Gourmet e Vinhos

A receita do melhor pastel de nata de Portugal é simples — e tem mais de 80 anos

Há 80 anos, uma atriz em fato de banho inspirou o nome da Pastelaria Aloma, local onde hoje se faz o melhor exemplar do doce nacional.
Todos os dias saem fornadas e fornadas.

Farinha, ovos, açúcar, leite, manteiga. Na cozinha onde se faz “o melhor pastel de nata do País” não há grandes invenções ou recheios estrambólicos. O segredo reside sobretudo na técnica que se tem revelado vencedora e que voltou a levar a Pastelaria Aloma ao título da 15.ª edição do concurso focado apenas nesta especialidade da doçaria nacional.  

“Não vou mentir. Já estávamos à espera”, revela sem falsas modéstias João Castanheira, proprietário da Aloma desde 2009, espaço que já venceu o concurso noutras duas ocasiões. “Quando entramos neste género de concursos é para ganhar. Acreditamos na nossa receita, dedicação e trabalho, por isso, já esperávamos este desfecho feliz.”

A previsão da vitória não apagou a emoção no momento de ouvir o nome da Aloma. “É sempre emocionante, porque é o reconhecimento do nosso trabalho e do facto de permanecermos no topo e não desaparecermos. Mas desta vez foi ainda mais especial porque nos últimos meses tivemos a fábrica em obras, o que nos obrigou a uma logística gigante.”

A Aloma está aberta desde janeiro de 1943 e enverga o título de Loja com História. Inaugurada pela altura da Segunda Guerra Mundial, funcionava como uma pequena pastelaria com todos os doces típicos na montra. O nome, confessa João Castanheira, surgiu de uma “coincidência”.

Em frente ao local onde a pastelaria foi instalada existia o Cinema Europa, onde passavam filmes estrangeiros. Em exibição na altura estava “Aloma of the South Seas”, no qual a personagem principal, uma mulher esbelta, surge de fato de banho numa das cenas. “Os donos adoraram a senhora e decidiram usar o nome.”

A receita que conquistou o título de Melhor Pastel de Nata de Portugal é a mesma há 80 anos. “Usamos a mesma base do início da pastelaria e apenas vamos ajustando os ingredientes porque a farinha que existe agora, não é a mesma de antigamente”, justifica. De resto, estas natas mantêm-se “pouco doces, com um folhado crocante e um creme com uma consistência excelente, que não escorre”. E para chegar “ao ponto” passam por um processo que leva mais de duas horas. “É muito trabalhoso, porque abrimos a massa toda à mão, é feito tudo pelos pasteleiros, sem máquinas. Se uma fornada corre mal, vai tudo para o lixo e recomeça-se.”

Os pastéis de nata da Aloma são, na sua maioria, feitos na fábrica da marca no Jardim Constantino, em Arroios e finalizados nas cinco lojas — quatro em Lisboa e uma em Vila Nova de Gaia. No entanto, alguns dos espaços, nomeadamente o de Campo de Ourique, fazem as suas próprias fornadas. Desta forma conseguem assegurar que os clientes conseguem ver todo o processo e podem provar os doces acabados de sair do forno.

Cada exemplar custa 1,20€ atualmente, mas João Castanheira não adianta quantos são vendidos por dia. Revela apenas “que são mesmo muitos” e que espera que esse número cresça exponencialmente após a quarta vitória no concurso.

É tudo feito à mão.

A competição que dá a conhecer o Melhor Pastel de Nata do País regressou este mês para a 15.ª edição. Entre os 12 finalistas que estavam em competição houve ainda espaço para honrosos vencidos: a Pastelaria Batalha conquistou o segundo lugar; e o terceiro foi para a Padaria da Né (Damaia). Ao conquistarem os três primeiros lugares nesta edição, garantem a presença na grande final de 2025.

Na lista constavam a Confeitaria Glória, O Pãozinho das Marias, o Altis Belém Hotel & Spa, o Bread & Friends, a Casa do Padeiro, a Castro – Atelier de Pastéis de Nata, a Nat’elier, o Pão da Ribeira e a Pastelaria País dos Doces.

O processo arrancou com a inscrição de vários estabelecimentos que produzem este doce na área metropolitana de Lisboa. Seguiram-se três dias de provas, entre 11 e 13 de setembro, no Centro Lexus Lisboa, onde os jurados experimentaram os pastéis de nata de forma anónima, com o intuito de assegurar avaliações imparciais.

A escolha dos doze finalistas resultou dessas provas, com a composição do júri a incluir chefs, jornalistas, enólogos, bloggers e escritores, num total de oito membros. Entre o grupo estavam nomes como Diogo Lopes, chef de pastelaria do Ritz Four Seasons; Lara Figueiredo, chef de pastelaria do Penha Longa Resort; João Pedro Gomes (investigador e professor de gastronomia) e Domingos Soares Franco (enólogo).

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Rua Francisco Metrass 67
    1350-139 Lisboa
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