Este domingo, 15 de janeiro, vão ser comidos muitos braços, pés e animais. Não se preocupe: não se trata de nenhum ritual estranho ou diabólico. Para as bocas vão apenas bolos com essas formas — mas não são uns quaisquer. São as famosas fogaças, a “joia da pastelaria de Palmela”, segundo Luís Miguel Calha, vereador da Câmara Municipal de Palmela.
Quando se trata de bolos secos, que não passam muito de canela, açúcar e erva-doce, parece estranho ouvir que há um “único e diferente de todos os outros”, mas é o que acontece com este. Considerado um “ícone da doçaria local” pela autarquia, “é um produto único e que tem muita história”, garante-nos o vereador. Não é por acaso, então, que sejam feitos gelados, licores, crumbles e cheesecakes com ele.
Ainda que os biscoitos estejam presentes em qualquer mesa da vila, sempre acompanhados por um bom copo de moscatel ou um vinho tinto da região, neste mês, as fogaças ganham um maior destaque. Já percebeu que os próximos dias em Palmela vão ser muito saborosos e criativos. Os fins de semana gastronómicos estão de regresso e começam logo com várias sugestões com os bolos como protagonistas. Não antes, claro, da Bênção das Fogaças na Igreja de S. Pedro.
Contam os antigos que, no dia de Santo Amaro, as pessoas levavam as famosas fogaças de Palmela dentro de cestos de verga revestidos com panos bordados à igreja paroquial para serem benzidas. “As formas estavam relacionadas com o problema que tinham e que queriam ver resolvido”, diz à NiT Luís Miguel Calha, vereador da Câmara Municipal de Palmela.
Era assim, uma espécie de ritual em forma de promessa. Depois de benzidas, uma parte delas era leiloada a favor da igreja. A outra, as pessoas levavam para casa e todos os elementos da família comiam, incluindo os animais. Este ano não vai ser diferente e a tradição vai cumprir-se às 11h30 de dia 15 de janeiro.
“Esta iniciativa, promovida pela Confraria Gastronómica de Palmela e pela Paróquia de Palmela, com os apoios do Município e da Junta de Freguesia, contribui para a valorização e divulgação deste deste produto local, além a preservação da memória e raízes da comunidade”, explica Luís. E porque este não é o único artigo da oferta gastronómica da região, o “Palmela – Experiências com Sabor!” vai entrar, mais uma vez, em ação.
Ao todos, são 11 restaurantes que participam no programa e que criam receitas com vinhos, queijos e licores da região. Na próxima quinta-feira, 19 de janeiro, pelas 16h30, será apresentado publicamente o calendário de 2023, na Casa Mãe da Rota de Vinhos.
À NiT, contudo, já revelaram quais os espaços envolvidos. Serão eles: a 3.º Geração, que já nos habitou ao seu gelado, o Âncora & Serrano, o Casa Mãe da Rota de Vinhos, o Culto Café, o Dona Isilda, Mar Até Cá, A Moagem, e o Taverna Ladeira. O Casa da Pimenta também está incluído na lista, com o seu bolo de fogaça, e O Telheiro, com a tarte merengada com fogaça.
O primeiro Fim de Semana Gastronómico da Fogaça de Palmela acontecerá de 20 a 22 de janeiro. Segue-se, depois, o de 27 a 29 de janeiro. Mas a festa não termina aqui e pode ainda contar com mais iniciativas ao longo do ano, como concursos gastronómicos e de doçaria, show cookings, workshops, ações de formação e qualificação dirigidas a profissionais da hotelaria e restauração, cursos de vinhos, provas comentadas, entre outras.
Em 2023, o “Palmela – Experiências com Sabor!” vai ter como madrinha a Chef Marta Nunes. “Fizemos-lhe o convite por partilhar os ideais desta dinamização”, conta Luís Miguel Calha. “E ficámos muito honrados que a chef tenha aceite este nosso convite”. Natural de Palmela, a jovem participou recentemente no Campeonato do Mundo de Culinária, no Luxemburgo, integrando a Seleção Nacional de Cozinha (Equipa Júnior de Competição Culinária), que conquistou duas medalhas de bronze.
“Além de ter um percurso interessante nesta área e de ser uma apaixonada pela nossa cozinha e pela nossa região, é uma pessoa da terra que se preocupa em incentivar o consumo de produtos locais. Tal como todos nós, importa-se com a pegada ecológica e a reutilização de produtos”, garante o vereador do turismo do município. “Tenho a certeza de que será uma excelente embaixadora e vai representar a nível nacional e internacional a gastronomia do concelho de Palmela da melhor forma”.
A escolha reflete, segundo o próprio, aquilo que querem manter: “elevar os padrões de qualidade da oferta e continuar a preservar os costumes, incentivando, porém, à inovação”. Luís Miguel Calha adianta ainda que esta aposta forte na gastronomia faz parte da estratégia turística que o município tem vindo a seguir.
Para o programa deste ano, os visitantes podem esperar uma “experiência única, ligada aos conhecimentos do património cultual, ambiental e turismo”. O fator surpresa está prometido. Afinal, não é todos os dias que se encontra bacalhau com crosta de fogaça ou bife de peru panado com o bolo.
Se gostava de experimentar fazer fogaças lá em casa, a NiT mostra-lhe uma receita infalível, cedida pela Confraria Gastronómica de Palmela.
Do que precisa
— 500 gramas de pão em massa
— sumo de duas laranjas
— 500 gramas de açúcar amarelo
— raspa de uma laranja
— três ovos (um deles para pincelar)
— um cálice de aguardente
— 125 gramas de banha
— 1/1.200 kg de farinha
— canela (+/-30 gramas)
— erva doce (+/-50 gramas)
Como se faz
Ligam-se os ovos ao pão em massa. Juntam-se, depois, o sumo, a raspa da laranja, a banha, o açúcar, a canela, a erva doce e, finalmente a farinha. Depois de estar tudo bem envolvido e amassado, deixa-se levedar durante meia hora. Em seguida, pode moldar as fogaças nas formas que quiser e pincelar com o ovo batido. Ponha tudo a cozer num tabuleiro untado, em forno moderado (180º).