Está a acontecer o que muitos temiam: a escassez de milho está afetar todos os setores de produção e o efeito vai fazer-se sentir até nas pipocas. A Ucrânia e a Rússia são dois dos principais produtores e importadores mundiais deste cereal, e a guerra entre os dois países espoletada pela invasão russa do território ucraniano a 24 de fevereiro está a afetar as cadeias de distribuição a nível global. Problemas que se estendem ao óleo de girassol — muito utilizado na preparação das pipocas que se vendem nas salas de cinema — e de é umas das principais explorações da agro-indústria ucraniana.
Nos Estados Unidos da América, a oferta de pipocas pode sofrer constrangimentos já nos meses de verão. Em Portugal, o efeito será sentido sobretudo nos cinemas que usam milho importado. As previsões apontam um tal aumento dos custos de produção, que o mais impactado será o consumidor final.
O fornecedor norte-americano “Preferred Popcorn” revelou ao “Wall Street Journal”, aqui citado pelo jornal “Expresso” que: “o grande problema é convencer os agricultores norte-americanos a produzirem milho suficiente, em vez de apostarem em cereais mais lucrativos, como a soja — sobretudo durante os meses da guerra na Europa. Os problemas de fornecimento de milho nos EUA são agravados ainda pela falta de motoristas de veículos pesados no território, o que já gera atrasos nas remessas em todas as cadeias de distribuição de bens de consumo”. A isto acresce ainda o facto de os norte-americanos ainda não se sentirem confortáveis para voltar às salas de cinema, devido à pandemia da Covid-19, o que faz subir os preços das pipocas para o menor número de espectadores que as compram sempre que vão ver um filme.
Em Portugal, a situação é distinta. Segundo o semanário português, a Agromais é a única empresa no País que produz milho para pipocas e não prevê uma quebra de fornecimento. O diretor, Jorge Neves, aqui citado pelo Expresso explica: “a Ucrânia tem uma pequenina produção de milho para pipocas, mas não é relevante, e a Rússia é um grande importador para as cadeias de cinema.”
Segundo o representante da Agromais, o que pode impactar é o preço dos fretes marítimos, que está a afetar todos os sectores. “O milho para pipocas chega a Portugal em contentores, e o transporte destes contentores atingiu preços completamente proibitivos”, admite Jorge Neves.
Esta empresa portuguesa fornece quase metade do País — os cinemas NOS incluídos. As outras salas adquirem o milho para pipocas a importadores, mas alguns substituíram essas encomendas por compras à Agromais, adianta ainda o diretor-geral da empresa nacional. Mas reconhece, porém, que, dada a conjuntura geral de aumentos dos preços, a produção terá “custos de tal maneira altos que, no limite, o consumidor final terá de pagar”.
Os preços das matérias-primas “aumentaram muito, por causa do preço dos cereais, e o custo do transporte é elevadíssimo”. Uma das matérias-primas que também encareceu é o óleo de girassol, usado para fazer pipocas, que, em grande parte, provém da Ucrânia.