“O esparguete é só um tubo. Ao fim de algumas dentadas, é tudo igual”, atira. Dan Pashman não esconde que, para si, nem toda a pasta está em pé de igualdade. “Vou arriscar dizê-lo: o esparguete não presta.” E o que faz um podcaster inconformado e apaixonado por comida? Cria a sua própria pasta.
Não foi uma tarefa fácil para o podcaster e criador do “The Sporkful”, que arriscou seriamente enraivecer uma multidão de fervorosos e orgulhosos italianos. Um americano a intrometer-se na velha tradição de um povo? Pashman puxou da ciência para se justificar.
“A esparguete é redonda no exterior. Isso significa que tem uma reduzida área de superfície relativamente ao seu volume, o que por sua vez significa que o molho não tem onde se agarrar. Significa também que menos massa entra em contacto com os dentes quando lhe damos a primeira dentada. Há todo um romanticismo em torno do esparguete, mas esparguete e almôndegas nem sequer é uma tradição italiana”, justifica.
Só uma boa dose de loucura e obsessão poderia servir de desculpa para os três anos que Pashman dedicou à criação de um novo tipo de massa. Uma aventura que, claro, deu origem a uma série de cinco episódios de um podcast, de nome “Mission: ImPASTable”.
O resultado é uma massa curta, curva e recheada de duas longas reentrâncias com abas num a espécie de folhado. “As minha influências foram o bucatini e a mafaldine. Retirei delas aquele ondulado lateral e uma espécie de componente em tubo”, explica ao “USA Today”. Batizou a de cascatelli, um jogo de palavras sobre a palavra italiana para cascata.
O plano para a criação foi metódico e assentou em três características que considerou serem essenciais. A primeira, a capacidade de reter e transportar o molho, de preferência um de consistência mais densa. “Diria que qualquer coisa mais grossa irá ficar presa no ondulado. [A massa] vai absorver o molho na área entre o ondulado, no pequeno desfiladeiro. Qualquer coisa com pequenos pedaços, como um molho de carne, vai agarrar-se muito bem”, explica.
À segunda característica chamou forkability, isto é, a facilidade com que a massa pode ser agarrada pelo garfo. E, por fim, a trincabilidade ou o nível de satisfação que cada massa dá ao ser trincada. “Muitas massas são boas a fazer uma ou duas destas coisas, mas muito poucas conseguem fazer bem as três.”
Desde logo, Pashman quis encontrar os ângulos certos, mantendo uma capacidade da massa cozer de forma homogénea. “Demasiada variação na cozedura seria mau, porque acabarias com partes duras e outras mais empapadas. Mas variações subtis criam uma sensação a que os cientistas chamam de ‘contraste dinâmico’, as variações de textura numa só dentada.”
Não foi um desafio fácil, sobretudo porque Pashman nunca poderia criar e produzir a massa sozinho. A maioria das abordagens feitas aos fabricantes foram ignoradas ou simplesmente rejeitadas.
“Abordei isto com a perspetiva de um estranho. Não sou chef, não sou italo-americano, nem sequer um especialista em pasta ou historiador. Abordei a coisa apenas do ponto de vista de um apaixonado por massa.”
O formato final não foi sequer o desenho que idealizou desde o início. Só havia um homem no país capaz de fazer o molde que ele pretendia. E quando foi feito, avariou-se — momento em que perceberam que não ia funcionar e teriam que repensar todo o processo.
A sorte mudou quando a sua ideia agradou a uma pequena empresa nova-iorquina chamada Sfoglini, que o ajudou a completar o processo e, finalmente, a comercializar o cascatelli, que já está à venda nos Estados Unidos. Não se sabe se estará disponível em Portugal. E, por enquanto, os sempre desconfiados italianos ainda estão por anunciar o veredicto sobre se esta nova pasta é uma heresia — ou uma delícia.