Vinho grátis, 365 dias por ano. Em Itália, existe uma fonte inesgotável onde os peregrinos podem encher os copos sem pagar um cêntimo. A única regra é simples: beber com moderação e respeitar o local.
A Fontana del Vino foi inaugurada em 2016 pela vinícola Dora Sarchese e situa-se na rota do Cammino di San Tommaso (“Caminho de São Tomás”), que liga Roma a Ortona. Este percurso de 313 quilómetros, repleto de igrejas, pontos históricos e paisagens deslumbrantes, termina na Basílica di San Tommaso Apostolo, que guarda os restos mortais do apóstolo. Mas antes de chegarem ao destino final, os peregrinos encontram uma motivação extra na cidade de Caldari di Ortona, a 230 quilómetros da capital italiana.
As regras da fonte são claras: basta abrir a torneira, encher o copo com vinho tinto Montepulciano d’Abruzzo e voltar a fechá-la quando estiver saciado. O acesso está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana, com a supervisão de um vigilante que garante que menores não consomem a bebida.
A ideia partiu de Dina Cespa e Luigi Narcisi, responsáveis pela organização sem fins lucrativos Cammino di San Tommaso, que mantém a rota de peregrinação. Inspiraram-se na Fuente del Vino de Bodegas Irache, uma fonte semelhante localizada no Caminho de Santiago, em Espanha. A diferença é que, em Itália, o vinho é completamente gratuito.
Construída dentro de um antigo barril, a fonte oferece aos peregrinos uma experiência imersiva. À entrada, uma inscrição dá-lhes as boas-vindas: “Beba vinho, porque não sabe de onde veio; seja feliz, porque não sabe para onde irá.”

Apesar do acesso livre, a Dora Sarchese sublinha que não quer ver “bêbados” ou arruaceiros no local. Pedem respeito pela causa e pelo espaço que, garantem, não foi criado como “um golpe publicitário”, mas para promover o turismo da região e atrair mais visitantes. “Queremos divulgar o nosso território, o Abruzzo, que é subvalorizado no turismo. Os visitantes passam por aqui a caminho de Puglia, mas não param. Eles não conhecem a beleza que esta região oferece”, lamenta D’Auria, citado pelo “The Independent”.
A fonte está integrada na propriedade da Dora Sarchese Winery, uma empresa familiar fundada nos anos 80 por Domenico D’Auria, carinhosamente apelidado de Mimì. Após a sua morte, em 2002, o legado passou para a sua mulher Dora e o filho Nicolas. Atualmente, Dora gere a cozinha da “Casa Dora”, dedicada à restauração e ao enoturismo, enquanto Nicolas está à frente da produção vinícola.
Uma das iniciativas mais notáveis da empresa é o projeto NITAE, que reúne mil videiras raras da casta Montepulciano, dispostas num padrão que forma uma rosa-dos-ventos. Todos os anos, amigos e entusiastas juntam-se para colher as uvas manualmente e participar na produção do vinho.
A Dora Sarchese Winery produz exclusivamente vinhos de castas autóctones da região, como Montepulciano d’Abruzzo, Trebbiano, Pecorino, Cococciola e Moscato. Atualmente, contam com 12 tipos de vinho, desde tintos a espumantes. Os visitantes podem participar em provas e levar para casa os seus favoritos. As reservas devem ser feitas através do e-mail sarchese.dora@nulltin.it, com preços a partir de 32€.
Como lá chegar
Para beber do néctar dos deuses, primeiro terá de apanhar um avião para Roma. De Lisboa há viagens por 189€, enquanto do Porto ficam por 219€ e de Faro por 361€. Depois de chegar à capital italiana, o melhor é alugar um carro. A viagem até à Dora Sarchese demora cerca de 3 horas.
