Cerca de 184 quilos é a quantidade de alimentos que cada português desperdiça por ano, de acordo com os dados de Instituto Nacional de Estatística de 2022. Mas o pior é que 10 por cento deste desperdício (o equivalente a 18 quilos) está relacionado com a rotulagem das datas de validade.
O mais recente estudo da Too Good To Go revela que quase 4 em cada 10 portugueses admitem deitar fora alimentos apenas por terem ultrapassado a data de durabilidade mínima, o tão conhecido “Consumir de preferência antes de”.
Esta confusão é particularmente evidente entre os mais jovens. Nestes casos, um em cada três consumidores entre os 18 e os 34 anos assumem ter dificuldades em interpretar estas datas, enquanto os consumidores com mais de 55 anos demonstram ter uma compreensão mais clara.
Assim, é importante saber diferenciar esta expressão do “Consumir até” — aquela que a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) define como “a data limite até à qual o alimento pode ser consumido em segurança”. É assim a data que devemos seguir imperativamente e é normalmente encontrada em produtos muito perecíveis, como carne ou peixe fresco. Se consumirmos um produto já com esta data expirada há um risco para a saúde.
Por outro lado, o “Consumir de preferência antes de” é, como o nome diz, uma indicação, ou seja, é a data de durabilidade mínima de um produto e refere-se ao período durante o qual o alimento mantém as suas propriedades específicas, desde que armazenado corretamente. Após essa data, o produto pode ainda ser consumido, desde que mantenha bom aspeto, cheiro e sabor. É aqui que entra a capacidade dos consumidores de avaliarem o estado do produto através dos seus sentidos.
“47 por cento dos portugueses afirmam que não utilizam os sentidos para saber se um produto está ótimo para consumo e cerca de 61 por cento diz que a informação sobre a rotulagem de datas não é suficiente ou é confusa, e isso talvez os leve a desperdiçar comida que ainda poderia estar boa para consumir. Daí a importância de ouvir as necessidades dos consumidores e de os ajudar com iniciativas que lhes permitam estar mais informados para poderem fazer melhores escolhas e, assim, reduzir o desperdício alimentar”, afirma Maria Tolentino, diretora da Too Good To Go em Portugal.
“Observar, Cheirar, Provar”: a campanha para reduzir o desperdício alimentar
Já a pensar neste problema, a Too Good To Go lançou em 2021 o selo “Observar, Cheirar, Provar”. A imagem, que surge em mais de 720 produtos alimentares com data de durabilidade mínima, mostra um pictograma de um olho, um nariz e uma boca.
O intuito é relembrar os consumidores de que devem usar os seus próprios sentidos para apurar as condições do produto mesmo após a data que consta na embalagem.

O selo está presente em produtos de grandes marcas como Bimbo, Grupo Bel, Kellogg’s ou Continente, e 38 por cento dos portugueses diz conhecer a campanha.
Em 2019, muito antes de lançar o selo que apela ao uso dos sentidos — “Observar, Cheirar, Provar” — a Too Good To Go já deixava a sua marca em Portugal no combate direto ao desperdício alimentar, naquela que é a sua faceta mais conhecida. Aliada a mais de quatro mil estabelecimentos, a aplicação móvel Too Good To Go permite aos seus utilizadores salvar Surprise Bags, que incluem alimentos de qualidade e aptos para serem consumidos que as pastelarias, restaurantes, mercearias ou supermercados já não poderiam colocar no dia seguinte nas prateleiras, com preços a começar nos 2,99€.
O sucesso deste sistema vê-se nos números: a app conta com mais de dois milhões de utilizadores em Portugal. De pastelaria a refeições completas, já foram compradas mais de 5,8 milhões de Surprise Bags ao longo dos seis anos em Portugal, o equivalente à poupança de emissão de 15.500 toneladas de CO2.