Nunca tinha entrado no Elefante Branco, mas conhecia bem a sua fama. Como é óbvio. A fama do bife maravilhoso. A fama das mulheres deslumbrantes. E a fama de que recebe alguns dos homens mais conhecidos da sociedade portuguesa — se bem que, nesta parte, a fama já não tem correspondência com a realidade há vários anos. Seja como for, a reabertura do night club no final de janeiro — numa nova localização e depois de estar fechado desde 2016 — era o pretexto perfeito para passar uma noite no Trombinhas. Cheguei à Rua do Conde de Redondo dois dias depois da inauguração oficial.
Não fui sozinho, levei um amigo, tal como me tinha sido aconselhado pelos responsáveis da comunicação e que fizeram questão de sublinhar a seguinte frase: “O dress code é clássico”. Logo à entrada caiu o mito de que só é possível entrar no Elefante Branco se estivermos impecavelmente vestidos. Eu ia de botas, camisa e sobretudo cinzento com capuz. O meu amigo ainda estava mais mal vestido: de calças de ganga e botas — que comprou de propósito para essa noite. Lá dentro, os outros homens andavam de T-shirt e sapatilhas.
Chegámos às 23h30, quando estavam três seguranças à porta. Esperei até que alguém me perguntasse o nome ou me desse algum cartão de consumo — um deles tinha um bloco desse género —, mas foi tranquilo. Limitou-se a dizer-nos “boa noite” enquanto abria a porta. Os chapéus de chuva ficaram à entrada e fomos convidados a descer as escadas acompanhados pela host: uma mulher bonita, com mais de trinta anos, com umas calças e um blazer preto e o cabelo escuro liso.
No final do percurso chegamos ao bengaleiro que está separado do clube por umas portas automáticas de vidro, tipo centro comercial. À primeira impressão, tudo ali se assemelha a uma discoteca. Está a passar a música da moda — como Shawn Mendes, funk ou “Me Solta”, do Nego do Borel — e luzes por todo lado em tons azuis e vermelhos.
O balcão está à direita, com luzes azuis sobre as bebidas e bancos de veludo bordeaux, o mesmo material do sofá que fica do lado oposto. Este cenário é um corredor que dá acesso à sala principal. Assim que chegamos, um empregado convida-nos para sentar. Todos os funcionários estão vestidos de camisa e calças pretas que contrastam com a gravata em tom dourado. Estava à espera de encontrar um varão no meio de sala, mas ele não existia. Em vez disso, há um clarão no meio do mobiliário que antecipa um espetáculo qualquer — como se viria a confirmar mais tarde.

Espalhados pelas cadeiras, sofás e bancos estavam grupos de homens, homens sozinhos e aos pares. Todos mais velhos do que eu. Há muito tempo que não me sentia um adolescente, confesso. No meio dos clientes, andam cerca de 20 mulheres de salto alto, com decotes proeminentes, vestidos curtos e colados ao corpo. Algumas estão a dançar sozinhas, as outras vão-se juntando aos homens nas mesas.
Quando o empregado se aproxima, peço-lhe uma cerveja e o meu amigo um white russian. Pedimos as bebidas sem saber os preços, até porque nunca recebemos a carta. Fiquei numa zona à frente da tela gigante e da única televisão da sala. Estavam as duas a passar um jogo de futebol da Sport TV. Foi a primeira vez que estive numa sala cheia de homens e nenhum deles estava a olhar para a bola na televisão.
Sempre que chega um homem sozinho ao bar, ele é imediatamente abordado por uma ou mais mulheres. Curiosamente, nenhuma das mulheres se aproximou da minha mesa, só mesmo de passagem e a caminho de outro local. A única interação que tive foi quando uma mulher brasileira passou por nós e elogiou o look do meu amigo: “Nossa, que cabelo lindo”. Ele agradeceu. Eu senti-me ainda mais adolescente.
Pelo meio chegaram as bebidas, a minha cerveja e o black russian — não tinham as natas necessárias para fazer a versão white. O empregado ofereceu-nos também um prato de amendoins e figo secos enquanto colocava os copos sobre guardanapos retangulares onde se lia Elefante Branco. O ambiente parecia meio morto: as mulheres continuavam a dançar, a música mantinha-se no mesmo registo e as luzes na mesma tonalidade. Mas poucos minutos depois tudo mudou. Afinal, ia mesmo haver um espetáculo.
À meia-noite e meia, ouvimos a voz de uma mulher a partir das colunas do som: “Daqui a pouco vamos ter a atuação da Verónica e da Sol”. As luzes ficaram mais escuras e todas as atenções viraram-se para o tal centro da sala. A música comercial é substituida pelo rock pesado de “Ich Will”, dos Rammstein. As duas mulheres tinham um vestido leve e fluorescente, mas de cores diferente: um era rosa, o outro amarelo. Não fez grande diferença, passados alguns segundos já os tinham tirado para ficarem apenas de fio dental e soutien enquanto se beijavam e batiam no rabo uma da outra. A sala inteira estava parada para assistir ao show.
Alguns minutos mais tarde, a pouca roupa de Verónica e Sol desapareceu completamente. Foi nessa altura que começaram a fazer sexo oral uma à outra. Uma estava de pé, a outra ajoelhada à sua frente. E depois trocaram. No final, as duas mulheres circularam entre as mesas e sentaram-se ao colo de alguns dos clientes. Um deles ficou tão atrapalhado que perdeu o equilíbrio e quase caiu para trás — com a Veronica (ou a Sol, não sei) meio desajeitada em cima dele. Em circunstâncias normais, o episódio caricato teria provocado várias gargalhadas na sala. Curiosamente, toda a gente fingiu que aquilo não tinha acontecido.
O espetáculo durou cerca de 10 minutos, mas pareceu muito maior. Pena ter sido o único. À uma da manhã, depois de pares a dançar e conversas coladas ao ouvido, vêem-se as primeiras saídas de homens e mulheres juntos. Ali nada acontece, como nos explicou um dos empregados. “Mas se quiser uma menina eu chamo já”.
A partir daquela hora o espaço começou a ficar mais animado. O balcão já estava cheio, algo que não aconteceu no início, e havia muita gente de pé. O Elefante Branco tem outra sala em baixo, mas é apenas para jantares e eventos privados.
Durante toda a noite, não vi ninguém pedir o tão famoso bife, só mesmo a beber. No meu caso, três imperiais e um cocktail custaram 55€. O que, de certa forma, até se perceber: espetáculos destes não se vêem todos os dias e eles têm de ser pagos — de uma maneira ou de outra.