Após vários anos no coração da azáfama portuense, entre espaços como o Plano B e o Gare, Pedro Segurado quis afastar-se e procurar um público que, por estes dias, acaba invariavelmente alienado: os locais. “O Bonfim é um dos bairros de que eu mais gosto no Porto e creio que há um tipo de público que procura zonas e lugares novos”, explica o empresário de 50 anos, que ali inaugurou o seu novo projeto, o Fiasco, no início de abril.
“A fazer nascer um espaço no Bonfim, na minha cabeça só fazia sentido que fosse algo mais virado para dentro do que para fora. Algo que não aliene o público local, seja por uma questão de preços ou outra — que são razões válidas, mas gostava mesmo que o Fiasco fosse acima de tudo um sítio para locais.”
Chamar-lhe bar seria um exercício simplista. O balcão e as bebidas estão no centro do projeto, é certo, sobretudo graças aos cocktails de autor como o Euphorbia Two Step (8€) com cachaça, Lillet blanc, Vecchi Amaro del Capo e tomilho ou o Asian Dub Soundsystem (8€) com vodka, ginja, sakê, flor de cerejeira e lima kaffir. Os nomes dão a primeira pista para outro dos projetos inseridos no Fiasco, uma enorme loja de vinis numa parceria com o italiano Luca Massolin, radialista que vive no bairro há mais de uma década e que tinha um armazém de vinis à porta fechada.
“Ele tinha que sair do espaço e nós tínhamos aqui uma área enorme onde poderíamos acomodar a loja de discos”, explica Segurado, que aponta ainda para mais duas iniciativas que irão ocupar o bar com mais de 200 metros quadrados.

As criações do Mafalda’s, no Mercado de Matosinhos, vão chegar ao bar do Bonfim, sobretudo para aproveitar o período diurno. Será a partir do final de junho que a carta de comida estará em vigor, imediatamente após o lançamento da aposta que irá ocupar a cave: um espaço de galeria onde serão exibidas exposições de “artistas locais que não encontram lugar nas galerias convencionais”, com curadoria de Francisco Oliveira e Carlos Milhazes.
“Temos sempre quatro coisas a acontecer ao mesmo tempo: a música, os cocktails, a comida e a galeria”, nota. Tudo isto num espaço todo ele decorado em tons de vermelho, montado para “promover uma lógica de proximidade” que “obriga as pessoas a estarem próximas”.
A promovê-lo está um longo e enorme sofá vermelho de duas faces, uma virada para a rua, outra para o interior. “É uma espécie de jogo, onde se vê e se é visto”, conclui sobre a decoração do novo bar da cidade. “Acho que os portugueses sentem algum desconforto quando estão demasiado expostos, mas, para o melhor e para o pior, o espaço promove também essa proximidade e uma lógica de conforto.”
