Primeiro foi Stanley Tucci, o ator de “Diabo Veste Prada”, que mostrou ao mundo como se fazia. Agora foi a vez de Emma D’Arcy, que interpreta a Princesa Rhaenyra de “House of the Dragon”. Afinal o que tem o Negroni de tão especial? Estávamos em abril de 2021, depois de dois meses fechados em casa (pela segunda vez), quando um vídeo de três minutos de Tucci se tornou viral. Tudo começou com uma publicação no Instagram, com a simples legenda: “Drink” (beba, em português) — um repto que foi aceite por milhões, que rapidamente começaram a preparar suas versões.
Este mês, o Negroni voltou a estar sob as luzes da ribalta de forma mais intensa, uma vez que nunca se afastou completamente delas. O aperitivo voltou a inundar as encheu as redes sociais, graças a uma entrevista gravada nos bastidores de “House of the Dragon” que foi partilhada na conta TikTok da HBO. Nunca uma bebida tinha sido motivo de tanto falatório como esta. Intrigados, fomos tentar perceber o fenómeno. Na opinião de Pedro Martins, bartender do Maus Hábitos, “isto são modas que vão e vêm”, disse à NiT.
No vídeo mais recente, as estrelas Emma D’Arcy e Olivia Cooke — que interpretam a rivais princesa Rhaenyra e a rainha Alicent, respectivamente — questionam-se sobre sua bebida preferida na vida real. D’Arcy diz que prefere um Negroni, antes de acrescentar “sbagliato” com uma voz sussurrante e meio rouca que tem deixado os seguidores fascinados. Por fim, acrescenta, como forma de explicação, “com prosecco”. A interação tornou-se viral quase de imediato, especialmente entre os fãs queer. A resposta da atriz transformou-se num meme que eleva o clássico cocktail italiano a novos níveis de popularidade.
Os mais de 15 mil vídeos publicados no TikTok com o som original da entrevista, contam já com milhões de visualizações. Nos bares, os pedidos de um “Negroni sbagliato com prosecco” cresceram exponencialmente e as versões da bebida tornaram-se numa constante. O bartender até já brinca com a situação e diz ser necessário repor o stock de ingredientes antes que esgotem — como aconteceu com outros que se tornaram virais na internet, como o queijo feta ou a farinha.
@hbomax I’ll take one of each. #houseofthedragon
Um original, outro Sbagliato. Duas versões, mas igualmente populares. Pedro não tira o mérito à segunda opção, mas diz continuar a preferir o bom velho clássico. Ainda assim, o profissional explica que “a diferença está no Prosecco”. Se quiser dar uma hipótese ao favorito de D’Arcy no conforto da sua própria casa, enquanto assiste a “House of the Dragon”, só precisa de três ingredientes: “um bitter — bebida alcoólica com sabor de essências herbais, caracterizado por um sabor amargo ou agridoce — , neste caso, pode ser Campari, um bom vermute e Prosecco”.
A sugestão é “juntar tudo em proporções iguais, mas pode adaptar-se aos gostos de cada um para que fique mais doce ou amargo”, continua. “Começa-se por colocar gelo no copo, despeja-se o vermute e o Campari e mexe-se. Por fim, acrescenta-se o Prosecco e finaliza-se com uma fatia de laranja”. Pedro prefere fazê-lo num mixing glass e não diretamente no copo, mas também aí se pode fazer consoante a vontade (e o jeito) de cada um.
Se está a pensar seguir a tendência e bebê-lo num bar, saiba que o pedido pode ser um pouco confuso. A verdade é que “sbagliato” significa “errado” em italiano — uma referência à substituição do gin (que entra no Negroni tradicional) pelo famoso vinho espumante. Então, dizer “com prosecco” é redundante. Para pedir um, “basta encomendá-lo como um sbagliato”, diz o especialista.
Mas como surgiu esta nova versão? Tornou-se agora mais conhecida, mas não é assim tão recente. O Negroni Sbagliato foi inventado pelo barman Mirko Stocchetto no famoso Bar Basso, em Milão. Numa noite de 1968, ao preparar o original Negroni, Mirko enganou-se e trocou uma das bebidas. Como o cliente adorou, ficou registado e famoso na Europa.
Stanley Tucci, no entanto, tal como Pedro, prefere o original. Com a mulher, Felicity Blunt, atrás da lente, explicou que “iria inventar um Negroni”. De pé na cozinha, demonstrou cada passo da sua receita. Misturou as bebidas e serviu o cocktail no seu copo favorito. Por fim, adicionou sumo de uma fatia de laranja antes de dar um gole e entregar o resultado final a Blunt. O vídeo teve milhões de visualizações e rapidamente apareceram manchetes que descreviam a estrela de “Julie & Julia” como um sexy bartender.
Caso prefira a versão do ator americano, mas tenha ficado distraído com o charme de Tucci, nós explicamos. Ele começa por adicionar gelo num mixer antes de servir uma dose dupla de gin, uma de vermute doce e outra de Campari. Agita tudo e serve com um rodela de laranja.
Em entrevista à revista “Vera”, Stanley Tucci revelou não saber o que aconteceu para que a publicação se tornasse tão conhecida. Afinal, acabou por ficar ainda mais famoso (se isso for possível), por fazer uma bebida. “Foi tão estranho. Fiz este vídeo com a minha mulher e ele disse-me para o publicar no Instagram. De repente, estava em todo o lado e todos me descreviam como ‘um barman sexy’.”
De sete seguidores, passou a milhares. “As pessoas estavam em casa e as lojas de bebidas não estavam fechadas”, explicou, tentando justificar o inesperado sucesso da publicação. “Ando por aqui há muito tempo, mas as pessoas nunca me viram realmente no meu ambiente, então ficaram a conhecer um lado diferente. E devem ter gostado de ver alguém a tentar divertir-se durante o confinamento”, acrescentou.
Nos últimos dias, o Negroni está a voltar ao hype que ganhou em 2021 graças a Tucci, algo que sente nos pedidos dos clientes nos bares. Mas não fica por aqui. “Os influencers desta área não param de falar sobre o clássico italiano”, afirma Pedro Martins. Por ser mais seco, “abre o palato, faz salivar e dá vontade de comer algo”. É perfeito, então, para ser tomado antes de qualquer refeição.
Leia também o artigo da NiT sobre o Maus Hábitos e conheça o espaço cultural no centro do Porto onde Pedro trabalha como chef de bar. Caso seja mais fã de vinhos, carregue na galeria para descobrir as dez melhores referências de 2021 que custam menos de 10€, distinguidas pela “Revista de Vinhos”.
