alguns exemplares.
“O irmão do Cardeal Martins, que na altura vivia no Vaticano e era assessor do Papa, vivia no meu prédio. Entre conversas ele deu-me o contacto do irmão e eu sem falar italiano, liguei para Roma e consegui falar com o padre. Ele depois passou-me outros contactos, para que eu conseguisse entregar pastéis de nata ao Papa Francisco, quando viesse a Portugal”, conta.
Conseguiu saber qual a melhor forma para entregar, embalou várias caixas com pastéis de nata e pediu a um dos funcionários, que era da zona de Fátima, para entregar os bolos numa mota. As estradas estavam fechadas, mas como o empregado conhecia a zona conseguiu chegar ao local combinado. “Conseguimos com que os doces chegassem ao Papa e umas semanas mais tarde recebemos uma carta de agradecimento onde deixava a benção aos pastéis de nata, à Aloma e ao grupo. Isto foi a prova que acreditar e fazer os outros acreditar é uma das ferramentas mais importantes que temos”, diz João Castanheira.

Desde então que há quem brinque e diga que os pastéis de nata da Aloma são abençoados. Quer sejam, ou não, a verdade é que na sua maioria são feitos na fábrica da marca no Jardim Constantino, em Arroios, e finalizados nas cinco lojas — quatro em Lisboa e uma em Vila Nova de Gaia. No entanto, alguns dos espaços, nomeadamente o de Campo de Ourique, fazem as suas próprias fornadas. Desta forma conseguem assegurar que os clientes conseguem ver todo o processo e podem provar os doces acabados de sair do forno.
Cada exemplar custa 1,30€ atualmente, mas João Castanheira não adianta quantos são vendidos por dia. Revela apenas “que são milhares” e que espera que esse número cresça exponencialmente após a quinta vitória no concurso.
Os bolos podem ser comprados em Campo de Ourique e nas restantes lojas de Lisboa, no Porto ou mesmo em Madrid, no El Corte Inglés. Em breve haverá mais duas localizações na capital portuguesa para os provar. A Aloma irá abrir ainda em outubro em Alvalade, numa perpendicular à Avenida da Igreja e outra no Parque das Nações.

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