Gourmet e Vinhos

A farmacêutica que abriu a primeira loja 100% vegan, biológica e sustentável da Póvoa de Varzim

Marlene Cunha trocou os comprimidos pela comida e decidiu abrir a Veggie Mercearia & Cafetaria.
Fica na Póvoa de Varzim.

“Quando abri a loja toda a gente olhava para mim assim de lado. Todos perguntavam o que era isto: uma loja vegan? Vocês só vendem tomate.” Afinal, na Póvoa de Varzim pouco havia no que diz respeito a oferta de propostas gastronómicas vegetarianas — e abrir ali um espaço que só venderia produtos biológicos, sustentáveis e de origem vegetal parecia estranho.

Era, contudo, mesmo esse o conceito que Marlene Cunha, de 39 anos, sonhava criar. Tanto sonhou que abriu a Veggie Mercearia & Cafetaria, aquela que promete ser a primeira loja 100 por cento vegan, biológica e sustentável da Póvoa de Varzim.

Ao longo dos mais de dez anos em que a empreendedora trabalhou em farmácia comunitária, diz ter visto muita coisa que, de alguma forma, a preocupava. “A medicação não pode ser tudo. Mas hoje em dia as coisas estão um bocadinho ao contrário. Tenta-se resolver as coisas só com fármacos e era isso que via acontecer na farmácia todos os dias. Era do género: as pessoas tinham o colesterol elevado, chegavam à farmácia e levantavam. Afinal, era só mais um na lista, e nem tentavam arranjar alternativas.”

Ao mesmo tempo, e incentivada pela vocação e paixão pela área da saúde e pelo sonho de ajudar, foi fazendo algumas formações e descobrindo medicinas alternativas. “Queria saber o que se poderia fazer, o que existia ou não”, revela.

Nessa procura, descobriu a alimentação vegetariana e foi provando, percebendo qual era o conceito. Paralelamente, foi pesquisando sobre quais as implicações do consumo de alimentos de origem animal para o ambiente. À NiT diz que, aos poucos, foi mudando a alimentação e a maneira de ver a vida. Mas a grande reviravolta só veio em 2019 com o nascimento do primeiro filho.

“Logo veio a pandemia e, como estava de licença de maternidade, acabei por ficar em casa. Vou aí que pensei que tinha de estudar isto a sério, o que poderia ou não fazer e mudei radicalmente”. Começou, então, a fazer uma alimentação mais vegan, mudou as coisas em casa e ponderou sobre o seu futuro. Uma das grandes questões seria se continuaria ou não a trabalhar na farmácia.

Não foi preciso muito para que o sonho de fazer um espaço diferente soasse mais alto. A localização só poderia ser uma. “Sinto que devemos criar este tipo de espaços precisamente onde eles não existem. É provável que se abrisse no Porto, teria mais lucro e mais clientes. Mas aí não ia fazer uma diferença. Isto é, dessa forma não ia conseguir fazer aquilo que realmente gosto, que é mostrar coisas diferentes às pessoas que ainda não as conhecem.”

Trocou os comprimidos pela comida e, “nos fins da pandemia, ainda um bocado a medo”, fez nascer o projeto que acabou por ir para a frente. Enquanto fala connosco, Marlene mantém-se atenta à entrada e saída de clientes da loja. É que entretanto conseguiu mesmo abrir o espaço — na avenida em frente à Mouzinho de Albuquerque — e é ela a única pessoa ao serviço. Mesmo por isso, optou pela loja pequenina do número 30 da Travessa da Senra.

É aqui, todos os dias, que a empreendedora serve refeições preparadas por ela em casa. “Tenho uma licença de cozinha a nível doméstico. Cozinho lá e trago para aqui”, explica. Sempre pratos diferentes, caseiros e vegan.

Diariamente tem o cuidado de incluir legumes, cereais e proteína. Para esta sexta-feira, 3 de março, por exemplo, quem aqui chegou à procura do prato do dia encontrou uma mistura de legumes ao vapor com cebolada de grão-de-bico e feijão. Antes disso, tinha sido bulgur com estufado de seitan. A antiga farmacêutica quer mostrar que, no fundo, não tem de ser sempre massa e arroz — “como as pessoas dizem”.

Além de mostrar as coisas diferentes que se podem ir fazendo, explica aos clientes que a proteína podem ser as leguminosas, tofu ou tempeh. O ramen da casa, um caldo de tofu, com noodles e algas, é já um dos mais conhecidos.

No início, conta-nos Marlene, a novidade foi motivo para algumas cenas mais engraçadas. “´E pode-se fazer um bolo sem ovos? E é bom?` Eram perguntas frequentes”. Foi por ir esclarecendo quem ainda ainda considerava estas opções estranhas que foi conquistando as pessoas. Hoje, até já há alguns clientes fixos que aqui entram regularmente. Porém, não o fazem apenas pelo menu do dia (4,30€ só prato; 5,90€ pelo prato, café e limonada; 7,50€ caso seja acrescentada sopa).

Focado nas preocupações ambientais e de sustentabilidade, o Veggie abriu com produtos a granel e com o compromisso de privilegiar fornecedores de ciclo curto, de preferência portugueses, e sempre que possível aqueles que usam materiais recicláveis.

O tofu, o seitan e as farinhas são já alguns dos produtos mais procurados. “Tenho alguns clientes que já se fidelizaram aos detergentes a granel”, nota. E para que a clientela possa ter sugestões mais caseiras, Marlene prepara ainda croquetes, hambúrgueres e alheiras vegan em folha de arroz que depois congela e vende. “É só chegar, levar para casa e meter no forno”.

Aqui, a apaixonada pela área da saúde tenta fazer aquilo que fazia na farmácia, utilizando outros meios. É por isso que, entre as mesas e prateleiras tem escrito no quadro de ardósia a frase que define o seu conceito: “que a alimentação seja o seu único remédio”.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Tv. da Senra 30
    4490-671 Póvoa de Varzim
  • CONTACTOS
  • HORÁRIO
  • Sábado e segunda das 9h30 às 14h30
  • De terça a sexta das 9h30 às 18h30
  • Encerra ao domingo
PREÇO MÉDIO
Menos de 10€
TIPO DE COMIDA
Vegan

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