Em casa de Rúben Dias, há pelo menos um snack que nunca pode faltar: edamame. A soja ainda na vagem verde é o guilty pleasure do futebolista do Manchester City, que guarda quantidades generosas desta proteína em casa, para no final de cada jogo comer religiosamente uma bowl recheada com os pequenos feijões. Mas a tarefa de providenciar tudo isto recai sobre Diogo Prego, o chef privado do central português.
O internacional português não foi o primeiro cliente do cozinheiro alentejano de 35 anos no mundo do futebol. Andrew Robertson, Ewerton e até os donos do clube Mansfield Town Football Club são apenas alguns dos nomes que fazem parte da lista de clientes de Diogo Prego. Foi aliás com estes últimos que se abriram as portas do futebol e da Premier League. “Simplesmente aconteceu”, conta à NiT.
Sempre soube que queria trabalhar na restauração. Aos 18 anos deixou Évora e rumou à capital para formar-se em gestão hoteleira. Com 23 anos abriu o primeiro negócio, a Chouriçaria da Praça. Em 2019 vendeu o projeto e rumou ao Algarve onde começou a trabalhar como chef privado. “A minha mãe dizia-me que eu tinha jeito para receber pessoas em casa e alimentá-las então decidi testar. Na zona de Almancil havia uma empresa de chefs privados e eu juntei-me. No entanto, rapidamente percebi que podia fazer o mesmo, mas por mim, e em 2021 criei a Golden Chefs”, recorda.
Os primeiros clientes foram precisamente os donos do Mansfield Town Football Club. A família inglesa, que vivia na Quinta do Lago, foi lhe apresentada e rapidamente ficaram fãs dos cozinhados do alentejano. Contrataram-no durante um ano para lhes preparar as refeições e serviram de anfitriões no mundo do futebol. Seguiram-se depois outros contactos para cozinhar pontualmente para Andrew Robertson, que jogava no Liverpool, e para Jan Vertonghen, durante a sua passagem pelo Benfica.
Os cozinhados de Diogo ganharam fama e em 2022 foi contactado pela equipa de Rúben Dias. “Descobriram-me e ligaram-me para saber se estava interessado em trabalhar a full time com um jogador de futebol no estrangeiro. Não me disseram quem era e como estava em pleno verão tinha muito trabalho, então disse-lhes que poderia estar interessado, mas que naquele momento não conseguia por causa do número de pedidos. Voltaram a contactar-me mais tarde e disseram-me que se tratava do Rúben e fizeram-me a proposta. Tive de fazer duas entrevistas, em que cozinhava para ele para a família, e acabámos por nos dar logo bem, por isso aceitei”, conta.
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Assim que começaram a trabalhar juntos, Diogo quis saber quais eram os pratos favoritos e aquilo que não podia mesmo entrar no plano. Rúben confessou a paixão por Bacalhau à Brás, mas de resto deixou o chef à vontade para testar a criatividade. “Todas as semanas envio um plano de refeições, feito consoante os horários, eventos, treinos e jogos com os pratos que lhe vou servir, mas acaba sempre surpreendido.”
Diogo Prego é cozinheiro privado do internacional português há uma época e meia e, apesar do frio que se faz sentir em Manchester, em Inglaterra, o chef admite que tem sido “espetacular”. Já conhece bem o gosto de Rúben e da família e sabe que pode surpreendê-lo todas as semanas com propostas diferentes, desde que cumpram as necessidades básicas do atleta.
Bacalhau à Brás, bowls com edamame e bife tártaro. Estes são os pratos que Diogo Prego recria com mais frequência. O primeiro é o prato favorito, o segundo é obrigatório após cada jogo e o terceiro é aquele que “faz um brilharete quando há mais alguém a jantar em casa”. “Já cozinhei também para o Bernardo Silva e para o Matheus Nunes e foi uma das entradas que decidimos apresentar. Adoraram”, revela o cozinheiro.
Um congelador cheio de gelo (e caldos)
Diogo tenta manter tudo simples e o mais natural possível. Na sua cozinha não entram processados ou refeições pré-feitas. Cozinha tudo de raiz, incluindo o pão e os caldos que depois usa para fazer sopas, arroz e outros pratos. A teoria é que tudo seja aproveitado.
De resto, na arca de casa do jogador de futebol apenas entram os cubos de gelo — que o atleta utiliza para fazer os banhos gelados (que ajudam na recuperação muscular) e bacalhau. “Há um supermercado português aqui em Manchester que vende um bom bacalhau. No entanto, como não há sempre, quando vejo à venda compro para ter em stock”, diz.
Tudo o que entra na cozinha chega fresco dos mercados locais. Um traço inegociável da rotina do chef, que acorda sempre cedo para encontrar nos supermercados e mercearias os melhores produtos.
“O Rúben segue uma dieta equilibrada, mas o foco é o de tirar o melhor partido da comida para dar ao organismo tudo o que precisa. Ele partilha as análises comigo e em conjunto com o nutricionista elaboramos um guia alimentar. Depois eu crio todas as semanas planos de refeições, sempre diferentes, com ingredientes frescos e com os nutrientes necessários para o gasto calórico brutal que ele tem durante o dia”, explica.
Além de estimular a veia criativa, o alentejano estuda muito para saber que tipo de pratos pode recriar e como pode torná-los mais interessantes nutricionalmente. No entanto, há três coisas que nunca podem faltar: sopa, bolachas caseiras, feitas com aveia e sem açúcar e muito edamame.
O dia a dia de um chef privado
A agenda de Diogo é gerida consoante a do Rúben. O jogador envia-lhe o plano de treinos e eventos todas as semanas, para que o chef se possa orientar as horas das refeições.
Normalmente o dia começa nos mercados à procura de produtos frescos para fazer duas refeições ou um brunch e jantar ou almoço e jantar, dependendo do que o central tem para fazer nesse dia. Assim que tem tudo o que precisa, sobe até a casa de Rúben, que fica no mesmo prédio, e começa a preparar as refeições.
“No bairro onde vivemos tem várias mercearias, talhos com carne de qualidade e peixarias onde posso ir a pé e escolher os ingredientes. Quando preciso de algo nacional, que faça lembrar casa, vamos ao supermercado português, ou peço à família de Rúben para trazer quando vêm cá, nomeadamente louro, orégãos e enchidos”, revela.
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Diogo faz as refeições com Rúben e no final de jantar ainda jogam snooker e fazem apostas divertidas. “Eu deixo-o ganhar para ele ficar com a moral em alta. A última vez que jogamos apostamos que quem ganhasse ia ter de cozinhar o jantar. Aí, mais uma vez, deixei-o ganhar, mas porque estava a olhar por mim e pelo meu trabalho”, conta.
Durante a semana estão focados na preparação e alimentação de Rúben. Nas folgas, como têm gostos em comum, acabam por fazer várias atividades também com a mulher e o filho do chef. “Adorámos música e desporto, por isso acabamos por fazer companhia uns aos outros.”
A única coisa negativa de ser chef privado é que quando chega a casa a última coisa que apetece é preparar um banquete. Por isso, normalmente fica-se pelos bifes de frango simples e arroz branco, “nunca falha”.
Como contratar a Golden Chefs
Diogo trabalha em exclusivo com Rúben Dias durante a época de futebol. No entanto, quando há a paragem de verão, normalmente entre o final de maio e agosto, ruma a Portugal para encher a barriga de alguns clientes fiéis que o esperam no Algarve. “Tenho o melhor dos dois mundos”, admite.
Quem quiser contratar os serviços de Diogo tem de ser durante essa janela de tempo. As reservas podem ser feitas através das redes sociais e o momento é personalizado à medida do cliente. “Os preços são estipulados consoante o modelo escolhido. Atualmente posso fazer algo mais duradouro, por exemplo, para 15 dias com uma família e o preço é estipulado por pessoa, sem comida incluída. Mas quem quiser posso também fazer um evento único e os valores apontados começam nos 70€”, explica.
Diogo admite que podem pedir-lhe o que quiserem e adora desafios. Normalmente só recusa se for algo mesmo impossível de realizar. De resto, como adianta, é “tudo possível e altamente personalizado aos gostos de cada um”.
Os momentos em que trabalha cá servem para matar saudades de casa e de Portugal — sobretudo do clima. No entanto, admite que adora o que faz e que se algum dia o Rúben mudar de país, que faz as malas e acompanha-o se essa for a sua vontade. Sobre o salário preferiu não divulgar, adiantando apenas “que está muito confortável”. “Adoro o que faço e nunca pensei que estaria nesta posição nesta altura da minha vida.”
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