Croissants, donuts, gelados ou mesmo chocolate do Dubai. O pistácio invadiu as sobremesa, os salgados e até os pratos principais nos últimos anos. A febre acabou por influenciar a procura e, claro, o preço. Atualmente, um saco de pistácios pode chegar aos 25€.
Reza a lenda que Adão terá trazido alguns frutos quando foi expulso do jardim do Éden, dentro os quais se destaca o “ouro verde”, que viria a ser conhecido apenas por pistácio. Esta associação ao paraíso criado por Deus, tal como é descrito na Bíblica, deve-se ao seu sabor único, intenso e, ao mesmo tempo, delicado.
Evidências arqueológicas datadas por volta de 7000 a.C. na Turquia e na Síria indicam que já o pistácio já era bem popular naquela época, sobretudo pela nobreza — daí a ligação com um dos metais preciosos: o ouro. Contudo, foi em Itália que o fruto conquistou a popularidade que tem hoje em dia. O entusiasmo dos italianos resultou num aumento significativo da produção, especialmente na região de Bronte, na Sicília, que recebeu a denominação de origem protegida (DOP) para os seus pistácios.
Hoje em dia, a popularidade do pistácio parece estar mais alta do que nunca. Um quilo deste fruto ao natural custa cerca de 25€ em qualquer supermercado. O valor tem aumentado nos últimos anos devido a três fatores principais: o clima específico, a procura e o complexo processo de extração.
Uma árvore de pistácio precisa de cerca de sete anos para alcançar a altura necessária para dar fruto. Além disso, exige temperaturas específicas para os meses de verão e de inverno. Nas estações quentes precisa que os termómetros estejam acima dos 31 graus, para que os frutos maturem; e no inverno prefere que as temperaturas fiquem pelos 7 graus, para estimular as gemas. A planta não se dá em solos áridos, nem de áreas húmidas, mas suporta um alto nível de salinidade — condições que se conseguem sobretudo em países como Irão, Turquia e Estados Unidos. Isso implica gastos maiores na importação do fruto para qualquer outra região do mundo.
O segundo ponto que encarece a produção deste fruto seco está na própria complexidade do processamento. Dentro das várias etapas que a oleaginosa precisa de passar antes chegar àquele botão verde, que depois é transformado em creme, há algumas bastante complicadas. Ainda no produtor, o pistácio tem de ser tratado para eliminar a deterioração precoce, bem como a formação de mofo e bolor. Os pistácios frescos precisam também de vários cuidados para que sejam entregues de acordo com os parâmetros de qualidade. No caso dos exemplares que passam por uma torra, antes têm de ser descascados delicadamente, um a um. Tudo isto tem impacto nos custos da produção, que aumentam consoante a procura.
Os números não deixam enganar. A produção mundial de pistácio somou um milhão de toneladas de produto com casca, em 2022, de acordo com os últimos dados recolhidos. O volume é o triplo das 345 mil toneladas obtidas em 1994, mas insuficiente para acompanhar o crescimento da procura de 12,3 por cento ao ano estimado pela Euromitor International para o segmento de nozes, castanhas e frutos secos.
O Irão destaca-se como o maior produtor de pistácio, com uma colheita anual de 269,3 mil toneladas. Os Estados Unidos ocupam a segunda posição do ranking dos maiores produtores mundiais, com uma produção estimada de 199,4 mil toneladas, seguido pela Turquia, com 100 mil, China, com 51,5 mil e Síria com 44,5 mil, segundo dados da FAO (sigla em inglês de Food and Agricultural Organization).
A cultura do pistácio é ainda pouco explorada em Portugal, até porque necessita do tal clima apropriado ao seu desenvolvimento. No entanto, existem várias marcas a explorar os terrenos no interior do País, em cidades como Castelo Branco, Fundão, Beja, Vila Real e Évora.
Os benefícios do pistácio
Além do sabor exótico e peculiar, o fruto seco tem vários benefícios para a saúde. “É rico em potássio e magnésio, dois nutrientes importantes para a saúde ocular, neural, bem como para o controlo da glicemia”, como explica à NiT a nutricionista Rafaela Teixeira.
Os benefícios do pistácio não se ficam por aqui. “Dada a sua composição em gordura, fibra e proteína, o consumo de pistácio em refeições com um elevado índice glicémico auxilia no controlo da quantidade de açúcar no sangue, o que é ótimo para prevenir a diabetes”.
Já os antioxidantes presentes neste fruto ajudam a diminuir o risco de doença cardiovascular. E ainda contém luteína — um carotenoide importante para a saúde da pele —, que se revela um bom aliado para quem gosta de manter uma tez iluminada e jovem.
A melatonina também faz parte da sua composição. É, aliás, como indica a profissional de nutrição, “um dos frutos oleaginosos com maior teor deste nutriente”. Rafaela Teixeira acrescenta: “É uma hormona produzida pelo nosso organismo, sobretudo à noite. É reconhecida por beneficiar o sono e tem, também, um papel muito importante para a saúde reprodutora, uma vez que tem um elevado poder antioxidante, beneficiando a saúde dos ovários e a fertilidade”.
Apesar das suas propriedades, o pistácio é um fruto seco oleaginoso muito calórico e com um elevado teor de gordura saturada. Por tudo isto, a ingestão diária em excesso não é recomendada pelos nutricionistas.
“Todos benefícios mencionados anteriormente devem ser considerados no contexto de doses de consumo adequadas. Outro fator importante é que ser ingerido ao natural, uma vez que o sal é prejudicial não só para a saúde cardiovascular, mas também aumenta a excreção de cálcio”, sublinha a especialista.