Desde 2011, quando estreou em Portugal, que o programa “MasterChef” tem-se dedicado a revelar alguns dos maiores talentos nacionais na área da culinária. Entre estes destaca-se Tiago Silva, de 28 anos, natural de Felgueiras, que ficou em quarto lugar na edição de 2019. Desde então, já estagiou em dois restaurantes emblemáticos de Rui Paula e aproximou-se ainda mais do público ao partilhar, com frequência, receitas práticas nas redes sociais.
O caminho rumo à profissionalização, contudo, não foi linear. “Gosto de cozinhar desde muito novo, mas sempre o fiz num registo muito caseiro e informal, para amigos e familiares. A minha formação, inclusive, é em Comércio Internacional, e por algum tempo trabalhei na área de vendas”, conta à NiT.
O interesse pela gastronomia terá começado com a mãe e a avó. “Nunca me incentivaram propriamente, mas cresci a vê-las cozinhar — muito bem por sinal —, sobretudo aquela comida de conforto. Talvez o bichinho tenha nascido aí. Apenas esteve adormecido por muito tempo. Em 2019, depois de já ter trabalhado em empresas como a Vodafone e numa fábrica de calçado local, é que decidi arriscar ao ver o anúncio para as inscrições no ‘MasterChef'”, acrescenta.
Na altura, foi o desafio que o atraiu. “Queria saber como funcionava, aprender mais e viver aquela experiência. Nunca imaginei chegar tão longe, até porque não tinha bagagem profissional, nem a sério nem como hobbie. Tudo acabou por correr bem. Era sempre uma surpresa quando superava uma nova etapa. Superou todas as expetativas e, a dado momento, já não imaginava uma vida que não fosse ligada à cozinha.”
Privar com alguns dos melhores cozinheiros do País foi, sem dúvida, um dos destaques da sua aventura televisiva. “Conviver com figuras incontornáveis da gastronomia nacional, como Rui Paula, Henrique Sá Pessoa e Miguel Rocha Vieira, é impagável. Depois, deu-me a oportunidade de fazer dois estágios em restaurantes do chef Rui, um na Casa de Chá da Boa Nova [Leça da Palmeira] e outro no DOP [Porto]. Não podia pedir mais”, comenta.
Desses estágios retira, principalmente, o traquejo que trabalhar em espaços como estes dá. “É um desafio constante. Todos os dias. Uma coisa é sabermos aquilo que vamos cozinhar e podermos preparar-nos. Outra é estar dependente daquilo que os clientes vão escolher no dia. Sobretudo porque são restaurantes que estão praticamente cheios todos os dias. É muito exigente, mas compensador. Aprendemos também a lidar com imprevistos, como algo acabar e precisarmos de repor rapidamente. Tudo para não desapontar quem nos procura.”
No mesmo ano em que tudo mudou para Tiago, começou a partilhar receitas no Instagram. “Era uma ideia que já tinha antes do programa e que foi amadurecendo com o tempo. Queria criar algum impacto nas redes sociais. Então dediquei-me a partilhar receitas e a recetividade foi muito, muito boa. Na sua essência são propostas fáceis, rápidas e económicas, para que as pessoas as possam replicar em casa sem problemas.”
Até agora, houve três propostas que se tornaram particularmente populares: gambas ao alho, bacalhau e frango à Brás. Em comum, têm uma característica: “a simplicidade”, indica o autor. “As pessoas conseguem, em cerca de meia hora, replicar a receita com exatidão. Esse parece-me ser o principal atrativo. Além disso, são pouco dispendiosas. Tudo bem que as gambas custam um pouco mais, porém, nada de transcendente. O frango terá ainda a ver com o reaproveitamento dos restos que fiz com o churrasco que sobra.”
Antes de se dedicar a esta atividade, deixou a colaboração com Rui Paula. “Houve a possibilidade de continuar, mas achei que era a altura certa para me lançar a solo. Era o timing perfeito para um projeto próprio porque tinha o reconhecimento que a televisão me trouxe. Idealmente, deveria ter continuado para aprender mais, mas senti que ia perder a oportunidade de entrar no mercado. Foi um passo grande, que exigiu esforço, mas não me arrependo. Estou sempre a fazer workshops e formações para me aprimorar”, partilha.
No final de dezembro, cerca de dois meses após ter começado a divulgar as receitas, lançou o Q’Chef — o chef em tua casa. “Surgiu a necessidade de ter alguma fonte de rendimento no imediato e tive a ideia de fazer os serviços de cozinha ao domicílio.”
Contratar Tiago Silva é bastante simples. “Os interessados entram em contacto (ochefemtuacasa@nullgmail.com), dizem o que pretendem e definimos o menu. Temos uma série de propostas, mas podemos ajustar em função do gosto e das restrições alimentares de cada cliente. Depois, fazemos as compras, vamos ao local, preparamos, servimos e, no final, a cozinha fica limpa e arrumada, tal como foi encontrada”, explica.
“Só as bebidas ficam a cargo do contratante. Por questões de logística, principalmente. Costumamos chegar três horas antes da hora a que tudo tem de estar pronto e nem sempre iríamos conseguir acomodar as bebidas da forma que exigem. Então fica do lado do cliente”, completa.
O custo depende de várias coisas, mas um menu base, com couvert, quatro entradas, prato principal e sobremesa, costuma rondar os 40€ por pessoa, para um mínimo de 10 pessoas. O número de elementos da equipa — que até disponibiliza babysitting se solicitado —, e a distância a percorrer (cobrem todo o Portugal continental) são algumas das variáveis que também influenciam o preço.
Por norma, três dias de antecedência é suficiente para organizar um serviço, mas vai sempre depender da agenda. “Atualmente, já temos janeiro e fevereiro fechados”, revela o cozinheiro.
Para os próximos tempos, Tiago quer consolidar aquilo que já faz e planeia abrir um espaço. “Deve abrir em fevereiro ou março. Já está em construção. A ideia é realizarmos lá workshops e alguns eventos privados. Também vou gravar lá as receitas. Pretendo, igualmente, desenvolver uma loja online para venda de produtos, por exemplo. No fundo, é alargar o leque de ofertas que já temos para chegar ainda mais longe”, conclui.
Carregue na galeria para ver Tiago Silva em ação.