Foi de copo em copo, entre travessas de presunto, queijo e enchidos que Bruno Ribeiro e Francisco Bernardo foram completando o arquivo. Anotaram críticas, partilharam sugestões, esvaziaram os pratos e seguiram à sua vida.
Quando a pandemia bateu à porta e deixou os dois produtores de eventos com demasiado tempo livre nas mãos, toda essa experiência entrou em ação. Decididos a criarem o seu próprio recanto de petiscos e vinhos que evitasse todos os defeitos que iam encontrando aqui e ali, resolveram que a pausa oferecida pelo confinamento serviria para porem tudo em prática.
Sabiam o que não queriam, mas acima de tudo o que queriam: uma casa portuguesa recheada de produtos fora de catálogo, que já tivessem experimentado e aprovado. Puxaram da memória, vasculharam o arquivo mental e fizeram uma lista para preencher as estantes e arcas do Primo do Queijo.
“A nossa loja tem para aí 15 metros quadrados mas mais de 60 fornecedores”, ri-se Bruno Ribeiro, de 28 anos, um dos proprietários que tem já alguma experiência na restauração. Foi ele quem deu o primeiro passo repentino para a abertura da casa e vinhos e petiscos.
Foi perto da sua casa, nos Anjos, que se deparou com um homem a partir um vidro para mudar uma fechadura. Questionou-o e percebeu que estava no mercado para aluguer — e, curiosamente, com muitos interessados. Ligou imediatamente para Francisco, que deu o OK e o contrato ficou apalavrado na hora.
“Foi uma grande aventura”, assume Bruno, que passou três meses a dar uso ao “jeito para a construção civil”. Comprou as madeiras, lixou-as e com elas montou os balcões e os bancos. O espaço com lotação curta de 10 pessoas, entre as mesas e o balcão, alongou-se para a rua, onde em breve haverá uma esplanada mais espaçosa.
Lá dentro, dois conceitos: um recanto de mercearia com azeite, sal, queijos, enchidos, chás, bolachas ou compotas; e a petisqueira onde se provam todos os mesmos produtos que podem ser levados para casa. Só que para lá entrarem, têm que cumprir a regra desenhada pelos dois sócios: têm que ser 100 por cento nacionais.
“Quisemos que a premissa da loja fosse essa, apesar de nos dificultar muito o processo de pesquisa”, nota, antes de reafirmar que não aceitam sequer “derivantes”. E explica: “Nós não sabíamos, mas há muitos queijos nacionais feitos com leite que vem de fora. Esses não entram.”
É com queijos e presuntos cuidadosamente escolhidos que dizem fazer “a melhor sandes de presunto de Lisboa” — assim, simples, ou com queijo da Serra. E foi também destas combinações clássicas que nasceu o nome do espaço.

O primo do queijo, explica, “é o presunto”. Faltava o terceiro elemento. “No meio disto encontrámos um vinho verde que se chama Primo Afastado e assim dá para fazer a piada com o primo do queijo e o primo afastado, que é o vinho verde (risos).”
A escolha do queijo da Serra, por exemplo, obrigou a uma longa prova de mais de uma dezena de exemplares. Acabaram por escolher um que é ainda feito da forma mais tradicional e bem portuguesa. “É feito com a flor do cardo da serra, leite das vacas da serra, curado lá e feito por senhorinhas que fazem a mesma receita há 50 ou 60 anos”, conta.
Têm também dois tipos de presunto, o da Beira Baixa, “menos salgado e com menos cura”, e os de porco preto. Nos vinhos, optaram pela combinação de referências menos comerciais, menos dispendiosas mas não menos sofisticadas no sabor. E, claro, os clássicos como o famoso Espadal que acompanha na perfeição uma simples sandes de presunto. São perto de 15 referências, entre tintos e brancos, com preço médio do copo entre os 3€ e 4€.
Tudo isso para molhar a garganta entre petiscos, das travessas de queijos ou de enchidos, às sandes de paio do cachaço, passando pelo tradicional prato de marmelada com queijo da Serra. Tudo com preços entre os 2,5€ e os 9€.
Propositadamente longe da agitação turística da cidade, Bruno e Francisco apostam na qualidade a preços acessíveis. “Nunca pensámos em virar empresários da restauração”, sublinha. “Queremos ser dois amigos, que moram perto um do outro e, pelo meio, termos um espaço para comer e beber.” E a porta está sempre aberta a quem se lhes quiser juntar, de copo na mão e presunto no prato. À portuguesa.
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