Em Braga, é conhecida com “a mulher do queijo”. A empresária deixou de lado o ensino, onde dizia não ter grande “perspetiva de crescimento” para se dedicar, lá está, aos queijos. Embora adorasse os miúdos e o trabalho, Ana Rita Lima sentia se inquieta. Essa inquietação começou a deixá-la ansiosa e com vontade de mudar. Demorou a perceber o que seria, mas bastou uma viagem para encontrar o rumo.
Numa viagem à capital italiana, acabou por encontrar uma paixão avassaladora que ia transformar a vida da educadora de infância. “Pouco depois de casar, em 2008, fui com o meu marido aos Países Baixos. Além de conhecer o país, havia algo que nunca podia faltar: uma pequena prova de queijos. O meu amor por esta proteína não era recente, mas com a oferta diversificada que encontrava além-fronteiras dava-me vontade de experimentar, perceber a história e trazer todos para casa”, começa por contar à NiT.
Mas nessa altura, ainda era feliz com o que fazia. Contava histórias aos miúdos, entretinha-os e isso era suficiente. A dada altura começou a perceber que tinha que mudar. “Eu gosto de mudança, embora tenha sempre algum receio. Mas depois de uma viagem a Roma, em 2015, percebi que o meu amor por queijo ia mais além de ser uma mera consumidora. Queria ter uma pequena loja como as que via lá, onde os clientes entravam para escolher um queijo adequado ao prato, a um momento especial ou para provar com a família. Um local onde pudesse contar outras histórias”, revela.
Contou ao irmão João o que queria fazer. Ele apoiou-a e depois chamaram “os apêndices”, o marido e a cunhada, que também alinharam na nova aventura de Ana Rita. “Além de me apoiarem foram fundamentais para me ajudar a decidir o conceito. Eu sabia que queria fugir das famosas lojas gourmet, queria algo corriqueiro, onde qualquer pessoa pudesse entrar e comprar. Tinha de ser acessível a todos. A minha cunhada, a Paula Cunha, disse-me rapidamente: ‘então queres uma corriqueijo’ e ficou”, explica.

Sem qualquer formação, sabia que a paixão era o seu único trunfo. Acabou por se despedir em 2016 para começar a investir na área. “Fui à procura de produtores nacionais, que acabaram por me dar outros contactos, pesquisei imenso e acabei por ir para França e para Espanha aprender on the job com colegas que já estava no meio. Passei a acompanhá-los nas queijarias e a perceber os modelos de negócios, os cortes de queijo, a fermentação, tudo.”
Dois anos depois, em 2018, abria a primeira e única loja artesanal de queijos em Braga. Para a loja paredes meias com o Arco da Porta Nova no coração do centro história da cidade, trouxe referência dos melhores queijos nacionais e outros mais seletivos. De vaca, cabra, ovelha, vindos de França, Espanha, Itália ou Portugal. Gorgonzola, gouda ou o típico da Ilha de São Jorge, parmesão, estão todos ali. Mas se não estiverem, Ana Rita trata disso. “Adoro saber a história de cada produto, ajudar os clientes, conversar com eles”, refere.
Num dia como outro qualquer na queijaria, Ana Rita começou a receber sinais estranhos dos fornecedores. Estava ocupada com um cliente, até que percebeu que os sinais eram por causa do homem que entrara à procura de um whisky. Era nada mais nada menos do que Lloyd Cole, o cantor britânico.
“Não fazia a menor ideia de quem se tratava. Estavam a fazer-me sinais a tentarem dizer-me e eu ali apenas a falar do meu negócio. Na altura o artista mostrou-se encantando com a nossa loja de queijos artesanais e com as referências que tínhamos. Admitiu que estava apenas de passagem, mas que queria voltar para levar alguns dos nossos queijos”, conta à NiT a proprietária.
Este reconhecimento torna-se fundamental para valorizar o trabalho do comércio local. E a intenção de Ana não é crescer ou internacionalizar-se. “Quero continuar a ter o meu espaço corriqueiro, onde as pessoas sabem que pode encontrar queijos para todas as carteiras e que saem daqui com um pouco mais de conhecimento do que levam. Esta proximidade é o que nos distingue”, refere.
Além das novidades, sabe que tem certas referências que tem sempre de manter. Uma delas é o Lola Montez, um queijo de vaca alemão, carregado de flores. Esse, a par dos clássicos gouda e da serra, não podem faltar no longo balcão que corre a loja de uma ponta a outra.
Para Ana são estes pequenos detalhes que fazem com que acredite que o comércio de rua tem futuro. Mas exige muito de si. “Quando fechamos a porta, o trabalho não está feito. O queijo tem de ser tratado, limpo e cuidado. É como numa loja de roupa. Ninguém expõe um vestido na montra amarrotada e com as bainhas desfeitas. Aqui é igual. Há um cuidado muito minucioso.”
