A receita do famoso bolo-rei da Bijou surgiu no início do século XX, quando Alfredo Paulino, pasteleiro de profissão, abriu o espaço no centro de Cascais. É por isso que a pastelaria continua a apresentar-se como “a mais antiga da vila”. Apesar de o negócio ter passado para as mãos da família Canelas, no final dos anos 90, mantém alguns dos “ingredientes secretos” do proprietário original.
Continua a haver um enorme mistério em redor da confeção do doce, claro, mas há vários fatores críticos que foram revelados à NiT. A cozedura, a utilização de produtos naturais e a colaboração com vários fornecedores são apenas alguns dos motivos que, ano após ano, têm levado à distinção da proposta do estabelecimento no mês de dezembro.
Se havia dúvidas, o Prémio de Melhor Bolo-Rei 2023 do concelho de Cascais foi mesmo para a Bijou. A pastelaria, fundada em 1929, foi a grande vencedora da segunda edição do concurso organizado pela Associação Empresarial do Concelho de Cascais (AECC), em parceria com a Câmara Municipal de Cascais.
“Somos associados da AECCascais há muitos anos, seguimos com interesse as atividades participamos em muitas iniciativas. Esta foi a segunda vez que participámos no Concurso do Melhor Bolo-Rei, depois do ano passado”, começa por contar à NiT Filipa Canelas, uma das responsáveis pelo negócio.
As inscrições dos participantes no concurso (apenas podiam concorrer estabelecimentos com fabrico próprio) decorreram até ao dia 1 de novembro. O vencedor foi escolhido com base numa prova cega que se realizou a 13 de novembro. Os resultados foram anunciados três dias depois.
As avaliações tiveram por base quatro categorias: forma de apresentação (quer da forma como a dimensão), aspeto exterior (a originalidade e decoração), apreciação gustativa (sabor e textura) e tradição que apresentam (consistência e ingredientes).
O painel de jurados era composto por Rita Florentino Caetano (proprietária d’A Merenda, a vencedora em 2022) como representante da AECC; Mónica Feio do DNA Cascais e os chefs Tiago Neto, do Cascais FoodLab e Nelson Félix, da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril.
Tendo em conta “a imensa qualidade dos concorrentes”, a porta-voz não esconde o orgulho. “O reconhecimento é um estímulo para continuarmos a manter o fabrico próprio, aqui nas nossas instalações no centro histórico — totalmente remodeladas e ampliadas. Esperamos que a distinção reforce a nossa imagem entre os habitantes e visitantes do concelho.”
O preço do bolo-rei é de 22€ por quilo. No entanto, a Bijou aceita encomendas de qualquer tamanho. Também existem algumas opções pré-definidas. Uma das mais procuradas é a versão “mini”, que tem menos de meio quilo e custa 3€ por unidade. A partir daí, existe um menu com porções de meio quilo, um quilo ou quilo e meio, respetivamente.
O segredo “está na quantidade de farinha”
“Em novembro, começam a sair os primeiros e vemos os pedidos sempre a crescer até ao Natal”, sublinham os responsáveis. Em média, num fim de semana do penúltimo mês do ano, os clientes compram entre 10 a 15 quilos de bolo-rei da pastelaria. Muitas vezes, quando chegam a dezembro, o valor dos pedidos aumenta para 20.
Todos os preparados são feitos na fábrica da Bijou, situada no Largo Luís de Camões. No início do ano foram feitas obras na confeção, onde a equipa começa a trabalhar de madrugada. Às 4 da manhã, os pasteleiros já estão com as mãos na massa e, normalmente, só terminam de dar resposta aos pedidos por volta do meio-dia.
Embora seja “difícil apontar um fator diferenciador”, visto que varia consoante o gosto das pessoas, também não têm dúvidas: “Procuramos fazer um bolo-rei rico em frutos-secos e fruta cristalizada. Ao mesmo tempo, asseguramos uma boa consistência para a massa, que se revela no sabor ótimo mesmo no dia seguinte.”
De facto, não poupam nos toppings. Entre caju, amêndoa, pinhão e noz, cada unidade conta, em média, com 4,5 quilos de frutos secos e um valor idêntico de frutas pré-preparadas, que são “cortadas à medida da decoração consoante o efeito pretendido”; explica. No final, as porções são misturadas.
Ainda assim, “a base de qualquer receita está na quantidade de farinha”, sendo que usam aproximadamente 15 quilos na receita. Juntam-se os ovos, o leite e as bebidas espirituosas, claro, mas o segredo está na preparação da massa. “Temos um timing muito preciso para ir ao forno. Ajustamos a produção para atingir a melhor cozedura.”
Outra das razões para o sucesso da pastelaria é a facilidade de se adaptar. Estamos a falar de uma tradição bastante portuguesa, mas existem várias variações até para quem não é fã do doce original. Muitos clientes aparecem para pedir o bolo-rei escangalhado, misturado com doce de chila, por exemplo.
Se for vegano ou intolerante a glúten, existe uma receita que “mantém o mesmo paladar”, em que usam farinha de arroz na base da massa. Durante muito tempo, tiveram ainda opções originais como um bolo-rei de chocolate ou uma proposta dividida ao meio entre as duas estrelas da quadra festiva. De um lado, o bolo-rei. Do outro, o bolo-rainha. “Se nos pedirem, ainda fazemos todos”, conclui a responsável.
Finalizado o concurso, o vencedor ganhou um prémio físico, dois anúncios publicitários na revista “Cascais Empresarial Digital” e ainda uma campanha nas redes sociais da Associação Empresarial de Cascais.
