Amaral, Mina, Júlio das Farturas, Retiro da Amadora e Gina. Para os mais novos, é provável que estes nomes não signifiquem grande coisa, porém, aqueles que cresceram em Lisboa nos tempos de glória do teatro de revista sabem que dizem respeito a alguns dos restaurantes que davam sabor ao mítico Parque Mayer, que inaugurou a 15 de junho de 1922.
Destes, e todos os outros, apenas Gina resistiu ao desaparecimento dos artistas e espetadores que foi acontecendo com o passar do tempo. O segredo não podia ser mais simples, garante à NiT Rui Pinto (44 anos), gerente do espaço e filho da proprietária, Georgina (73).
“A persistência, resiliência e tenacidade da minha mãe são as grandes responsáveis por mantermos as portas abertas quanto as restantes fecharam“, começa por dizer. “Apesar das boas propostas que recebeu, nunca pensou em vender. É o projeto de uma vida. Chegou de Montalegre [dois meses após a Revolução dos Cravos, em abril de 1974], depois do casamento com o meu pai, Júlio, para trabalhar aqui quando a casa ainda se chamava Júlio das Miombas e pertencia a um tio paterno. Nunca mais foi embora”, acrescenta.
Quando o antigo dono se reformou, o par assumiu o negócio, que mudou o nome para o que todos conhecem há mais de 20 anos, quando Júlio e Gina se divorciaram e a segunda tomou conta do espaço, no qual o ex-marido continua a trabalhar. “É, acima de tudo, um projeto familiar”, e todos fazem o possível para que se mantenha de pé. Ao fazê-lo, mais do que preservar o restaurante, conservam memórias como as guardadas por Rui.
“Cresci aqui, a jogar à bola e a subir às árvores com as crianças dos outros espaços e os filhos dos atores, costureiras, técnicos e músicos que estavam cá quando havia espetáculos. Alguns deles ainda são clientes e hoje já trazem os próprios filhos”. As pessoas de sempre são, precisamente, um dos pilares do negócio, mas também aparecem, frequentemente, novos comensais. Vêm atraídos pela boa comida portuguesa, pela nostalgia e pela melhoria constante da ementa e dos pratos que saem da cozinha.
“O espaço está em evolução contínua. Tanto em termos físicos, como de carta ou eventos, procuramos dinamizar e apresentar coisas novas, sem nunca abdicar da qualidade que nos caracteriza. Ainda há pouco melhoramos a esplanada exterior e acrescentamos uma interior, para que as pessoas possam estar mais resguardadas quando o tempo não está tão convidativo. Todos os dias ao jantar temos DJ’S, para os que gostam de ouvir uma boa música e vamos acrescentar um estendal com merchandising próprio. O ano passado, instalamos um baloiço instagramável”, conta. Salienta, igualmente, que não procuram “clientes de um dia, mas para uma vida. Queremos que venham, gostem e voltem. É para isso que trabalhamos”.
Da carta, destaca a perna de vitela no forno, sujeita a disponibilidade (45€) e o tomahawk (60€), ambos com cerca de dois quilos, além das tábuas para partilhar com vários cortes. A de Viade traz alheira, entrecôte, escalopes de vitela, posta e entremeada de vitela (95€). A carne, vem toda de Montalagre. Do mar, vale a pena provar pratos como o arroz de tamboril com gambas (16€) e o polvo à lagareiro (18€).
Durante a semana, há sempre pratos do dia, que rondam os 12€ e dão para partilhar. “As doses são bem servidas, pelo que muitos optam por pedir apenas uma e ninguém sai com fome”, sublinha. Pataniscas de bacalhau com arroz de feijão, massada de garoupa, favas à portuguesa, cozido e cabrito no forno é o que encontra, respetivamente, à segunda, terça, quarta, quinta e sexta-feira.
Dependendo da ocasião, pode cruzar-se na Gina com alguns dos artistas portugueses mais acarinhados pelo público. Alguns nunca deixaram de frequentar o espaço, outros chegaram mais tarde, mas todos são bem-vindos. Fernando Mendes, José Raposo, Cláudia Vieira, Marina Mota, Dulce Pontes, Ana Moura e Agir são alguns dos nomes mais frequentes por estes lados. Beatriz Costa, Nicolau Breyner, Henrique Mendes, Ivone Silva e Vítor Mendes são rostos conhecidos que por ali comiam noutros tempos.
Carregue na galeria para espreitar o espaço d’A Gina e as delícias que serve.