Gourmet e Vinhos

Antunes da Silva é o primeiro water sommelier português. Já provou 200 marcas de água

Tem uma profissão pouco comum em Portugal. Também já bebeu variedades de todos os países da Europa — e não são todas iguais.
É um verdadeiro perito.

O sommelier ou escansão (a designação comum em Portugal) é a pessoa responsável pela carta de vinhos de um restaurante ou bar. É mais conhecido como um especialista que sugere aos clientes as opções que melhor combinam com os pratos pedidos. Porém, estes profissionais não trabalham apenas com vinhos. Existem sommeliers de muitas outras bebidas, com ou sem álcool: de saquê, de cerveja, de chá e até de água. Sim, há especialistas neste líquido essencial à vida que nos podem ajudar a descobrir o nosso favorito.

Em Portugal existem inúmeros sommeliers de vinho, alguns de cerveja, entre eles Vitor Hugo Meirelles, que foi considerado um dos melhores do mundo. E um de água.

Antunes da Silva, de 58 anos e é apaixonado pela bebida habitualmente descrita como inodora (não tem cheiro), incolor (não tem cor) e insípida (que não tem gosto). Questionar este último “i” é, precisamente, a missão que chamou a si: mostrar que nem todas as águas têm o mesmo sabor — algo que facilmente podemos comprovar ao viajarmos pelo mundo ou mesmo dentro do País.

“Um water sommelier é alguém que prova a água e que a explica aos outros, ou seja, é um facilitador da experiência que é beber água“, explica à NiT. Da mesma maneira que num restaurante existe uma pessoa que nos explica o vinho antes de provar um prato, há quem faça o mesmo, mas com esta bebida tão vital à nossa existência.

Antunes da Silva é geólogo de profissão, e trabalha com águas minerais e de nascente desde 1991. É consultor numa empresa que as produz e, tal como nos explica, prova todos os lotes criados. “Foi nestas situações que comecei a ganhar este gosto”, revela. Para transformar a paixão em algo mais sério, decidiu investir na formação. Em 2018 obteve a certificação como water sommelier na Doemens Academym uma escola que forma peritos em diferentes tipos de bebidas, perto de Munique, na Alemanha.

Agora partilha os seus conhecimentos através de sessões de provas, a última foi há poucos dias. A 22 de março deu um workshop em Vila Nova de Gaia que esgotou. Antunes da Silva explica que as pessoas que se inscrevem chegam com a mente aberta e já com noção de que as águas não são todas iguais.

Mas afinal, o que influencia o sabor deste líquido? A resposta é algo complexa e precisa de contexto, por isso, começa por explicar o ciclo da água: evapora, cai sobre a forma de chuva, neve ou gelo, escorre para o mar e o processo repete-se. “Dentro deste ciclo há uma etapa que é pouco referida e, por isso, menos conhecida. A água, ao cair, infiltra-se em profundidade e entra em circulação subterrânea. As águas minerais naturais e as de nascente fazem parte desse ciclo hidrológico e circulam em profundidade”, aponta.

Ao fluírem debaixo da terra vão estar em contacto com as rochas por pouco ou muito tempo. Aí acontecem reações químicas que não se dariam à superfície. Alguns elementos que fazem parte da constituição das pedras acabam por passar para a água e isso afeta o sabor da mesma. Tal como o vinho, “não há duas águas iguais”, garante o sommelier.

Nos workshops, Antunes da Silva explica todo este processo. Após este momento mais teórico, chega a altura dos participantes provarem diferentes propostas. Dá a conhecer maioritariamente águas lisas, ou seja, sem gás, e algumas que têm na sua composição uma certa gaseificação natural. “Uso apenas produtos naturais, sem nenhuma adição de gás.”

Aquele que é o primeiro water sommelier de Portugal pode orgulhar-se de algo que poucos podem dizer: ao longo dos anos já provou entre 100 a 200 marcas de água diferentes. Além disso, já testou águas de todos os países da Europa, bem como de alguns de África e América do Sul. Porém, considera que “não há nenhuma que se destaque por ter um sabor mais atípico”. No que diz respeito às águas portuguesas, afirma que “são espetaculares, visto que são analisadas desde a captação até ao momento de serem engarrafadas”, assegura.

As sessões de formação que conduz e o trabalho que desenvolve têm um objetivo: “Que as pessoas não bebam água por beber”. Tal como muitos leem os rótulos dos alimentos quando vão ao supermercado, Antunes da Silva quer que façamos o mesmo para as águas engarrafadas. “Devíamos fazer um perfil químico para que consigamos perceber de quais gostamos mais.”

E acrescenta que a preocupação em diversificar a dieta (variando os alimentos que comemos), devia estender-se à água que bebemos (que também devia variar). “Também são boas para a nossa saúde. Claro que não têm o mesmo teor de cálcio que o leite, por exemplo, mas graças às rochas por onde passam, podem trazer este nutriente ao nosso corpo”, explica.

Como sabemos, o elemento-chave nos chás é a água. Carregue na galeria e conheça alguns que o ajudarão a perder peso.

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