A história da carbonara é um pouco obscura e muito debatida, mas a maioria dos historiadores concorda que a receita foi criada no século XX. Uma das teorias mais populares sugere que a carbonara foi criada por carbonários, um grupo de mineiros e lenhadores italianos que trabalhavam nas montanhas dos Apeninos. Usavam a massa e a pancetta, um tipo de bacon curado, como alimentos básicos, que misturavam com ovos e queijo, ingredientes facilmente disponíveis.
Outra hipótese afirma que a carbonara foi criada após a Segunda Guerra Mundial, quando os soldados americanos estacionados no país introduziram o bacon e os ovos na cozinha romana. A combinação desses ingredientes com a pasta e o queijo pecorino, ingrediente tradicional italiano, teria dado origem ao prato.
Uma terceira tese aponta para a possibilidade de representar a evolução de um prato tradicional romano chamado “cacio e uova”‚ que consiste em macarrão cozido em água com sal e depois misturado com queijo pecorino e ovos. A adição da pancetta teria transformado o prato simples em algo mais rico e saboroso.
Independentemente da sua origem exata, a receita rapidamente se tornou popular. Ao longo dos anos, sofreu algumas modificações, mas a sua essência manteve-se inalterada, tornando-se um dos pratos mais apreciados em Itália — e no resto do mundo. A tradição e história da carbonara levaram os italianos a serem extremamente rigorosos na sua confeção, rejeitando qualquer alteração ou simplificação.
Ao contrário do que muitos possam pensar, a versão original não inclui natas. E existem outros pontos cruciais que devem ser respeitados: a pancetta não deve ser substituída por bacon — e os ovos devem ser cuidadosamente cozidos em banho-maria para evitar que coagulem demais.
Agora, a Heinz decidiu voltar a testar a tolerância dos italianos às invenções em torno da famosa pasta. A marca norte-americana, conhecida pelo seu ketchup e feijões cozidos enlatados, acabou de lançar um spaghetti carbonara em lata, que deverá chegar às prateleiras dos supermercados britânicos até final de setembro. A iniciativa, porém, gerou grande polémica em Itália.
A receita tradicional da carbonara é simples, mas requer atenção e precisão na sua preparação. A utilização de ingredientes errados, como outros tipos de carne, alho ou natas, é considerada um pecado imperdoável pelos italianos.
A Heinz, ao transformar a receita num produto pronto a consumir, cometeu, na opinião dos italianos, um “crime culinário”. A massa enlatada, desprovida da autenticidade e da tradição da carbonara, é vista como uma ofensa à cozinha italiana.
Embora este novo produto utilize pancetta e não mencione nem alho, nem natas entre os ingredientes, a maior ofensa, segundo os críticos, é mesmo o facto de se tratar de uma refeição enlatada. Os italianos defendem que um prato tão emblemático da sua gastronomia não deveria ser transformado numa opção fácil e rápida.
Ante esta controvérsia, as vozes do “exército gastronómico” italiano já se manifestaram — e foram contundentes. O chef com estrela Michelin, Alessandro Pipero, do restaurante Pipero em Roma, comparou o enlatado a comida de gato.
Já Ciara Tassoni, gerente do restaurante Bottega Prelibato em Londres, considera a lata de carbonara “uma desgraça da culinária”. Em declarações ao jornal “The Sun”, defendeu que “não poderia estar mais distante de uma versão autêntica do prato”.
Embora a marca não tenha revelado se esta massa enlatada será vendida noutros países, no Reino Unido será comercializada por duas libras (2,37€).