Farinhas, ovos e açúcar. Os ingredientes são simples, mas, a verdade é que, independentemente das preferências, há segredos e técnicas capazes de elevar um pão de ló a um verdadeiro festim de sabores — ou não fosse este um dos doces que faz parte da mesa dos portugueses em dias de festa.
Os primeiros registos da receita em Portugal remontam ao século XVIII e a um convento nos arredores de Ovar. Uma freira, que se viu com mais ovos do que os que precisava para os pratos diários, quis arranjar uma forma de os utilizar, para evitar o desperdício. Mais tarde, acabou por partilhar o segredo da preparação com um familiar que vivia no centro histórico.
A receita acabou por se tornar um sucesso e, em 1781, o bolo começou a ser comercializado fora da localidade. Naquela altura, era feito em alguidares de barro vermelho. Entretanto, chegou a outros pontos do País e hoje não faltam pastelarias e restaurantes que vendam a sua própria versão. No entanto, a NiT quis saber qual é considerado o melhor. Para isso, pedimos ajuda aos nossos leitores, através de uma votação que terminou este sábado, 19 de abril.
Afinal, onde é que é servida a melhor versão da especialidade? Os leitores não têm dúvidas. Escolheram a receita da Ti’Piedade, vendida em várias pastelarias lisboetas, como a melhor que se encontra na capital.
A sobremesa, que nasceu numa aldeia nos arredores do Cadaval, recebeu 47,35 por cento dos votos, ficando à frente do pão de ló à venda no Bairro Alto Hotel, que reuniu 22 por cento dos votos, e do Melhor Pão de Ló do Universo, com 15,88 por cento.
A versão de Piedade da Silva Henriques distingue-se pela “cremosidade”. A receita foi criada pela pasteleira ainda antes da Revolução dos Cravos, “apenas por diversão”.
“Piedade, ou Ti’Piedade como era conhecida na vizinhança, não trabalhava. Tal como a maioria das mulheres da altura, dedicava a sua vida a tratar da casa e dos filhos. Mas tinha um grande talento para a cozinha e fazia uma sobremesa que deixava todos felizes quando a viam”, diz Ana Filipa Martins, mulher do neto de Piedade e atual dono da marca.

Em dias de festa, os locais ansiavam por provar o pão de ló da doméstica. A receita da própria, que não partilhava com ninguém, tinha um segredo especial para que o “ló”, ou seja, “o creme do meio do bolo” ficasse mais cremoso e menos líquido.
Por não conseguirem chegar “ao ponto”, restava-lhes encomendar o famoso doce da Ti’Piedade. “As encomendas começaram a chegar, mas multiplicaram-se depois de Abril de 1974 quando o filho, António Carlos, que era banqueiro em Lisboa começou a levar alguns exemplares para dar a provar nas pastelarias da capital, como a Mexicana e a Colombo”, refere a atual responsável por vendas externas da empresa.
Em poucos meses, tinham clientes fiéis em Lisboa e várias encomendas que seguiam para a cidade. Um par de anos mais tarde, o banqueiro decidiu deixar a profissão para se dedicar ao negócio criado pela mãe. Tratou da expansão da distribuição e nos anos 90 o pão de ló chegou a vários hipermercados do País, como o Jumbo. Em 2007, Carlos Henriques, neto da pasteleira, assumiu o negócio e tratou de elevar a produção do pão de ló, mantendo a receita de sempre.
O negócio continuou a crescer, mas o método manteve-se. “Fazemos tudo de forma artesanal, com ovos biológicos, nos mesmos fornos de sempre e com os tachos de ferro fundido. E depois de batermos os ingredientes todos, levamos a cozer por 30 minutos, de forma uniforme para conseguir chegar ao aspeto cremoso do pão de ló”, refere a mulher do proprietário.
Por dia, saem mais de mil unidades de 500 gramas dos fornos da fábrica da Ti’Piedade em Painho, mas se falarmos das versões individuais o número “pode ser bastante superior”. Depois seguem diariamente para serem distribuídos por restaurantes e hipermercados em Lisboa, como o Ilha da Madeira, a Ginjinha do Carmo, o Sud Lisboa, a Brasileira e o Nicolau. Independentemente do local, custa 12,99€.
A versão original de ovos continua a ser o doce mais pedido, no entanto, desde que a terceira geração assumiu o negócio que há outras especialidades. O portfólio conta com versões de chocolate, café, canela, alfarroba (apta para celíacos) e no verão nunca falha o sabor fresco de pão de ló de limão. Estas versões custam 13,99€.
