A melhor forma de conhecer um vinho, é à mesa. Essa é a crença do realizador Henrique Oliveira, que, em setembro de 2023, decidiu desdobrar-se noutra arte, a dos vinhos, e abriu um wine bar — o Pé Franco. Para o provar, arranca agora com diversos jantares pop up no espaço de Alvalade, nos quais chefs de cozinhas do mundo apresentam pratos que harmonizam com as referências naturais e biológicas disponíveis no bar.
Aos 44 anos, o realizador confessa que tem duas vidas. Durante o dia trabalha na realização e produção de filmes, que sempre foi a sua ocupação profissional, e à noite gere o wine bar. “Esta ideia começou a ser plantada em 2014, quando eu dei uma segunda oportunidade ao vinho. Até então jurava que não gostava, mas finalmente percebi que não estava a beber as referências mais indicadas ao meu gosto.”
Com um círculo de amigos preenchido por entusiastas , acabou por começar a prestar mais atenção à produção e percebeu que estava a ser escrito um novo capítulo. “Quando abri o Pé Franco, tinha o intuito de trabalhar com vinhos de baixa intervenção, de pequenos produtores e sem adição de produtos químicos. E isto é muito semelhante ao que se fazia já com a comida. Achei que havia uma oportunidade para dar a conhecer e explorar um mundo novo, com produtores que se preocupam com o terroir e a qualidade.”
A solução foi um híbrido entre wine bar e garrafeira. Quem quiser, pode pegar e levar para casa. Tendo tempo, recomenda sentar e provar copo a copo algumas das referências. “Queremos que venham cá e posso conversar sobre os rótulos, enquanto provam e petiscam. Este ano surgiu-me a ideia de mostrar como podem ser combinados com jantares diferentes. Convido chefs de cozinhas internacionais diferentes e fazemos o pairing perfeito para o que é servido”, explica.
Até ao final do ano será possível provar pratos preparados pelo chef peruano Danymal, que foi desafiado por Henrique a criar um menu diferente todas as semanas, com base na cozinha do seu país. “O objetivo com estes pop ups é convidar cozinheiros que encarem a gastronomia da mesma forma que os produtores dos nossos vinhos, com foco na sazonalidade e na qualidade dos produtos.”
Até ao final do ano, todos os fins de semana há jantares peruanos à la carte. Na última edição havia um couvert (3,5€), um pão com manteiga aromatizada, para depois passarem para a entrada, um corn cake (9€), ou seja, um pastel de milho peruano, feito com molho de natas e queijo.
Nos pratos há duas opções, a tortilha (7€) cozinhada com chips de batata e cebola caramelizada com massa de pimentão, ou a pork cheek sandwich (14€), uma sandes de bochecha de porco com maionese de pickles. Para sobremesa, Danymal sugere um brownie (7€) servido com creme de frutos vermelhos e frutos secos caramelizados. A tudo isto juntam uma harmonização de vinhos.
Durante a semana o espaço funciona como garrafeira e bar. Entre as referências da casa, destaca os vinhos verdes da Quinta da Palmirinha. E há também muita curiosidade pelos vinhos açorianos. “Temos tido bom feedback. As pessoas voltam à procura da mesma garrafa ou pedem outra sugestão dentro do mesmo estilo”, nota. Por coincidência, ou não, uma das referências mais caras da loja é precisamente desta região. Chama-se Pólvora Vulcânica e custa cerca de 50€. “Temos tido também muitos pedidos acerca do Ciclo, do Alentejo e dos vinhos da casta Negra Mole, mais comum no Algarve. Mas, no fundo, tentamos ter opções das 14 regiões vinícolas do País, que sigam o nosso conceito.”
O espaço organiza ainda provas de vinho, que têm acontecido de forma mais ou menos espontânea. “Temos tentado organizar eventos diferentes. No sábado, 9 de novembro, vamos ter um dia dedicado aos discos com a presença da Chasing Rabbits. Vai ser uma espécie de mercado de vinil com vinhos e comida durante todo o dia”, revela o proprietário.
Tudo isto pode ser encontrado num espaço acolhedor com 25 lugares, onde se destaca o corredor estreito no qual se conjugam diferentes materiais naturais. Tudo numa pequena ruela cheia de luz em Alvalade, que se revelou o lugar perfeito para o tão sonhado bar de vinhos e garrafeira.
E porquê este nome? “Pé-Franco é um plantio de videira diretamente no solo sobre as suas próprias raízes, muito comum antes da filoxera onde as videiras eram plantadas com este método. É a forma primordial de plantar vinha sem o recurso ao porta enxerto, sem nenhuma manipulação. Achei que faria sentido, tendo em conta o novo capítulo dos vinhos, chamar-lhe assim.”