Para alguns, as férias de verão são sinónimo de excessos. O calor, as celebrações e o ambiente festivo podem levar a decisões que, em circunstâncias normais, pareceriam pouco sensatas — como utilizar uma garrafa de vinho avaliada em 12 mil euros para fazer uma sangria.
Se pensa que ninguém faria tal coisa, engana-se. Como tantas vezes acontece, a realidade ultrapassa a ficção — um grupo de amigos decidiu comprar dez garrafas de Château Petrus, no valor total de 120 mil euros, para misturar num cocktail de frutas e licores. O episódio teve lugar no final de agosto, no La Guérite, um beach club em Cannes, durante uma festa promovida pela Chingon Nights, uma empresa conhecida pela realização de eventos de luxo regados com alguns dos vinhos mais cobiçados do mundo.
Um vídeo partilhado pela empresa nas redes sociais mostra os jovens, rodeados por uma multidão, a abrirem quatro garrafas de Petrus para as despejarem num recipiente com fruta picada. A publicação, onde a Chingon Nights descreve o cocktail como “a sangria mais cara do mundo”, rapidamente se tornou viral, acumulando milhares de visualizações. Seguiu-se uma avalanche de comentários a criticar a atitude e lamentar “a falta de bom senso dos envolvidos”. A veracidade do episódio também tem sido amplamente debatida, com alguns utilizadores a sugerirem que o conteúdo das garrafas poderia não corresponder ao rótulo.
Autenticidade à parte, a discussão continua a ser alimentada tanto pelos defensores — que apelam ao “respeitos pelos gostos individuais” —, como pelos detratores, que defendem a “condenação dos jovens à pobreza”.
A polémica em torno do uso do Petrus numa sangria também provocou a indignação de especialistas em vinho, como o sommelier Xavier Dinet. Dono de uma das mais conceituadas garrafeiras da Riviera Francesa e escansão principal do Hôtel du Cap-Eden-Roc, Dinet considera o sucedido “um ultraje”.
“É um profundo desrespeito, sobretudo pelos produtores. Os viticultores trabalharam incansavelmente durante todo o ano para produzir aquelas garrafas. Misturar aquele vinho com laranja e transformo numa sangria é verdadeiramente vergonhoso”, afirmou Dinet, e declarações ao jornal “France 3 Régions”.
O sommelier terá contactado a propriedade Petrus e revelou que “assim que viram o vídeo, iniciaram uma investigação e tomaram uma decisão”. E acrescentou: “Tendo em conta o seu rigor, acredito que decidiram nunca mais vender o seu vinho ao restaurante onde o vídeo foi filmado. Estas grandes casas não toleram que os seus vinhos sejam consumidos de forma inadequada.”
Produzido em Pomerol, uma sub-região de Bordéus (em França), numa propriedade com apenas 11,5 hectares, o lendário Château Petrus é considerado uma obra-prima da vitivinicultura. Elaborado quase exclusivamente com uvas da casta Merlot, apresenta taninos sedosos e um bouquet complexo, possuindo sabores intensos a frutas e especiarias e um teor alcoólico de 13,5 por cento.
Presença garantida nas listas dos vinhos mais caros do mundo, é também um dos mais desejados. “Para a maioria dos apreciadores de tinto, o Petrus é o auge, o melhor dos melhores. É muito procurado em leilões devido à sua raridade, sendo considerado por muitos, o único que deve ser provado antes de morrer”, explica Alexandria Cubbage, vice-presidente do departamento de vinhos da leiloeira Sotheby’s.
Algumas garrafas já foram enviadas para a Estação Espacial, onde estagiaram durante 400 dias, enquanto outras continuam a ser altamente cobiçadas por colecionadores na Terra.
Leia também este artigo da NiT onde lhe contámos a história deste vinho, um dos mais exclusivos do mundo — e que se vende num supermercado em Portugal.
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