A marca Kinder, palavra que em alemão significa “miúdo”, evoca também um sentimento de nostalgia para muitos adultos. As barras de chocolate com leite fazem parte da rotina de muitas famílias portuguesas e de outras tantas por todo o mundo. Aqueles que eram miúdos há 20 e 30 anos já cresceram e, possivelmente, têm os seus próprios filhos, mas uma coisa permanece inalterada: os modelos nas caixas das barras.
A Ferrero, empresa responsável pela marca, já lançou várias edições das embalagens de chocolate, mas as mudanças foram mínimas. Embora o design do lettering tenha sido modernizado, o conceito original, que apresenta um menino sorridente e um fundo em vermelho e branco, mantém-se.
Decorridos mais de 20 anos, os miúdos das caixas da Kinder também envelheceram — e, agora, apresentaram-se oficialmente ao mundo. O mais novo, que foi o rosto da marca entre 2004 e 2019, chama-se Matteo Farneti, hoje com 31 anos, é natural de Bolonha (Itália); o mais velho, Günter Euringer, é de Munique (Alemanha), e tem atualmente 62 anos.
O roubo de identidade
Os miúdos de cabelos castanhos claros e olhos azuis são reconhecidas em todo o mundo, mas poucos conheciam a sua verdadeira identidade. A Ferrero nunca os tinha identificado — e alguns rapazes (hoje adultos) parecidos com os da Kinder, alegavam ser os retratados nas caixas.
Cansado de ser vítima de usurpação de identidade anos a fio, Matteo Farneti sentiu necessidade de se manifestar publicamente no final de 2024 e revelou ser “o miúdo da Kinder”.
A revelação foi confirmada pela Ferrero em comunicado oficial, que dissipou as dúvidas: “Podemos confirmar que o miúdo retratado na embalagem do chocolate Kinder, entre 2004 e 2019, era Matteo Farneti”, esclareceu a marca italiana, citada pelo jornal “El Español”.
Farneti decidiu apresentar-se publicamente, após um apresentador de televisão italiano, Alessandro Egger, ter partilhado fotografias suas com a caixa de chocolate, insinuando que poderia ser o menino da imagem.
Em resposta, Farneti decidiu falar com o “Corriere della Sera” e expor a verdade: “Como existem pessoas que se fazem passar por mim, decidi pôr um ponto final a esta situação.” E não deixou de manifestar a sua perplexidade: “Se realmente trabalharam para a Kinder, por que não mostram as suas próprias fotos em vez de usarem as minhas? Não é agradável ver imagens da nossa infância nas mãos de outros que se vangloriam de ser aquele miúdo.”
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Atualmente, Matteo Farneti conta com mais de 44 mil seguidores no Instagram, onde partilha o seu quotidiano como modelo e ator, profissões que concilia com a sua licenciatura em gestão desportiva.
O italiano sentiu necessidade de se justificar porque já tinha sido rotulado de mentiroso e estava cansado de ter de desmentir a acusação, sobretudo às marcas com quem trabalha como modelo.
Além do apresentador Alessandro Egger, ao longo dos anos, surgiram vários jovens que alegaram ser “o miúdo da Kinder”, como Josh Bateson, um modelo britânico. Contudo, apenas mais um homem foi reconhecido pela Ferrero como o rapaz das embalagens: Günter Euringer.
O rosto que vendeu um milhão de barras
Günter Euringer, agora com 62 anos, foi o rosto da Kinder entre 1973 e 2004, revelou na sua autobiografia, “O rapaz do chocolate”, publicada em 2005. No livro, o alemão conta que viveu uma “vida secreta” durante a infância e as razões que o levaram a manter silêncio por tanto tempo.
A história começou em 1973, quando a mãe, que trabalhava numa agência de publicidade, o levou a uma sessão fotográfica sem lhe revelar do que se tratava. Ao ver a sua imagem nas caixas de chocolate nas prateleiras dos supermercados, Euringer, então com 10 anos, ficou feliz e orgulhoso, mas decidiu guardar segredo.
Os amigos e vizinhos que o reconheciam perguntavam-lhe quanto dinheiro tinha ganho com aquela sessão, assumindo que estava milionário por ser a imagem da Kinder. Contudo, a realidade era bem diferente: a marca pagou-lhe apenas cerca de 300 marcos alemães, o equivalente a 150€. Euringer nega ter recebido qualquer compensação por cada caixa vendida — se assim fosse, “estaria milionário, pois foram vendidas mais de um milhão de barras ao longo dos anos”.
Após a publicação da autobiografia, Euringer ficou satisfeito por poder dissipar rumores de que o primeiro menino da Kinder havia caído no mundo das drogas ou do álcool. A verdade é mais simples: o alemão, que é pai de dois filhos, leva uma vida saudável como cineasta, e mora perto de Munique.
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