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Pão de Rio Maior “só” tem um segredo. “Continua a ser feito como era há 33 anos”

Panificadora Costa & Ferreira produz mais de 300 mil pães diariamente. "A receita não teve uma única alteração."
É um sucesso.

“Tal como o pastel de nata está nos quatro cantos do mundo, por que não termos também um pão português?” O objetivo é, no mínimo, ambicioso — principalmente para uma empresa de produção artesanal — mas é mesmo este o objetivo da Panificadora Costa & Ferreira.

E podemos dizer que não estão assim tão longe do alvo. Aliás, já chegaram a Espanha, Holanda, Luxemburgo, Bélgica, Reino Unido, França, EUA, Cabo Verde e Angola. Nada mal para um projeto que começou há 33 anos com um casal a vender pão de porta em porta.

O início da Sociedade Panificadora Costa & Ferreira confunde-se com a história do senhor Joaquim Costa e da dona Rita Costa. Juntos começaram a confecionar uma receita exclusiva de pão em fornos de alvenaria, aquecidos a lenha. Os pães eram depois vendidos aos dois restaurantes de grelhados e frangos assados para servirem de acompanhamento aos pratos. O sucesso foi tal que as encomendas não pararam de aparecer. A partir daí, foi sempre a multiplicar.

A 1 de julho de 1990, surgiu a Sociedade Panificadora Costa & Ferreira com o seu “pão tradicional”. Sim, o que ficou famoso pela côdea estaladiça e pelo miolo macio, elástico e saboroso. primeiro pão tradicional certificado em Portugal é conhecido até hoje como Pão de Rio Maior, devido ao seu fabrico no Alto da Serra, uma aldeia no Ribatejo.

Apostamos que o conhece. É aquele que aparece frequentemente nos supermercados em embalagens de plásticos com as letras garrafais C&F a vermelho. Sim, porque o pão acabou mesmo por ir parar às grandes superfícies. “A empresa tem crescido e ocupa uma posição considerável no mercado, onde já está há mais de 30 anos”, explica à NiT Deborah Barbosa, a diretora-geral da empresa.

A empresa cresceu, mas a receita não mudou, garante a responsável. “A cozedura continua a ser feita em fornos artesanais, fornos de alvenaria, aquecidos a lenha. Cada pão é moldado manualmente, enfornado manualmente, retirado do forno manualmente. Costumamos dizer que o pão passa sempre por várias pessoas ao longo do seu percurso de produção”, diz.

E sobre o segredo? “Digamos que, se existe, tem um pouco a ver com isso: o pão mantém-se igual há 33 anos. A receita não teve uma única alteração. A nossa farinha é só mesmo trigo moído, não tem mais nada.” A fórmula é bastante simples: leva farinha, levedura biológica, sal, e água. Mas há uma grande diferença, segundo Deborah: o processo de confeção. “A maneira como é moldado, o forno onde é cozido, o facto de ainda ser cozido a lenha. Mantivemos uma vertente tradicional, apesar de ser feito a uma escala industrial.”

Diariamente, são produzidos mais de 300 mil pães na fábrica de 85 mil metros quadrados. Atualmente, a Panificadora Costa & Ferreira tem 31 fornos, com cerca de cinco metros de diâmetro, a trabalhar todos os dias. Cada um leva cerca de 250 pães, que demoram 30 minutos a cozer. “Temos cerca de 240 funcionários. Trabalhamos em três turnos de 24 horas, e só fechamos ao fim de semana, dias em que fazemos a limpeza e manutenção da fábrica. Diariamente, usamos cerca de 50 toneladas de farinha”, explica.

Ali só se faz pão. Não há cá bolos nem nada de pastelaria. E a ideia é que assim continue. Claro, que sempre a crescer. “A empresa vai, nos próximos dois anos, investir na ampliação, para aumentar a capacidade produtiva. Temos, também, o objetivo de lançar novos produtos, que contemplem a questão da economia circular, e apostar na expansão internacional.”

A Panificadora Costa & Ferreira começou a exportar há seis anos. Primeiro, através do “Mercado da Saudade” (um termo usado em economia para designar o mercado de trabalho especializado em comercializar produtos típicos de uma nação para as comunidades daqueles países que vivem no estrangeiro), e depois através de parcerias com as grandes superfícies. 

Após o sucesso do pão de maçã e canela, a ideia agora é desenvolver outras receitas mais “fora da caixa”. “Temos alguns desafios e muitos testes em curso, mas só vamos conseguir projetá-los para o mercado quando tivermos a ampliação feita porque, felizmente, estamos com a capacidade produtiva muito perto do limite. Pelo menos nos próximos meses, ou diria mesmo ano, não vamos lançar produtos diferenciados. Esperamos guardar todas as novidades para quando tivermos mais capacidade produtiva”, revela a diretora.

Até lá, a equipa de desenvolvimento continuará a fazer reuniões para desenvolver ideias. “Isto tendo sempre preocupação de que todos os nossos produtos são feitos com ingredientes naturais. Não utilizamos nenhum tipo de químico ou aditivo. É um ponto muito importante no nosso processo e que fazemos questão de manter.”

Exatamente por isso é possível recongelar os produtos. A panificadora de Rio Maior fornece dois produtos finais: o pão ultracongelado — distribuído a clientes de norte a sul do País — e o pão acabado, que é distribuído em localidades até 200 quilómetros de Rio Maior.

“Mais de 90 por cento da nossa produção é comercializada congelada. Depois nos clientes finais, nas lojas, é regenerada. E é completamente seguro que o consumidor final volte a congelá-lo e que o use posteriormente. O produto não perde características”, garante. Quando congelado, o pão tem uma durabilidade de nove meses. Após ser cozido na loja, é considerado um produto fresco, que deve ser consumido dentro de 24 horas — “ou mais tempo, consoante o método de conservação”.

Hoje, a fábrica conta já com 50 receitas, além da do pão de Rio Maior, e o senhor Joaquim e a dona Rita assistem à criação de todas — agora, no banco. Com 81 e 68 anos, respetivamente, continuam a fazer parte do conselho de administração da empresa, mas já estão reformados e sem funções executivas. Sobre o crescimento do projeto que viram nascer, Deborah não tem dúvidas: “Ficam bastante felizes por verem o seu legado chegar tão longe e ser tão reconhecido, seja pelos nossos clientes diretos ou pelo consumidor final.”

A seguir, carregue na galeria para conhecer melhor a fábrica onde se continua a cozer pão de forma tradicional.

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