Entra no Plantasia, senta-se ao balcão e pede um copo de vinho. “Fica ao seu critério”, diz ao bartender. À sua frente cai um copo de vinho cor de laranja. Uma novidade para muitos, algo banal para os conhecedores como Marcos Anjos. Parte do desafio e do apelo do novo bar de Lisboa está precisamente na carta de vinhos: todos eles naturais.
A paixão do brasileiro de 31 anos é relativamente recente. Esbarrou com estes vinhos sem aditivos e de fermentação natural num restaurante de um amigo. “Calhou de ir lá e só haver vinho natural na lista. Provei, gostei e comecei a estudá-los”, conta à NiT o co-proprietário do espaço.
Ao seu lado no projeto está Alice Turnbull, também brasileira. Ambos cariocas do Rio de Janeiro, velhos conhecidos desde a adolescência, viajaram pelo mundo e reencontraram-se em Lisboa há cerca de três anos.
Dos interesses em comum nasceu a vontade de criar um espaço que preenchesse os desejos de um formado em cinema, apaixonado por vinhos naturais e café de especialidade; e de uma formada em audiovisual e belas artes.
A sintonia dos sintetizadores do compositor Mort Garson e do seu disco criado para dar música às plantas “e a quem gosta delas” serviu de banda sonora ao bar/galeria. “Ambos gostávamos muito dele, estávamos a ouvir isso e calhou de escolhermos esse nome”, recorda Marco.
De volta ao copo de vinho laranja que “não se encontra muito por cá”. Nem é tinto, nem branco. Trata-se de um vinho natural cuja prensagem e fermentação tem origem na uva branca juntamente com a pele, o que depois dá origem a uma tonalidade alaranjada. É a sugestão de entrada nos vinhos naturais: um copo de Raiz, produzido por Tiago Teles, fica por 4,5€; 22€ se optar pela garrafa.
A carta incomum de bebidas aposta também em sakê japonês, cerveja artesanal da Musa ou mesmo kombucha. Tudo para acompanhar com uma seleção reduzida de petiscos: tábuas de queijos, azeitonas, húmus clássico e de beterraba e pão da Gleba.
Plantado em Arroios — Marcos bem se queixava que não havia no seu bairro um sítio para beber vinhos naturais —, o espaço de um antigo stand serviu de tela perfeita para criar o bar/galeria.
Assim que caíram as placas de pladur, Marcos e Alice perceberam qual o tipo de decoração que estava destinado. “Morei em Brooklyn e lá, muitos armazéns antigos viravam galerias e bares. Tínhamos essa ideia do cru e quando descobrimos essa parede, demos algum tratamento mas pouco mudámos. Quisemos ter essa estética Berlin, Nova Iorque, Brooklyn”, confessa Marcos.
As largas telas de cimento envolvem uma zona de bar com toque requintado, em formato lounge, apenas com uma mesa e um par de sofás. Mais cadeiras só mesmo ao balcão.
Os 158 metros quadrados do Plantasia servem para circular, para relaxar, sempre num ambiente informal. “Não queríamos que desse ar de restaurante”, nota.
Alice, de 30 anos, vira-se mais para o lado da galeria, ela que é uma das artistas em destaque na exposição que irá permanecer no espaço até 10 de outubro. Curada por si e por Marcos, está já com a agenda preenchida quase até ao final do ano.
“Depois desta entra outra com pintores de Nova Iorque, depois há uma artista mexicana, a seguir um português. Mas queremos também abrir o espaço a outros curadores, não queremos ser sempre nós”, explica Alice Turnbull.
No papel, o Plantasia é um sítio para beber vinho e admirar arte. Na realidade, é aquilo que Marcos, Alice e todos quiserem. “É um espaço neutro, híbrido, que usamos para as artes mas não necessariamente para exposição. Pode ser um lugar de projeção, de performance, de instalação. Está tudo em aberto.”