Conhecido como o Rei do Douro, o Barca Velha é um dos mais especiais vinhos portugueses. Em mais de sete décadas, foram declaradas apenas 21 colheitas dignas de receber o rótulo Barca Velha, uma honra reservada para anos de qualidade excecional e de condições absolutamente ímpares. Foi o caso da de 1966, que está à venda na Garrafeira Nacional por metade do preço.
A colheita em questão tem um teor alcoólico de 12 por cento e é “surpreendentemente profunda, mas de nariz fechado no início”, revelam as notas de prova. Os especialistas apontam ligeiras notas de alcatrão e de tabaco, que tornam o vinho feito com uvas do Douro “rústico e elegante”. “A forte concentração da fruta ainda presente, conjuga lindamente com o seu perfil já evoluído.”
O Barca Velha de 1966 encontra-se, normalmente, à venda por valores próximos dos 850€. No entanto, no outlet da Garrafeira Nacional é possível encontrar o vinho a metade do preço, por 450€. A campanha está disponível até 31 de julho ou até o stock existente terminar.
Para percebermos o processo desta colheita temos de recuar até à época em que se comemorava o final da Segunda Guerra Mundial. Na altura, a zona do Douro era conhecida apenas pelo vinho do Porto e tinha apenas alguns rótulos de mesa.
Fernando Nicolau de Almeida queria mudar o panorama da vinificação no Douro. A ambição do diretor de enologia da Casa Ferreira passava por criar “um grande vinho do Douro”. Com este propósito partiu numa viagem até França, para perceber porque é que os vinhos da região portuguesa não evoluíam bem. Contactou o famoso enólogo francês Emile Peynaud, que o ajudou a chegar à conclusão que a melhor zona para produzir um vinho de excelência era a do Douro Superior, por ser a mais quente.

Após esta descoberta, Nicolau de Almeida começou a misturar as uvas das zonas mais baixas, onde vai buscar a “estrutura, o volume e os taninos” e misturava-as com as de regiões mais altas, para encontrar a “acidez sem a qual um vinho não tinha a capacidade de envelhecer em garrafa. “Na altura foi um virar de uma página que permitiu chegar a um vinho de grande qualidade, de boa estrutura, com elegância, com harmonia, mas, ao mesmo tempo, que conseguisse envelhecer da melhor forma”, explica à NiT Luís Sottomayor.
A marca foi firmada em 1952, ano da primeira grande colheita excecional que mereceu a honra de ser engarrafada com nova designação. Desde aí que usam os mesmos métodos. “Sabemos quais são as vinhas com maior potencial. Assim que estão maduras, passamos à vinificação. Na adega fazem a mistura das uvas. Todo o processo é feito sem artifícios, porque os bons vinhos têm que ser feitos com processos muito simples”, adianta o enólogo.