Não é de hoje que Portugal é um país fantástico. Os portugueses já o sabem há muito, mas só mais recentemente, com o turismo a crescer cada vez mais, parece que o resto do mundo ‘acordou para a vida’ e se rendeu a este pequeno território à beira-mar da Europa. Entre o oceano e as serras, surge o Alentejo como uma das regiões mais procuradas e que mais encanta os enoturistas, com as suas vastas planícies douradas, o calor da sua hospitalidade, a gastronomia e os seus vinhos marcantes, que ao longo dos anos têm revelado diferentes estilos e perfis, subindo cada vez mais no patamar de qualidade.
O Baixo Alentejo, em particular, tem sido palco de uma aliança perfeita entre o vinho e o turismo. Por essa razão, não é à toa que a Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo e a Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (CIMBAL) se juntaram para apresentar a sua candidatura a Cidade Europeia do Vinho 2026, um título internacional que evidencia a qualidade vitivinícola da região e a capacidade de dar a conhecer o melhor do Enoturismo nacional.
Segundo afirma José Santos, presidente da ERT Alentejo e Ribatejo, “o Baixo Alentejo candidata-se com um foco especial na tradição milenar da talha, que está em voga, é um dos seus argumentos fortes, mas obviamente aliado à qualidade dos vinhos alentejanos e aos inúmeros prémios já conquistados pela região nos últimos anos, tanto no setor do vinho como no turismo”. Por isso, não é de estranhar que esteja confiante nesta forte candidatura “que tem todas as condições para vencer”.
A Cidade Europeia do Vinho é um título atribuído pela RECEVIN (Rede Europeia das Cidades do Vinho) com o intuito de promover e valorizar regiões vitivinícolas de toda a Europa, destacando a importância da cultura do vinho, o enoturismo e as tradições locais. Esta distinção é de âmbito internacional e acontece anualmente, sendo uma excelente oportunidade para posicionar uma cidade ou região como referência no mundo do vinho. Por estas razões, esta candidatura já traz uma enorme visibilidade à região, envolvendo os 13 municípios que integram a CIMBAL (Aljustrel, Almodôvar, Alvito, Barrancos, Beja, Castro Verde, Cuba, Ferreira do Alentejo, Mértola, Moura, Ourique, Serpa e Vidigueira) e trará ainda mais, caso vença o título de Cidade do Vinho 2026.
De todos os municípios, a Vidigueira é a vila mais conhecida como sendo o berço da tradição da produção do vinho de talha no Alentejo, onde esta técnica ancestral se mantém bem viva e valorizada. Com raízes que remontam à época dos romanos, este vinho é produzido de uma maneira diferenciada, onde são utilizadas ânforas de barro – as chamadas talhas — para a fermentação do mosto e maturação do vinho. A talha é um grande recipiente, de formato arredondado, com capacidade para várias centenas de litros, feito de barro cozido e forrado a pez, proveniente da resina de árvores misturada normalmente com cera de abelha, materiais maleáveis e eficientes que permitem ao mosto respirar de forma controlada durante o processo de fermentação e posterior maturação do vinho.
Na Adega da Vidigueira, o presidente José de Almeida sente “um enorme orgulho de ser o epicentro do vinho de talha”, já que a produção do vinho de talha é um processo muito especial. Começa com a seleção das uvas, que são esmagadas e colocadas diretamente na talha, onde a fermentação ocorre de forma natural. Ao contrário dos métodos modernos de vinificação que utilizam equipamentos de aço inoxidável ou de cimento, as talhas de barro permitem que o vinho respire, favorecendo uma fermentação mais lenta e suave. Este processo natural, sem a intervenção de produtos químicos ou aditivos, resulta em vinhos com características muito particulares. E é essa diferença que os torna únicos. Um vinho especial com um sabor distinto e notas terrosas que refletem a autenticidade desta técnica ancestral.
A Herdade do Rocim é outro produtor de renome, reconhecido por organizar e promover desde 2018 o Festival Amphora Wine Day, um evento que reúne anualmente os melhores vinhos de talha e ânfora de Portugal — é o mesmo, mas só se pode chamar talha a vinhos produzidos dentro da DOC Alentejo —, além de produtores de vinho de ânfora de diversos países. O evento já se tornou uma referência internacional, sendo um dos maiores festivais do mundo com mais de 1500 visitantes.
Pedro Ribeiro, enólogo do Rocim e um dos fundadores desta iniciativa, diz que “o evento tem vindo a crescer ano após ano. O público é diversificado, desde enófilos e turistas até profissionais do setor, que gostam de provar o que se vai fazendo pelo mundo. É uma experiência muito autêntica que nos transporta para as suas raízes da época romana e para a tradição desta região”. Também ele se revela feliz com a candidatura e acredita que o Baixo Alentejo pode vencer.
Para as entidades envolvidas, vencer o título seria o reconhecimento merecido de um território que soube alavancar o seu potencial. A força desta candidatura, que envolve o esforço coletivo de diversos municípios e a crescente qualidade da viticultura local, é uma prova de que o futuro do Alentejo no panorama global está apenas a começar. O mundo está, sem dúvida, a olhar para a região com novos olhos, e, com sorte, será em 2026 que este território ganhará o título que lhe assenta tão bem.