Os custos das idas ao supermercado têm aumentado de forma significativa nos últimos anos. E, com o Natal aí à porta, os portugueses começam a fazer contas à festa. Entre os aumentos já conhecidos no azeite e conservas, podem agora contar também com um custo acrescido no bolo-rei e outros doces da quadra.
“Estes aumentos nos preços das matérias-primas estão a pressionar os produtores a repassar os custos adicionais para os consumidores. Como resultado, os preços dos doces de Natal aumentaram quase 20 por cento”, adianta a Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares (ACIP) ao jornal “ECO”, acrescentando que o preço do bolo-rei aumentou cerca de um euro em relação ao ano anterior.
Nos últimos dois anos, a subida acentuada dos preços tem gerado consequências significativas na indústria e, evidentemente, nos orçamentos dos consumidores. Um dos fatores que contribui para esta situação é o aumento dos custos das matérias-primas, com ênfase no cacau e nos ovos. Apesar de a inflação ter um papel importante nesta problemática, não é o único elemento a ser considerado; as alterações climáticas também desempenham um papel relevante.
Só no último ano de cultivo, a produção de cacau atingiu quase cinco milhões de toneladas mundialmente. No entanto, cerca de 60 por cento deste volume teve origem na Costa do Marfim e no Gana, segundo os dados divulgados pela Plataforma Suíça para o Cacau Sustentável. Estes países correm o risco de se tornarem, até 2050, demasiado quentes para o cultivo do cacau, uma vez que o clima tem estado mais seco do que o habitual, o que tem resultado numa diminuição acentuada da produção, sublinha o relatório Endangered Aisle da Fundação Fairtrade.
Um exemplo claro desta situação é o facto de a Agri-Way Partners ter comunicado, a 21 de fevereiro, que o Ghana Cocoa Board reduziu a sua previsão de produção para o nível mais baixo em 14 anos. As alterações climáticas foram apontadas como uma das razões, mas não a única. O relatório também menciona o impacto do contrabando, destacando que a criminalidade provocou uma perda de 150 mil toneladas de cacau no Gana na última temporada, o que representa um prejuízo de cerca de 550 milhões de euros.
Além do chocolate, também a manteiga atingiu recordes nos últimos meses. A 29 de setembro, estava a ser negociada a 7991,80 euros por tonelada. Estes números representam um aumento de 78 por cento em relação ao ano anterior, segundo os últimos dados oficiais da Comissão Europeia. Por cá, o aumento foi de cerca de 30 por cento, “impulsionado pela crescente procura e pela redução na oferta de leite em algumas regiões, afetando especialmente produtos de pastelaria que utilizem grandes quantidades de manteiga”, como nota o “ECO”.
A par deste aumento, o preço do açúcar também subiu cerca de 20 por cento e as frutas também estão mais caras. A maçã Gala, por exemplo, também tem sofrido uma escalada de preços desde o início do ano, posicionando-se entre os três produtos com maiores aumentos. Atualmente, custa 2,36€ por quilo, mais 0,19 cêntimos do que anteriormente.