Gourmet e Vinhos

O sexy boy do detergente vai a sua casa entregar vinhos de luxo

Pedro Martin lançou uma garrafeira que vende dos vinhos mais caros do mundo a preço de amigo.

Em 2017, Pedro Martin foi o protagonista de uma campanha publicitária que se tornou viral. Num registo provocador, o manequim português surgia numa cama, em tronco nu, para revelar em três capítulos “o segredo do vizinho”: “sua marota, queres ir lavar a roupa?”, perguntava à  cadela no vídeo, apimentado por mais três vizinhas curiosas. O “segredo” era um detergente de roupa e a campanha seria a mais vista desse ano no youtube. Mas Martin, que ficaria para sempre associado àquela imagem, já andava com outros planos: uma garrafeira de luxo a preços de saldo. 

Chama-se Martin Boutique Wines e começou a ganhar forma muito tempo antes daquele anúncio. A ideia é simples: democratizar as regiões de vinho mais caras — em Portugal e no estrangeiro — e torná-las acessíveis ao bolso comum. Um Chardonay, por exemplo, talvez o mais popular vinho branco em todo o mundo, cujo preço facilmente ultrapassa os 100€, na loja de Pedro Martin custa 9.80€. Colheita de 2015, é vinificado a frio durante 15 dias em tanques de aço inoxidável “com temperatura controlada”. 

É sobretudo um trabalho de pesquisa para encontrar produtores emergentes e negociar de forma a baixar o preço, quer para o consumidor final, que compra no site, quer para os revendedores de hotelaria e restauração. “Cortamos todas as comissões. Não é por acaso que não temos um espaço físico, só vendemos online, e toda a gestão é pensada para não adicionar preço. A experiência do bom não pode estar apenas na mão de quem tem carteira”, acredita Martin, que é o próprio a fazer as entregas ao domicílio na zona de Lisboa. 

Em Portugal, Martin trabalha com vinhos do Dão, da Bairrada e, em breve, do Douro. Mas a garrafeira comercializa também marcas estrangeiras que cá são vendidas exclusivamente na página da Martin Boutique Wines. Sem um espaço físico, existe em Lisboa uma exposição com alguns destes exemplares, na queijaria Cheese Shop. Em média, uma garrafa no mercado custa três vezes mais do que o preço praticado no site.

Da moda aos vinhos

Para alguém vindo de uma área tão diferente como a moda, trabalhar em vinhos não deixa de ser surpreendente, sobretudo conhecendo a faceta mais recente e visível de Pedro Martin: o vídeo do detergente. Mudar radicalmente de área, no entanto, foi uma estratégia para resolver as dificuldades financeiras que atravessou, em 2011, quando viu os seus rendimentos caírem 30% devido à crise.

“Antes recebia 1500 euros só para começar um trabalho. Mas depois começou a ser muito diferente. Pelos novos valores era insustentável. Foi uma fase muito conturbada da economia”, conta à NiT. Sem trabalho ou rendimentos fixos, decidiu pedir ajuda a um amigo de longa data, proprietário dos vinhos alentejanos Fita Preta. Ofereceu-se para trabalhar.

“Queres acordar às cinco da manhã e ir de Lisboa para Évora todos os dias empacotar garrafas com os romenos?”, desafiou-o António Maçanita, o amigo e um dos enólogos mais considerados em Portugal, com menos de 30 anos. “Tinha duas mãos e duas pernas, decidi atirar-me ao trabalho. Trinta euros por dia era mais do que eu tinha na conta no dia anterior.”

Durante uns meses fez o que era suposto: conduziu centenas de quilómetros, empacotou garrafas, conviveu com os colegas estrangeiros, foi aprendendo com o amigo toda uma nova definição de vinho.

“Sempre gostei como um mero consumidor. Adorava dizer que era uma apreciador mas agora vejo que não percebia muito. Hoje sou ultra-analítico”, diz à NiT o empresário e manequim. Com o amigo, vagueou pelas vinhas, provou uvas, aprendeu a sentir-lhes o sabor, e deixou-se influenciar pela visão de António Maçanita, decisiva para o passo seguinte: tornar-se um sommelier. Fez cursos, trabalhou com o chef Ljubomir Stanisic, no restaurante 100 Maneiras, aprendeu a teoria e aplicou-a em inúmeros jantares de amigos, conversas e provas. 

“Num país como Portugal, com muito vinho de qualidade, onde se produz muito com qualidade intrínseca, o preço tem de ser justo. Como poder comer um belo pedaço de carne sem que isso custe os olhos da cara. Não é preciso um rendimento fora de série para provar uma coisa que toda a gente devia experimentar.”

Resta fazer a experiência. Comece por selecionar o vinho branco ou tinto — também há gin se estiver no mood de uma bebida destilada. Um tinto “Tirado a Ferros“, com 24 meses de estágio em cascos novos de carvalho, tem um preço de 35€ (mais 9€ de portes) e pode ser enviado para qualquer zona do País. Se optar por um Mersault Vielle Vignes, de 750 mililitros, o preço sobe ligeiramente: fica nos 42€.

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