Gourmet e Vinhos

Jeferson Dias “só conhecia arroz, feijão e carne”. Agora é Chefe Cozinheiro do Ano

"Ainda nem estou em mim." O jovem de 29 anos ganhou a 34.ª edição do concurso nacional e esteve à conversa com a NiT.
O cozinheiro é natural de Goioerê, Brasil.

“Ainda não celebrei. Só cheguei a casa às quatro da manhã”, começa por contar à NiT Jeferson Dias. Passou a última quarta-feira, 24 de maio, entre tachos e panelas, na prova final do Chefe Cozinheiro do Ano 2023 (CCA) — e a festa da vitória foi adiada para o fim de semana.

A última fase da competição teve lugar no Centro Multiusos de Lamego e durou mais de cinco horas. No final, o resultado deixou o jovem brasileiro de 29 anos em êxtase. “Não esperava vencer. Quando ouvi o meu nome foi incrível. Fazer a prova, correr bem e estar orgulhoso já foi uma vitória”, admitiu, emocionado.

E acrescentou: “Ganhar é um sentimento que não sei descrever. É quase como realizar um sonho. Estar ao lado de chefs que admiro muito e estar naquela galeria a receber esta distinção, enquanto membro da família CCA, é um orgulho. Ainda nem estou em mim, estou muito feliz”.

O gosto pela gastronomia entrou por acaso na vida de Jeferson Dias. Aos 16 anos já cozinhava, mas apenas por necessidade — e só sabia fazer o básico. “Os meus pais trabalhavam muito, havia alturas em que só os via à noite, e como ficava sozinho em casa, tinha de fazer qualquer coisa para comer. A minha mãe ensinou-me a fazer arroz, um bife, um ovo, coisas simples”, conta. A entrada na escola de hotelaria, pouco depois, aconteceu graças a um amigo. “Ainda não sabia que caminho seguir”, recorda e seguiu o incentivo do colega. Só ao fim de um ano de curso é que começou a gostar da área. 

“Fiz o estágio e só aí é que percebi como era mesmo trabalhar entre os tachos. Notei que até tinha algum jeito, a paixão foi aparecendo e passei a querer aprender cada vez mais. Foi assim que me tornei cozinheiro.”

A ideia de participar na competição surgiu nessa época. “Acompanho o concurso desde que estava na escola. Tinha a ambição de fazer parte, não porque queria ser melhor do que os outros, mas porque me queria colocar à prova e superar-me.”

A trabalhar há seis anos no Algarve, ao lado de Louis Anjos (vencedor da competição em 2012) e de Ricardo Luz (que alcançou também o primeiro lugar em 2019), Jeferson culpa os colegas do Palmares Ocean Living & Golf Resort pela candidatura. “Tiveram muita influência pelo apoio que me deram, pela ajuda a treinar, a pensar e a provar os pratos. Estiveram comigo desde o início.”

Sim, porque este foi um caminho que já começou em janeiro. “Ao saber da abertura das inscrições, fiz um menu, fotografei, preparei as fichas técnicas e enviei. O tema deste ano era o amuse bouche vegan, entrada de bacalhau, prato de peixe à escolha, prato de porco e sobremesa também à escolha. Mas só em março é que recebemos a notícia de que tínhamos sido um dos 18 concorrentes selecionados para as etapas regionais”, explica.

Para chegar à final, o cozinheiro teve de passar por várias etapas. “Foi muito difícil porque há muita pressão. Apesar de sermos cozinheiros e de já termos alguma experiência, estar ali, a competir, é muito diferente do nosso dia a dia. Há mais pressão, trabalhamos num lugar com o qual não estamos habituados, em condições que por vezes não são fáceis. É um desafio bastante exigente”, garante. Mas diz que “tudo valeu a pena”. E não é difícil perceber porquê.

O Capeletti e Aveludado de Cogumelos, com uma massa vegan, o Bacalhau e Açorda de Berbigão, “muito ligados aos sabores do mar”, e o Pregado em Aromas de Caldeirada, “uma espécie de interpretação de uma caldeirada”, tornaram-no no grande vencedor do Chefe Cozinheiro. Para o prato de carne, Jeferson optou por fazer o Presa nos Aromas do Cozido, com pés de porco, orelha, chouriço, couve e nabo. “É um prato de conforto, mas com um toque contemporâneo.”

Já para a sobremesa, inspirou-se na região do Algarve. “Fiz uma receita que aprendi no meu primeiro estágio por lá. Um bolo de gila e farinha de amêndoa, com gelado de amarguinha e mousse de amêndoa”, descreve. No final, ouvir o seu nome como o escolhido, não podia ter sabido melhor.

Natural de Goioerê, Brasil, veio para Portugal quando tinha nove anos. Pelo caminho, estudou em Portalegre, trabalhou em Lisboa e só depois se mudou para o Algarve. À NiT, contudo, revela que é pela cozinha portuguesa que tem mais curiosidade. “Foi aquilo que aprendi. Até ir para a escola hoteleira, só conhecia o arroz, o feijão e a carne. Não dominava a gastronomia brasileira. Nem a de cá, aliás. Depois é que comecei a aprender o que era um bacalhau à Gomes de Sá, um cozido, uma feijoada à portuguesa.”

É precisamente este o tipo de cozinha que mais o fascina. “Gosto de tudo, mas que não seja exclusivamente tradicional. Prefiro utilizar métodos e confeções novas, que acompanham as tendências.”

Talvez até seja mesmo por aqui que seguirá quando tiver um projeto próprio. Porém, é um plano que irá demorar a concretizar. “Por enquanto, a ideia é ganhar mais experiência e aprender mais. Tenho noção de que se abrisse agora um restaurante não teria a maturidade suficiente — nem o conhecimento”, acrescenta.

A avançar com esse projeto, nota ainda, seria com um conceito de comida contemporânea — que é aquela que mais gosta de fazer. “Mas teria de ser algo acessível. É óbvio que tenho o sonho de ganhar uma estrela — acho que todos temos — mas essa ambição não é superior à vontade de fazer uma comida que todos possam experimentar.”

Agora, as possibilidades são muitas. “Tenho a certeza de que a participação vai abrir muitas portas. Trata-se de um concurso nacional, que todos os cozinheiros acompanham. Penso que pode mesmo criar muitas oportunidades para o futuro”, antevê.

A seguir, carregue na galeria para conhecer alguns dos pratos que Jeferson Dias apresentou na final do Chefe Cozinheiro do Ano.

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