Há meia década Marek Zalewski começou a interessar-se “mais a sério” por vinhos. É natural da Polónia, tem 37 anos e mudou-se para Portugal há 11, por puro “capricho”. “Tinha visitado muitas vezes no passado e sempre gostei de Portugal. Comprei o bilhete de ida, fiz a mochila e continuo cá”, conta à NiT.
Trabalhou duas décadas como tradutor e intérprete mas, após tanto tempo na mesma área, começou a sentir que a sua vocação era outra. “Já tinha feito de tudo, e cheguei a um ponto em que pensei que era altura de mudar e fazer algo que realmente gostasse e que me desse oportunidade de partilhar esta paixão com as pessoas”, recorda. Foi essa a motivação para que a 1 de fevereiro abrisse a wine room 100vinhos, no Príncipe Real (Lisboa).
Este não foi, contudo, o único incentivo para criar o conceito. Também foi inspirado por uma noite que passou com um amigo canadiano. Ficou em casa de Marek, que sugeriu fazerem uma experiência. Pegou em dois vinhos, sem revelar preços, e serviu. “Ele disse-me que gostava do mais barato. Isto mostra que os vinhos económicos não são vergonha nenhuma, porque também esses são bem feitos”.
O polaco não é apenas um mero fã de vinhos. Ao longo dos anos foi tirando vários cursos. Tem um certificado internacional da Wine & Spirit Education Trust, está a concluir os estudos para obter o título de French Wine Scholar e, além disso, já tirou um curso online de vinhos portugueses na Wines of Portugal Academy.
“Percebi que, embora os apreciasse, não sabia quase nada sobre vinhos. Valia a pena estudar para perceber o assunto e tomar decisões mais bem informadas. É esta a ideia por detrás do 100vinhos”, revela. Aquela bebida é muito apreciada, mas num mar de rótulos muitos não sabem do que gostam em específico. “Muitas vezes compram garrafas caras e calculam que são boas só por causa do preço. Depois não gostam e sentem-se mal”, aponta.
Durante a experiência, os clientes não sabem o que vão beber — normalmente, quando se marca uma prova já sabe o que vai receber. “Aqui fazemos tudo às cegas para que os clientes se foquem no vinho em si e nas suas preferências pessoais”, explica. Marek começa por escolher duas ou três garrafas da cave recheada com propostas de Portugal e de todo o mundo. Conforme o feedback, passa para outra. “É um percurso personalizado”, portanto.

O workshop, como também lhe chama, dura cerca de uma hora ou, por vezes, hora e meia. Os clientes acabam por provar entre dez a 15 vinhos — mas normalmente tenta com que provem seis brancos e seis tintos. O seu objetivo é ajudar todos os que o visitam a perceberem do que gostam, para que quando forem a um restaurante, a uma garrafeira ou ao supermercado saibam o que comprar. “É uma espécie de terapia porque saem daqui a saberem mais sobre si mesmos”, realça Marek.
“Todos ficam com um resumo do processo porque vou tirando notas ao mesmo tempo. Escrevo o perfil dos vinhos que eles gostaram e algumas sugestões de rótulos semelhantes para provarem. O feedback tem sido bastante positivo porque é um conceito único”, afirma com orgulho.
Na wine room tem dezenas de propostas, e até para ele, um especialista, torna-se impossível escolher um favorito. “Gosto de brincar e dizer que já provei milhares de vinhos só para fins de investigação. O meu favorito muda muitas vezes. Depende do dia, do tempo, do contexto, do que me apetece”, confessa. Não é a sua escolha de eleição, mas consegue destacar um Pinot Noir português, cujo processo nunca passou pela madeira. “Todo o carácter da fruta foi preservado, é uma garrafa da zona do Atlântico, perto de Lisboa”.
Sendo isto uma atividade personalizada, participam poucos clientes de cada vez. Uma pessoa tem de pagar 149€, enquanto que a experiência para duas fica, no total, 199€. “Recomendo que seja feito com alguém especial para ser mais divertido, e assim o preço também fica mais simpático”, diz. Aproveita para deixar outros conselhos: não fume, não beba café nem coma pastilha elástica duas horas antes da prova, para ir com o palato limpo. Também é necessário saber que as provas não são harmonizadas, porque ali o foco é mesmo o vinho. As marcações devem ser feitas através do site.
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