Gourmet e Vinhos

Estas gémeas de 23 anos criaram um tinto para “jovens que não gostam de tintos”

Margarida e Mariana Pinto cumprem a tradição da família sob o nome de Casal da Viúva.
Têm 23 anos.

Quando os maridos de Leonor Alves Teixeira e Ermelinda de Amaral morreram, as duas mulheres, sogra e nora, podiam ter se entregue ao luto e à vida rotineira de donas de casa. Fizeram o oposto. Arregaçaram as mangas e trataram da terra e da produção de vinho caseiro de uma forma praticamente inédita para a altura. O neto Manuel Cardoso Pinto decidiu homenageá-las e batizou as vastas terras que as duas conquistaram de “Casal da Viúva”. Agora, as bisnetas, com apenas 23 anos, criam vinhos que nascem nas videiras centenárias com o mesmo nome.

Margarida e Mariana Pinto são gémeas e licenciadas em gestão. Das gerações anteriores herdaram o gosto pela agricultura e enologia. O avô materno, também ligado à área, foi um dos primeiros a produzir vinhos reserva em várias adegas da região como Santa Marta, Penajóia, Mesão Frio e Vila Flor. “Desde que nascemos que temos o mundo agrícola presente. Os nossos pais e avós são engenheiros agrícolas e sempre cultivamos uvas para depois vendermos para a produção de vinho. Na nossa casa sempre se falou sobre vindimas, prevenir e tratar pragas e ficar atento à meteorologia. Nós acabamos por herdar esse gosto”, referem as irmãs.

Durante a pandemia, com o mundo parado, a família continuou a tratar das vinhas e da produção. Mas as gémeas estavam preparadas para avançar com outro projeto: o lançamento de um vinho de produção própria, o Casal da Viúva. “Estávamos a tirar a nossa licenciatura em gestão e ficamos com muito tempo livre nos confinamentos. Então achamos que podia ser a altura ideal para nos lançarmos em algo de que falávamos há muitos anos. Desafiamos vários jovens talentos que conhecíamos — um designer para produzir os rótulos com as bonecas alusivas às viúvas e depois com um produtor. Meses mais tarde criamos uma referência branca”, diz.

O Casal da Viúva foi lançado em 2021 e foi dado a provar, primeiro a amigos e família, para terem feedback. “Optamos por um vinho branco, porque era o que mais apreciámos na altura, aquele que os jovens mais gostam e levam para jantares. Usamos viosinho, códega do larinho e gouveio e deixamos a estagiar durante três meses em cubas de inox. Tem 13,5 por cento de volume alcoólico e o feedback é que tínhamos um vinho leve e frutado”, refere Margarida, de 23 anos.

Queriam, desde logo, avaliar o mercado e perceber como o público reagiria a mais uma referência do Douro. Colocaram 600 garrafas à venda e apenas sobraram 50, um feito que as deixa orgulhosas, porque apenas usaram a comunicação nas redes sociais para chegarem aos clientes. “Não estamos em garrafeiras, nem em distribuidoras, porque primeiro queríamos perceber se havia espaço para o Casal da Viúva”, adianta.

Em 2024 aventuraram-se com a produção do primeiro tinto, mas sabia que tinham algumas características que queriam ver atendidas. “Os jovens não são muito apreciadores de tintos. Normalmente acham que será algo mais pesado e encorpado. O nosso desafio era mostrar que conseguíamos ter algo diferente. Usamos as castas tradicionais do Douro, como a touriga nacional, tinta barroca e touriga franca e o resultado foi uma bebida leve, que combina com qualquer momento, sem precisar de um prato a acompanhar.” A versão tinta estagiou durante 18 meses em barricas de carvalho francês e tem um volume alcoólico de 13,5 por cento. Cada garrafa, tal como as de branco, são vendidas a 10€.

O rótulo da referência branca.

Usaram o mesmo processo que tinham feito com o branco, com a mais-valia de que conseguiam entregar em mão no Porto, em Lisboa, Lamego, Régua e Coimbra. Atualmente, das 750 que finalizaram em novembro, já venderam 150. O próximo passo será mais ambicioso, mas o completar de um ciclo que começou há cinco gerações: produzir o próprio vinho, já na próxima colheita.

“Fazemos parte de uma história enraizada no Douro, onde a herança das nossas raízes se reflete em cada garrafa de vinho que criamos. Do lado materno, herdámos a paixão e o profundo respeito pelas terras durienses, um amor incondicional pela vinha e pelo trabalho árduo que dela nasce. Do lado paterno, recebemos o espírito de determinação feminina e a coragem para continuar um legado sem receios e visão”, explica.

Margarida e Mariana têm noção que o negócio dos vinhos é complicado e desafiante. No entanto, contam com a ajuda dos pais, Luís e Zulmira, e dos avós para colocar tudo a funcionar. “Temos muita ajuda e aproveitamos o melhor que cada um sabe fazer para que isto resulte”, sublinha. Este apoio na organização das vindimas, na gestão das pessoas e no tratamento das vinhas permite que continuem focadas nos respetivos mestrados na área financeira e que se dediquem em part-time à enologia.

“Sabemos que somo novas e ainda temos muito para aprender. Por isso queremos dar oportunidade para isso mesmo, para aprendermos com quem sabe e que nos pode ajudar. Além disso, também queremos poder dedicar-nos a áreas diferentes e igualmente desafiantes. No entanto, o Casal da Viúva será sempre um projeto muito querido e no qual queremos continuar a investir.”

O alojamento local

O Casal da Viúva é também o nome que os pais das gémeas decidiram dar ao alojamento local que criaram em Armamar. “O nosso bisavô nomeou todas as terras herdadas das viúvas de Casal Viúva. Foi uma homenagem. Em 2015, os nossos pais transformaram a casa dos trabalhadores que fica adjacente à casa dos nossos avós num espaço com seis suítes, onde os nossos hóspedes podem sentir-se emergidos na tranquilidade do meio rural.”

O alojamento local está situado entre Lamego, Tabuaço, Moimenta da Beira e Armamar, numa das várias terras da família. Ali têm também parte das vinhas onde nascem as uvas que são usadas para o vinho que as jovens produziram.

O espaço está disponível para reserva no Booking, ou através de mensagem no Instagram. Uma noite custa cerca de 85€ com pequeno-almoço incluído e oferece a oportunidade de provar o vinho com o nome da casa.

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