Qualquer apreciador de vinho sabe que por detrás de uma referência costuma haver uma boa história. Filhos que inspiram pais, lendas de regiões ou paixões. Tudo pode ser usado como embalo e começo de novos sabores e combinações. Na aldeia de Constantim, no concelho de Vila Real, o cenário não foi diferente e foi mesmo a tradição a dar origem ao mais recente filho da terra.
Chama-se Mabitxo Branco 2022 e é o novo vinho da marca homónima. Criado por Fernando Pinto, de 42 anos, é “leve, fresco, aromático, tem uma boa acidez e um final de boca agradável”. Muito resumidamente, não deixa ninguém indiferente e quem o garante é o próprio fundador.
O projeto, que conta com o apoio do enólogo Luís Rodrigues, não é novo. Arrancou há cinco anos, mas foi ganhando forma com o recente rebranding e a construção de uma nova adega “com outros melhoramentos, máquinas e capacidades”. Continua a ser um negócio familiar, baseados nos métodos tradicionais de produção, “mas já não é como antigamente”.

Sim, porque esta história começa com a família e com algumas das vinhas centenárias de Constantim. Mas já lá vamos. Feito com diferentes castas dos quase dois hectares de vinha da família e das uvas compradas a alguns agricultores da aldeia — Malvasia Fina, Viosinho, Codega de Larinho, Arinto, Rabigato, Fernão Pires e Vinhas Velhas — o Mabitxo Branco 2022 (cerca de 6,50€) é perfeito para ser bebido à beira-mar, com amigos, enquanto petisca. “Pode também acompanhar saladas e pratos de peixe, mas é numa esplanada, com um bom queijinho e uns doces que fica mesmo incrível”, explica Fernando.
Para chegar ao resultado final, foi necessário passar por um processo de vinificação conhecido como bica aberta, no qual as uvas são colocadas no esmagador/desengaçador e as massas bombeadas para a prensa. Depois de o líquido da fruta ser enviado para as cubas de fermentação, Fernando garante que o produto está pronto para entrar no mercado.
O mesmo está a acontecer com o Mabitxo Tinto Reserva 2019 e o Rosé 2021. Ambos juntam as castas Tinta Amarela, Bastardo, Tinta Carvalha e Vinhas Velhas e vão ser lançados em breve. Por enquanto, a encomenda e venda pode ser feita nas redes sociais da marca vínica (no Facebook e no Instagram) ou diretamente através do contacto 964578807. Em Lisboa, pode encontrar o branco em restaurantes como Lobo Mau, Beer & Wine Up, Casa da Vila e a Churrasqueira D. Pedro.
Ainda que o fundador ambicione chegar às garrafeiras nacionais, não tenciona dar já esse passo. “Gosto é do contacto direto com os compradores, de falar com eles, explicar toda a história e produção”, realça. Isto porque, como começámos por apontar, esta é uma marca inspirada pelas raízes e pela tradição — e são o velhote e a cabeça de vaca presentes no rótulo, mesmo ao lado da palavra Mabitxo, que começam por contar essa narrativa.

Tudo começou com o desejo de dar continuidade ao legado vínico familiar que já soma três gerações. Foi quando Fernando terminou a sua formação em ensino de 1.º e 2.º ciclo que decidiu largar tudo e “arriscar” numa nova profissão. “Ao mesmo tempo que estudava, já ajudava o meu pai. Cresci no meio das vinhas e da tradição da aldeia e percebi que era mesmo apaixonado por isso”, revela à NiT. Em 2018, candidatou-se a um projeto “Criação do Próprio Emprego” e, um ano depois, estava, finalmente, a construir a sua adega.
O nome Mabitxo foi a denominação que Fernando considerou a mais adequada para o empreendimento. Pode parecer estranho e até lembrar um filme de ação ou um clube de futebol, mas tem toda uma razão de ser. No fundo, não passa da junção de outras duas palavras — “mau” e “bicho”.
“Era a expressão que o meu avô utilizava para se referir aos animais que se recusavam a obedecer-lhe”, conta-nos. É que o senhor Abel era agricultor na aldeia de Constantim e tinha frequentemente de encaminhar os animais por vários percursos. “De vez em quando, lá calhava um mais rebelde” e ouvia-se a frase. O sotaque característico dessa zona a norte do País foi o grande responsável pela criação do termo.
A alcunha ficou e passou de geração em geração e é agora conhecida a nível nacional graças aos vinhos transmontanos que nascem das vinhas centenárias da família. É por isso — e por contar também com as vinhas do sogro, os ensinamentos do avô e algumas das uvas dos produtores da aldeia — que, ainda que Fernando Pinto seja o responsável pela marca, nos garante que se trata de um negócio familiar.