Guilherme Romão chegou a Portugal em 2016. Apesar de ter nascido em São Paulo, no Brasil, o pai era madeirense e a mulher tinha também família em Fátima. Já conhecia o País, quando veio para cá viver, com a certeza de que muito havia ainda por descobrir. Para trás ficavam vários anos de trabalho no Ministério dos Negócios Estrangeiros e no Consulado de Portugal no Brasil.
A ideia de fazer pão em casa surgiu ainda em 2019, um pouco antes da pandemia — e da febre que nos transformou a todos em padeiros temporários no primeiro confinamento, em março de 2020. “Já me interessava muito por pães mais naturais, comecei a pesquisar a fermentação natural, como fazer uma boa massa-mãe e a estudar a qualidade das farinhas. Adoro estudar então foi um processo muito enriquecedor. Era todo um mundo novo”, conta Guilherme à NiT.
Nessa altura, fazia apenas pão em casa para a família. Decidiu criar uma página no Instagram, para ir partilhando o seu progresso nesta área, a que deu o nome de Padeiro Paciente. “Para fazer bom pão, o tipo de pão que quero, é realmente precisa muita paciência. São mais de 24 horas para fazer um pão com sabor diferente”, garante.
Até que um dia, um seguidor da página enviou uma mensagem interessado em comprar o seu pão. Reticente, Guilherme recebeu com surpresa o pedido, mas decidiu aceitar. E, como em tudo o que é bom, a publicidade boca-a-boca foi fazendo o seu efeito e rapidamente vários amigos e vizinhos do primeiro cliente também fizeram encomendas.
Nessa altura, este era apenas um trabalho extra à sua atividade profissional. Na época, Guilherme trabalhava como tradutor para um site de tecnologia brasileiro. Em 2020 e a par com o nascimento da sua filha Beatriz, o jovem padeiro decidiu dar outro nome ao projeto e começar a divulgar. Assim nasceu o Pão Paciência.
Até ao final desse ano, a produção era toda feita em casa mas, como conta o próprio, “chegou uma altura em que as encomendas aumentaram e ficou impossível produzir em casa. Decidi ir para um espaço fora, apenas com produção, sem porta aberta ao público”, afirma. Escolheu um local perto de casa, em Queijas. É, aliás, nesta freguesia do concelho de Oeiras que mora desde que veio viver para Portugal.
“Quando chegámos, viemos para Queijas porque tínhamos familiares com casa aqui. Gostámos tanto que já não saímos, hoje em dia a nossa vida é toda feita no concelho de Oeiras”. É precisamente esta a zona onde o Pão Paciência faz entregas. “A distribuição é feita em todo o concelho e podem também encontrar os nossos pães no café Meia de Leite em Caxias e no mini mercado Ruana em Queijas”.
Os tipos de pão
Em 2021 tirou um curso de Padaria na Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, nas Caldas da Rainha. Depois da formação, de muitas pesquisas e experiências, hoje o Pão Paciência tem sete tipos de pães fixos: o clássico, o integral, o de mistura, o de centeio, o de sementes, o de batata doce e o de chouriço. É só escolher o que mais gostar, seja simples ou com sabores diferentes. As encomendas podem ser feitas através da página de Instagram ou Facebook para provar este pão feito com dedicação e muita paciência, respeitando o tempo de fermentação natural.
“É um pão de longa fermentação, o que faz com que tenha menos açúcar e que pessoas por exemplo com diabetes possam comer. Há clientes que me dizem que antes não comiam pão e agora já o fazem. É mais saudável, há inúmeros benefícios ao utilizar esta técnica, em vez da produção rápida das grandes superfícies. Além disso, todos os pães são feitos com farinha de moleiro o que faz com que tenham também menos sal”, sublinha o padeiro.
Todos os meses há também um sabor especial. Em janeiro o “pão do mês” é de azeitonas e alecrim. Pode pedir pães de dois tamanhos, o médio de 420 gramas, que custa entre 3,50€ a 4€ e o tamanho grande, de 900 gramas, com valor entre 6€ a 8€.
Estes são preços que mantém desde o início do projeto, mesmo antes da inflação que temos vindo a assistir. “Gostava de conseguir baixar o preço, mas isso só consigo se aumentar a produção. Para isso teria que abrir portas, é um objetivo para um futuro próximo”, refere Guilherme. Todas as entregas são feitas às quintas e sextas-feiras.
Como surgiu a oportunidade de participar no MasterChef
À NiO, Guiherme conta que a participação no programa da RTP foi algo que surgiu de forma inesperada. “Uma noite estava no telemovel e vi um post do concurso. A família já estava toda a dormir e decidi fazer a inscrição, mais por descargo de consciência. Fiquei surpreso quando me chamaram para um primeiro casting”.
Guilherme adora fazer pão, mas quando perguntamos se sente a mesma paixão pela gastronomia, a resposta é de que gosta de experimentar diferentes receitas, mas não se vê como chef no futuro. Ainda assim, conquistou os chefs com a proposta que levou o primeiro teste para o programa.
“Tínhamos que levar um prato já pronto. Decidi levar o meu pão e fiz três tipos de bruschettas. Uma de cogumelos com dois queijos e rúcula, outra de alho e tomate confitados no azeite com tomilho fresco e outras ervas e a terceira de abacaxi caramelizado com bacon. Empratei à frente dos chefs e eles gostaram”.
Passou por um segundo casting, no qual já tinha que cozinhar no local um prato à escolha em apenas 45 minutos. Um lombo de vaca com aligot de dois queijos e molho de cogumelos acabou por lhe dar o passaporte para o destino final: participar no MasterChef Portugal. Foi com admiração que recebeu a notícia de que era um dos 15 selecionados entre mais de 4.000 inscritos.
“Foi uma surpresa, porque não sou cozinheiro. Não sabia fazer um caldo antes do programa. Mas estudei bastante, dediquei-me muito e, principalmente, aprendi muito”, conta. Com o apoio da mulher, Nina, deixou a sua padaria para confinar-se no mundo do MasterChef. “Ficámos lá o tempo todo, em alguns fins de semana podemos ir a casa ver a família, mas é realmente muito intenso. Mas adorei as pessoas que conheci, os participantes, chefs, e toda a produção do programa. Não fazia ideia o tamanho da equipa envolvida num programa desse porte”, conta.
Acabou por sair do programa perto do Natal. “Claro que gostaria de continuar, mas os outros concorrentes era muito bons”, sublinha. “É uma sensação de missão cumprida. É uma experiência que levo para a vida”, confessa.
Não só ajudou na sua evolução na cozinha, como a participação no programa contribuiu também para o aumento de visibilidade do Pão Paciência e consequente aumento das vendas. Além disso, deu-lhe ainda certas técnicas e ideias de sabores que poderá utilizar para criar novos pães no futuro. “Aprendi a fazer um óleo de coentros que certamente vou trazer para o pão”, conclui.
Carregue na galeria para conhecer mais sobre o Pão Paciência e o padeiro que lhe dá vida.