Carne de bisonte, bolachas de carvão de melancia, sushi preparado na hora, ou o recente e popular chocolate do Dubai. Os supermercados Apolónia são conhecidos por terem “o que os outros não têm e o que têm também”. Este domingo, 23 de março, celebram 42 anos desde que abriram a primeira loja em Almancil que marcou o caminho de sucesso do negócio que continua a ser gerido pela família Apolónia.
Há quatro décadas, Avelino e Célia Apolónia, regressados de quase 20 anos emigrados em Vancouver, no Canadá, vinham com vontade de investir “em casa”, em Almancil, no Algarve. Ele queria abrir um pequeno restaurante, para continuar a carreira que tinha começado lá fora, mas ela não estava convencida. Os horários e o stress demoviam Célia de avançar. À última da hora, já com equipamentos comprados, decidiram apostar num pequeno minimercado. A ideia agradava ao casal, exceto o fornecedor que tinha tudo pronto para entregar.
Avelino deu-lhe a volta e conseguiu trocar os equipamentos de um restaurante para os necessários para equipar um mercado. Em poucos meses, tinham o armazém montado ao lado da casa da família. Depois começaram a chegar os tais eletrodomésticos e logo a seguir os produtos que Avelino comprara em Lisboa, onde “encontrava coisas diferentes”.
Como tinha trabalhado em hoteleira, sabia que tipo de produtos podiam agradar aos fregueses estrangeiros que andavam pelo Algarve nos anos 1980. Trouxe chutney de manga e outros condimentos que tinha a certeza que eram apreciados lá fora. Depois, a cada 15 dias viajava para a capital para trazer mais uns quantos produtos, onde incluía até ração de cão, porque os supermercados da região não vendiam.
“Quando abrimos toda a gente dizia que ia ser um flop, que não ia resultar, porque estávamos longe do centro de Almancil. Mas tínhamos três coisas que os outros supermercados da região não tinham: estacionamento, sabíamos falar inglês e os conhecimentos do meu pai para produtos alimentares americanos e ingleses que aqui não existiam”, refere Paulo Apolónia, que conta ainda que tinham um hábito, adquirido dos tempos que viveram no Canadá, que cá também não era comum. A família ensacava as compras dos clientes e levava-os ao carro, estacionado no parque que ficava no terreno dos avós dos atuais proprietários. “Este hábito, aliado à nossa disponibilidade e atendimento, fez a diferença”, acrescenta.
Paulo e Eduardo recordam-se de nunca haver horas para descansar. Mesmo que estivesse perto da hora de fecho, os clientes eram atendidos. “A nossa postura sempre foi muito de servir. Como o supermercado ficava ao lado da nossa casa, acontecia muitas vezes virem-nos bater à porta porque precisavam de comprar determinado produto. Nunca dizíamos que não. Se vinham é porque precisavam e alguém ia lá vender”, recorda Paulo, filho mais velho de Avelino.
Tudo em família
Os Apolónia sempre foram um negócio familiar. A véspera do primeiro dia de funcionamento, recorda Paulo Apolónia, foi de muito trabalho. Com 15 anos, ajudou a preencher as prateleiras todas, até que por volta da uma da manhã foi mandado para a cama. Os pais continuaram até às cinco. No dia seguinte, pelas 10 horas, estavam lá todos para a inauguração. O filho de Avelino recorda-se da primeira cliente que viu entrar na loja de Almancil. “Parou ali por acaso e entrou. Era estrangeira e ficou impressionada com os nossos produtos. Não me recordo ao certo do que comprou, mas sei que eram dois ou três importados”, diz o empresário.
Paulo e Eduardo, o mais novo, sempre deram uma mão na loja. Durante as férias, sobretudo, repunham as prateleiras e ajudavam tanto na logística como nas vendas, mas nunca pensaram que o seu futuro passaria pela empresa dos pais. Estudaram engenharia informática em Lisboa, mas enquanto Paulo seguiu efetivamente a área, Eduardo virou-se para a música, na vertente da produção.
“Estava a trabalhar na Telecel e tinha a minha vida organizada na capital quando percebi que o supermercado precisava de um backoffice e de uma ajuda externa. Em 1996 decidi dar uma volta de 180 graus, mudar-me para o Algarve e juntar-me à equipa para surpresa de todos”, conta Paulo Apolónia à NiT.

Eduardo, assim que concluiu o curso, seguiu os passos do irmão e entrou logo na empresa. Atualmente, Avelino deixa a administração para os filhos, que continuam a expandir os Apolónia. Atualmente têm três supermercados, em Almancil, Galé (Albufeira) e Lagoa, que inauguraram em 2008 e 2015, respetivamente, e pensam abrir mais alguns, desta vez fora do Algarve. “Temos já as localizações em vista, para a Grande Lisboa, talvez Porto e sul de Espanha”, referem, sem adiantar mais detalhes.
Esta não é a primavera vez que se focam na expansão, no entanto, nos últimos anos, por vários motivos, foram forçados a travar os planos. “É difícil trabalhar no Algarve por causa da sazonalidade, por isso chegar a sítios menos sazonais é visto como uma boa ideia, mas também uma grande fantasia”, dizem.
Os recursos humanos continuam a ser um desafio, sobretudo pela exigência de características que o Apolónia pede. “Antigamente, um dos critérios era que falassem inglês, agora é o contrário. Contratamos quem sabe falar português, porque embora os nossos clientes sejam maioritariamente estrangeiros durante o ano, no verão temos muitos portugueses. Depois pedimos que sejam simpáticos e trabalhadores. Em troca damos boa condições para terem estabilidade e uma equipa que é tratada como família”, admitem.
As coisas que “os outros não têm”
Diversidade é o lema da casa. Ali há produtos que garantem não ser possível encontrar em mais nenhum supermercado do País. E quando não há, seguem o lema antigo de Avelino: “Se não temos hoje, amanhã vamos ter”.
Atualmente têm nas prateleiras mais de duas dezenas de variedades de sal e azeite, têm carne de bisonte, bolachas de carvão de melancia, caviar e chocolates que vêm de todas as partes do mundo. Além da diversidade, apostam também em serviços que os distinguem, como um escansão na zona da garrafeira (onde há desde champanhe e vinhos da marca Apolónia), para aconselhar os clientes, e um sushiman a preparar as peças na hora para take-away.
Tudo isto poderia levar qualquer um a pensar que se encontra num supermercado gourmet, com preços altos, mas Paulo e Eduardo refutam a ideia. “Vendemos todo o tipo de produtos, do mais comum ao menos procurado. Os vinhos, por exemplo, variam entre os 2€ e as centenas. Com as bolachas é igual. Temos a tradicional Maria, como temos variedades inusitadas, com carvão”, explicam. Este contraste permite que atendam clientes de todas as carteiras e até mesmo os famosos que “nunca pensámos que iam eles próprios ao supermercado”.
A lista de produtos é extensa e continua a crescer, por sugestão dos clientes. “Ouvimos o que os clientes nos pedem e fazemos os possíveis para trazer o que ainda não temos na loja. É isso que faz a diferença”, frisa Paulo Apolónia.
Com tanto sucesso e uma legião de fãs espalhada pelo País, seria esperado uma faturação acima da média. Mas os irmãos preferem não partilhar ou tecer comentários sobre os números, resguardando-se na premissa de que avaliam o desempenho por outros fatores. “A nossa prioridade não é o lucro que a empresa vai ter. O nosso primeiro objetivo é satisfazer o cliente, o resto vem depois. A nossa política e que é a forma como os clientes são tratados. Os nossos colaboradores tratam as pessoas de forma muito sincera e o cliente sente isso e regressa”, explica. Este ano vão atingir mais um mercado desejado, com a implementação do cartão de cliente Apolónia, que oferece vantagens a quem os visita.
