Desanimado com a falta de oportunidades e, especialmente, com as dificuldades associadas à criação de um negócio em Portugal, João Resende, agora com 31 anos, partiu para Barcelona em 2013. Por lá ficou cinco anos. Trabalhou em diferentes sítios, nomeadamente no hotel W Barcelona, onde conheceu Antonio Romero (38).
Tornaram-se amigos e rapidamente percebeu que o espanhol também sonhava abrir um espaço próprio, fosse em Barcelona, Londres ou até em Lisboa. “Em 2017 trouxe-o cá e ele ficou apaixonado, especialmente pelo Intendente”, conta João à NiT. Fascinados pela zona que mostra o lado menos polido da capital, ali inauguraram o Café Klandestino em junho de 2018. Tornou-se num spot de referência com petiscos e cervejas.
Contudo, ambos continuavam a alimentar o desejo de criar algo verdadeiramente único. Concretizaram o objetivo comum a 9 de março com a abertura do Sneaky Sip, o novo speakeasy do Príncipe Real. Desta vez contaram com a ajuda de Marcelo Resende, o irmão mais velho de João — tem 35 anos.
Caso não esteja familiarizado com o conceito, os speakeasy surgiram nos EUA durante a Lei Seca, que proibia a produção, transporte e comércio de bebidas alcoólicas no país. Como não cumpriam as regras, estes eram espaços que existiam um pouco à margem da sociedade, praticamente escondidos, e sobre os quais era preciso falar (speak) com cuidado (easy).
Esta espécie de ilegalidade e exclusividade sente-se assim que chega à porta do prédio onde está o Sneaky Sip. Para entrar, tem de tocar à campainha e responder à voz do intercomunicador que lhe pede a palavra passe. Esta está disponível no Instagram do espaço e vai mudar mensalmente. Não é obrigatório sabê-la, mas “é um plus”. Também recomendam que faça reserva.
Depois de entrar, tem de se dirigir até à photobooth. Ali pode tirar fotografias com os amigos, mas não é apenas essa a sua função. Deve seguir os passos que lhe são apresentados no ecrã e, depois, terá acesso a umas escadas escondidas que o levarão até à cave onde se localiza o bar. “A cabine de fotos foi construída por nós e tem um aspeto vintage”, descreve João Resende.
O espaço é “colorido, com néons e música funky”. “Normalmente, os bares speakeasy optam pela madeira na decoração, mas nós não queríamos isso”, explica o cofundador. Nos 80 metros quadrados conseguem receber entre 55 a 60 clientes. A decoração não é a única característica distintiva do Sneaky Sip — a carta de bebibas também se distingue das demais: ali não há vinhos ou cervejas.
“Temos propostas mais clássicas, como os gins tónicos. Assim que chegam, entregamos aos clientes o menu de bebidas da casa. Atualmente temos 12 propostas, que vão ser substituídas a cada três meses. Só trabalhamos com ingredientes underrated, ou seja, aqueles que os clientes se calhar não valorizam tanto”, destaca.
Pense em queijo, alho, anchovas, goiaba, mostarda e gordura de pato. Normalmente, não associamos estes ingredientes a cocktails, mas são protagonistas nas opções do Sneaky Sip. “No início, as pessoas estranham, mas depois acabam por gostar. Nestas três semanas o feedback tem sido muito positivo”, revela. “Somos uma equipa de profissionais e sabemos com o que trabalhamos”, assegura prontamente.
O Cheese (11€) leva tequila, mezcal unión, abóbora fumada e soda de queijo de cabra. Já o Anchovies (11€) inclui Citadelle Gin de Anchovas, Vermute de Malagueta, Pickled Lime Water e alecrim. Também tem o Lettuce (11€). Esta proposta leva Pisco, Mezcal, Manchino Sakura, alface e alface do mar, kumato e aipo. O Duck Fat (11€) é outro cocktail que surpreende qualquer um. Tal como o nome indica, é feito a partir de whisky Rye com gordura de pato, cognac Pierre Ferrand pimentas e Pineau Charentes. A lista insólita continua.
Embora não haja vinhos ou cervejas, há muitos petiscos. Tem edamames (4€), asinhas de frango (seis unidades por 7€), o Dirty Prego (8€) feito com pato confitado, mostarda e cebola em pickle — tudo isto dentro de um bolo do caco. Para os amantes de peixe há o brioche de bacalhau (8€) com salada de ervas. Por último, as Okra Fries (5€) que são, no fundo, quiabos fritos (este vegetal é muito usado na cozinha caboverdiana e do Sul dos Estados Unidos). No futuro, todas estas propostas poderão ser saboreadas ao som de DJ sets.
Carregue na galeria e descubra o novo speakeasy do Príncipe Real.
